O logradouro que homenageia o fundador da cidade de Osasco, a Rua Antônio Agú, deixou de ser apenas uma rua como outra qualquer para dar espaço ao que hoje é um dos maiores comércios a céu aberto do país, o Calçadão de Osasco.
Idealizado na década de 1970 e entregue à população da cidade da Grande São Paulo nos anos 1980, o Calçadão abriga aproximadamente 1.500 lojas, um shopping center e, claro, várias barraquinhas de cachorro-quente, o prato típico oficial da cidade.
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Faça chuva ou sol, as barraquinhas funcionam de segunda à sábado e são comandadas predominantemente por mulheres, as ‘doguetes’. Quem passa pelo calçadão, sabe que pode escolher entre o cachorro-quente tradicional, completo ou no prato.
A variedade é o que diferencia uma barraquinha da outra. É possível encontrar opções que vão além do corriqueiro pão de banha com salsicha, purê de batata, vinagrete, batata palha ketchup e mostarda. Alguns dogões ganham cobertura de catupiry, cheddar ou queijo ralado. E tem até um cachorro-quente de 30 cm, por exemplo.
A média do preço do dogão simples é de R$ 3. O completo (geralmente com duas salsichas) custa o mesmo que a passagem de ônibus em Osasco, R$4,20. Os dogões mais recheados chegam a custar até R$ 10, em média. Por dia, são vendidos cerca de 40 mil lanches pelos 135 carrinhos, informa a prefeitura da cidade.
Para comemorar o Dia Nacional do Cachorro-Quente, fomos até a ‘cidade de Oz’ para sacar como a iguaria é feita e falar com o pessoal que trabalha lá alimentando os loucos por hot dog.
Bem na frente da estação de trem de Osasco, as doguetes Crislay Martinez, 37, e Edna Silva, 27, agitam alegremente a barraquinha em que trabalham. Sorrisão no rosto, elas preparam todos os pedidos quase que de olhos fechados. Cris está no ofício há mais de 16 anos e conta que a “facilidade da prefeitura em liberar as licenças principalmente para deficientes e idosos como segunda renda” contribuiu para a proliferação de barraquinhas pela cidade. “Tem gente que só vem para comer o hot dog de Osasco”, ressalta.
Edna não se recorda há quanto tempo está à frente da barraquinha e diz que não existe treinamento: “entrou tem que aprender; aqui aprende rápido”. A correria faz com que as doguetes não saiam da barraquinha se não for para pegar um insumo com outra colegas. “A gente não tem hora de almoço, come aqui na raça”, revela.
Elas explicam que nem todo mundo sabe que existe uma estrutura para manter a ‘indústria do cachorro-quente’. “Um carrinho desse sustenta a minha família, a família dela [Edna], o dono do carrinho e a família dele, a mulher que lava, o cara que puxa, os funcionários do estacionamento, a pessoa que entrega as mercadorias, do pão, o fornecedor do gás e o cara que faz o carrinho. [O calçadão de Osasco] dá oportunidade para muitas pessoas”, detalha Crislay.
A estudante do ensino médio Millena Azevedo, 17, passa todo dia por uma barraquinha de cachorro-quente ao sair da escola e seguindo para o cursinho pré-vestibular. Ocasionalmente, ela come em uma das barraquinhas do Calçadão, mas a sua favorita fica na rua do colégio em que estuda. Millena acredita que as pessoas escolhem comer em Osasco porque “além da variedade, é mais barato”.
Na barraquinha do senhor Sérgio da Silva, 51, a média de vendas é atípica: “um dia a gente vende 300, outro dia 100, tudo varia, é tipo comércio”, esclarece. “Nós preparamos a barraca para vender 600 por dia. Tudo é muito perecível e todo alimento é reposto diariamente. O importante é o cliente sair satisfeito e o cachorro-quente gostoso.”
Se você tá em São Paulo, o jeito mais rápido para chegar no Calçadão é usar o trem da linha 9 – Esmeralda da CPTM. Saiu da estação, você vai dar de cara com as centenas de barraquinhas da capital do nacional do cachorro quente. Vai que é fera.