No centro da foto, um homem ajoelhado, mãos pra trás, tem o queixo erguido enquanto uma faca corta seu pescoço. O retrato, feito por autor desconhecido, registra a degola de um um revoltoso durante a Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul, em 1894. Hoje, mais de um século depois, a cena não parece tão distante das cabeças que vimos rolar durante a crise do sistema penitenciário no Brasil no começo de 2017.
Esse Brasil em conflito, um país pouco pacífico, é tema da exposição Conflitos: fotografia e violência política no Brasil 1889-1964, que será aberta no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro neste sábado (25). Separada em 15 temas, a mostra reúne 338 imagens em que é possível ver revoltas populares, a ação das Forças Armadas e inúmeras tentativas de golpe de Estado no país.
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O recorte da exposição, que reúne imagens da Proclamação da República ao Golpe de 1964, é a ação das Forças Armadas no Brasil. Heloisa Espada, curadora da mostra e coordenadora de artes visuais do IMS, me diz por telefone que as imagens expostas têm um paralelo com o Brasil atual. “Estamos vivendo um momento super conflituoso e sempre conseguimos achar uma raiz na história.”
Para a curadora a mostra “não é um retrato de um país feliz, é o retrato de um país em convulsão, onde há muita luta, luta de classes e muita gente em busca do poder”.
A exposição também lança luz na história da fotografia documental no país. Isso porque, como me conta Espada, a autoria de fotógrafos no Brasil é algo tardio. Entre as fotografias expostas, muitas delas não possuem autor conhecido e outras tantas são de profissionais amadores da sua época. “O que é mais revelador [na exposição], é que só nos anos 1960 se começou a ter uma preocupação em colocar os créditos dos fotógrafos nos jornais, por exemplo.”
A ideia da mostra, diz Espada, “é fazer as pessoas refletirem sobre por que a sociedade chega a um nível de violência tão extremo. O que está em jogo para decapitar a cabeça de alguém? É uma reflexão sobre os poderes em jogo”. A exposição tem entrada gratuita. Conflitos chega a São Paulo em maio de 2018.
Conflitos: fotografia e violência política no Brasil 1889-1964
Abertura: 25 de novembro, às 18h, com visita guiada pela curadora
Visitação: 26 de novembro de 2017 a 25 de fevereiro de 2018
De terça a domingo, das 11h às 20h Entrada franca – Classificação livre