Foto de Foxy por Charlie Pycraft; foto de webcam por John James / Alamy Stock Photo.
Quit Your Shit Job é uma coluna que entrevista pessoas que largaram seus trabalhos comuns para fazer algo que realmente queriam. Esta semana, falamos com a camgirl de Londres Foxy (aka Foxtress). Ela largou um emprego exaustivo como professora e recrutadora para se tornar uma webcammer profissional.VICE: O que você fazia antes?Foxy: Eu trabalhava meio período como professora de escola primária. Eu dividia meu tempo entre isso e um trabalho de recrutamento.Por que você não gostava?O salário não compensava o tanto de energia emocional que é preciso para ensinar bem, e fiquei frustrada com o sistema. Minha principal motivação para ser professora era passar tempo com os alunos e ajudá-los. Mas eu sentia que meu tempo estava sendo tirado de mim e colocado em burocracia. O trabalho de recrutamento era um show de horrores.O que você faz agora?Sou camgirl. Sou o que é conhecido como uma switch, que significa basicamente que posso fazer o papel de submissa e dominante, o que é considerado bastante incomum.Teve um momento de estalo?Cheguei numa encruzilhada onde tive um burnout e precisava muito de mudança. Sempre gostei do lema “impulso é divertido”, então decidi jogar a toalha e começar de novo. Um pouco antes disso, conheci minha agora melhor amiga, que é dominatrix profissional. Eu já tinha feito algum camming, e ela me encorajou a investir nisso. Ela me deu muito apoio, me arrumou uma conta no AdultWork [o principal site para artistas de cam] e até me emprestou a webcam dela.Muita gente tem essa ideia de que camgirls são passivas e só fazem o que os homens dizem do outro lado da tela, mas não é assim! Sério, raramente tiro a roupa hoje em dia. Poder colocar limites claros sobre o que vou e não vou fazer me deu uma sensação de confiança sobre meu corpo e meu bem-estar que eu não tinha antes.Trabalho sexual realmente salvou minha vida. Depois de uma infância traumática e alguns relacionamentos tóxicos com homens na vida adulta, esse trabalho me ajudou a sentir mais no controle do meu corpo e o que acontece com ele. Meus clientes me tratam melhor que alguns ex-namorados, e me sinto valorizada e aceita no meu trabalho.Como o trabalho funciona?Os clientes se conectam através de um site, onde eles podem escolher o que querem ver em termos de gênero, preferências físicas e sexuais, incluindo dominante ou submisso. Ligo minha câmera em casa quando estou disponível, e o site manda um tuíte para meus seguidores no caso deles quererem assistir. Cobro por minuto – escolho quanto cobro e pago uma porcentagem para a plataforma.O que você mais gosta no seu trabalho?Acho que o maior benefício pra mim é a flexibilidade. Posso encaixar o trabalho na minha vida em vez do contrário. Sofro com a minha saúde mental, e esse trabalho me permite parar quando preciso. Adoro não estar presa naquela estrutura de trabalho comum de segunda a sexta, das nove às cinco. Sou um espírito livre e me entedio fácil, então nunca me dei bem com rotina.Acho que outra coisa incrível em termos do meu bem-estar mental é que, basicamente, esse é um trabalho que encoraja interação humana – tanto pra mim quanto para o cliente. Poder me conectar com as pessoas e ajudá-las a socializar é um grande bônus. Alguns dos meus clientes têm deficiências físicas e mentais e não saem de casa com frequência.Tem um lado ruim?É uma coisa “vai ou racha” por natureza. Você pode ter uma semana ótima e a próxima semana ser morta e você não ganhar quase nada. De maneira similar, você pode ligar sua câmera e ficar sentada lá 18 horas e não conseguir trabalho, ou pode trabalhar por duas horas e fazer £100 ou mais. Ah, e a manutenção física é cara! Estou sempre tendo que pintar o cabelo, fazer as unhas e comprar novas lingeries e acessórios.Também pode ser um negócio muito solitário. Pela lei atual do Reino Unido, trabalhar como camgirl é legal, mas só se você trabalhar sozinha. Se duas camgirls estão na mesma sala, operando câmeras separadas e interagindo com duas pessoas diferentes, isso é considerado um bordel sob a legislação atual. Então somos obrigadas a ficar sozinhas o dia todo para evitar processos.Por isso eu – e muitos outros – defendemos a descriminalização do trabalho sexual no Reino Unido. Já é hora do governo apoiar aqueles que trabalham nessa indústria e modificar essa legislação datada.Você tem histórias engraçadas?Já fiz homens enfiarem o pau em latas de xarope – um doçura!
O que você gostaria de saber sobre seu novo trabalho antes de ter começado?Como é difícil realmente prosperar na indústria – não que isso teria me impedido de tentar. Também decidi não compartilhar o que faço com a minha família, principalmente para evitar as infinitas perguntas que eu teria que responder. A maioria das pessoas próximas acham OK, mas não seria ótimo viver num mundo onde trabalho sexual fosse tão socialmente aceito quanto ser um profissional de medicina?Qual o conselho que você daria para alguém que quer entrar para o camming?Entre no Fetlife, que é basicamente um Facebook para o mundo do BDSM. Se conecte com as pessoas e leia os posts delas, depois vá a quantos eventos puder e fale com as pessoas. Tem sempre “munches” acontecendo, que são encontros para pessoas BDSM em pubs. É um ótimo lugar para fazer amigos, conhecer clientes em potencial e aprender mais sobre o trabalho.Dê uma nota de 0 a 10 para sua vida antes e agora:Antes era um três – no máximo. Eu não tinha confiança, me sentia feia todo dia e como se fosse sempre uma outsider. Eu me sentia miserável. Agora é mais 7 ou 8 – ainda não estou onde quero, mas estou feliz. Estou determinada a chegar no 10 num futuro próximo, pode acompanhar!Que conselho você daria para pessoas que odeiam o emprego?Se tem outra coisa que você gosta mais, vá lá e faça! Só vivemos uma vez, e uma vez é suficiente se você fizer direito.@RoseStokesSiga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.
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O que você gostaria de saber sobre seu novo trabalho antes de ter começado?Como é difícil realmente prosperar na indústria – não que isso teria me impedido de tentar. Também decidi não compartilhar o que faço com a minha família, principalmente para evitar as infinitas perguntas que eu teria que responder. A maioria das pessoas próximas acham OK, mas não seria ótimo viver num mundo onde trabalho sexual fosse tão socialmente aceito quanto ser um profissional de medicina?
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