No último sextou do horário de verão, no dia 15 de fevereiro, todo o meu ciclo social estava desesperado. Afinal, não basta vivermos em um momento politicamente difícil no Brasil, temos que aguentar o fim do horário de verão também.Como todas as pessoas normais desse país, aqui na redação a galera também estava sofrendo pelo fim da melhor época do ano. Foi aí que dei o primeiro passo para a rebelião contra o sistema, e soltei a frase: “Por que a gente precisa aceitar isso? Se não aceitamos o fim do horário de verão, vamos viver nele.” Óbvio que todo mundo riu, todo mundo achou genial, todo mundo me incentivou, mas ninguém fez. Porém, acreditei tanto na ideia que resolvi entrar nessa sozinha.
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Nessa última semana passei a negar todos os relógios públicos, obriguei meus colegas a almoçarem cedo, limpei a minha imagem de atrasada no rolê e, finalmente, sinto que fui útil para a resistência do Movimento Contra o Fim do Horário de Verão.
E posso garantir: estou bem feliz. Nessa época do ano, vivemos dias mais longos e noites mais curtas pra reduzir o consumo de energia. Só que além disso, cientistas que debatem sobre o assunto afirmam que a medida melhora o estado psicológico das pessoas, diminuindo até a incidência de suicídio nessa época do ano.Foi a melhor coisa que fiz, e juro que estou pensando seriamente em continuar mesmo depois da publicação desta matéria. Não quero influenciar meus leitores, mas viver perigosamente no horário de verão é legal, sim. O ruim é quando ninguém está vivendo junto e te vêem como louco por você estar negando uma solicitação governamental e vai contra essa pressão social e seus respectivos costumes.No primeiro dia, claro que foi difícil acordar “mais cedo que o normal”, mas depois de um tempo comecei a ressignificar o que é o tempo pra mim e quais seriam minhas referências de horário. Desde o dia que acordo mais cedo que o normal, nada mudou, só os relógios do Brasil inteiro. Se o meu não mudou, eu não acordei mais cedo que o normal. Eu só acordei no mesmo horário de sempre.
Foi aí que resolvi definir meu relógio de pulso como minha única referência. Esse Cassio rosé que consegui por R$ 25 no metrô nunca foi tão útil pra mim como nessa última semana. Afinal, ninguém comprou a ideia, a não ser eu mesma. Aqui vão os pontos positivos que observei durante uma semana:
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Eu comecei a chegar com antecedência nos meus compromissos
Virei a aluna que chega mais cedo, pega chamada e vai embora no meio da aula
Se você já fez faculdade algum dia ou está fazendo, sabe do que estou falando. Tem aquele professor chatão que passa a lista de presença no último minuto, e tem outros que não ligam pra isso. Sobre esses mais exigentes, tive que burlar o combinado e esperar até o final da aula. Afinal, a gente é ativista sim, mas pra algumas coisas não dá.
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