Karol Conká fala sobre seu novo disco 'Ambulante'
Foto: Larissa Zaidan/VICE

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Karol Conká riu e chorou fazendo 'Ambulante'

A cantora curitibana conta sobre como perdeu o medo de expôr seu lado vulnerável durante o processo de gravação de seu segundo álbum.

Durante os quatro meses que precederam o lançamento de Ambulante, Karol Conká e o produtor Boss in Drama se encontravam toda quarta-feira para trabalhar no disco. Numa dessas semanas, Boss chegou à casa da cantora e perguntou como ela estava se sentindo. Karol respondeu que estava com saudades do ex-namorado. Os dois abriram um vinho, o produtor começou a trabalhar numa batida meio reggae e Karol cantou por cima. Foi desse momento deprê que saiu “Saudade”, uma das faixas do disco novo da cantora, Ambulante, lançado nessa quinta (8).

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“Ainda chorei, que idiota! Mas eu fiz essa música e aliviou, depois nem senti mais saudade dele”, me disse Karol, rindo, sobre o episódio durante uma entrevista no começo da semana.

Esse tipo de momento emocional é raro pra Karol, pelo menos publicamente. Lembro que, quando a entrevistei no ano passado, ela disse que “não tinha tempo pra ser vulnerável.” Isso ficou claro desde que a curitibana começou a dar as caras com seus primeiros álbuns e sons, principalmente Batuk Freak, de 2013, e os singles “Tombei” e “É o Poder”, hits cujas forças vieram principalmente da personalidade, autoestima e presença de Karol.

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Fotos: Larissa Zaidan/VICE

Depois de borrar as linhas entre o papel de rapper e o de cantora pop, Karol começou a extrapolar seu papel de artista pra apresentar programas de TV, participar de desfiles de moda e atuar em publicidade. A programação intensa encheu sua agenda e acabou atrasando sucessivamente as gravações de Ambulante, que a cantora anunciou originalmente em 2016. “Um belo dia, sentei com o Boss in Drama e falei: cara, tô com dificuldade de parar pra fazer esse álbum. Quando ele perguntou o que faltava, respondi que era um produtor que mergulhasse no meu universo. Ele disse: eu sou essa pessoa, vamos tentar?”

A parceria da dupla, que começou em 2013 quando Boss mandou um e-mail pra Karol pedindo por uma parceria e desembocou em uma amizade próxima, rendeu bons frutos pra Ambulante. Eles já tinham trabalhado em alguns singles juntos — como “Farofei” e um cover-remix de “Cabeça de Nego”, som do Instituto com o Sabotage — mas a parceria fica muito mais versátil no disco: além do tradicional pop-EDM que já tinham feito juntos (e que, aqui, aparecem no single “Kaça” e em “Bem Sucedida”), Ambulante traz reggae, R&B, trap e tudo o mais que veio à mente dos dois durante aqueles quatro meses.

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“Foi tudo muito natural. Como tenho um leque de influências na minha cabeça, os ritmos foram vindo. E tudo o que eu pedia ele fazia, ele é um gênio. Não acredito que ele era tudo isso e a gente não viu”, fala a cantora, que destaca a naturalidade de seu trabalho com Boss comparado com outros produtores com quem já tinha colaborado – seus primeiros singles foram produzidos pelo Nave e, alguns dos singles, pelo Tropkillaz. “[Com o Boss], um ia puxando o outro, um extraía o melhor do outro. Isso é mega importante pra uma artista como eu, se não ela trava. Com outras pessoas, eu tinha essa trava.”

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Foto: Larissa Zaidan/VICE

Além de “Saudade”, o R&B meloso “Desapego” e a faixa meio disco “Você Falou” são outros momentos em que Karol canta sobre um relacionamento passado e se mostra um pouco mais sensível. “Eu me apaixonei, e eu não gosto de me apaixonar, porque eu fico frágil e boba. Eu fiz essas músicas e me senti meio boba, mas gostei disso. ‘Saudade’ ia ficar de fora, mas gostei de mostrar esse meu lado choramingando”, fala. Em “Vida que Vale”, faixa co-composta por Don Cesão, Karol diz que escreve “para cicatrizar feridas.”

Essa abordagem de música-como-terapia, que faz a cantora mostrar seus momentos de vulnerabilidade, também é o que a leva a cantar sobre vitórias e poder. No release de Ambulante, escrito por ninguém menos que a Elza Soares, a cantora diz que o disco tem “o sorriso sorrateiro de quem vence.” “Não há tempo e energia pra gastar com tanto pessimismo, então vejo o lado bom. Se eu contar minha história e meu lado triste, todo mundo vai ficar chorando. Mas se eu contar o lado legal da minha vida, as pessoas pegam força disso pra ficarem melhores”, fala Karol. “Eu gosto de ser esse combustível. Se eu não fosse artista, ia ser terapeuta [risos].”

Depois do lançamento do disco, Karol quer voltar dar uma de Beyoncé — lançar clipes para as dez músicas do álbum — e voltar à estrada pra apresentar as faixas novas ao vivo. Mais do que tudo, está curiosa pela reação dos fãs às personas tristes, felizes, divertidas, sensuais e românticas que ela mostra em Ambulante. “Eu gosto muito do público, de ver o rosto das pessoas. Adoro ver eles e ouvir eles — tô louca pra receber todo mundo no camarim e saber o que eles estão achando.”

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