ilustração semana de saúde mental
Ilustração: Flora Próspero

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Semana da Saúde Mental

O que você faz para se livrar de uma crise de ansiedade?

Histórias de pessoas ansiosas podem te ajudar a lidar com momentos de apreensão e instabilidade.
Flora Próspero
ilustração por Flora Próspero

Deitar debaixo da cama. Ligar para um amigo. Comer compulsivamente. Sair para passear com o cachorro. Fumar maconha. Tomar remédios. Preparar um chá. Poderia passar o dia inteiro enumerando coisas que as pessoas fazem para melhorar de uma crise de ansiedade, mas existe algum método cientificamente recomendado?

De acordo com a psicóloga social Camila Rodrigues, a ansiedade pode ser descrita como um estado emocional de desconforto em que aparecem sentimentos de medo, pânico, angústia ou apreensão, normalmente relacionados à antecipação de algum tipo de perigo.

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Ela explica que, diante de uma situação desconhecida ou de temor, o corpo se prepara e reage nesse sentido. É uma espécie de superestimulação. O organismo se estressa para se proteger. Existem pessoas mais ansiosas do que outras, claro, mas há também transtornos de ansiedade e outros distúrbios que podem apresentar sintomas ansiogênicos, como a depressão.

De acordo com Rodrigues, um bom critério para saber se a crise ansiosa é uma reação normal ou algo mais severo, precisamos avaliar três indicadores: 1) por quanto tempo ela acontece; 2) qual o estímulo que a causou: se é imediatamente anterior à crise ou se aconteceu há muito tempo; 3) se ela é proporcional a esse estímulo, ou seja, pensar sobre o que a causou e ir tentando "racionalizar" a situação.

Dicas boas para sair da crise, diz a psicóloga, são fazer atividades prazerosas, como ouvir música, dançar, tomar chá. “Quando nenhuma dessas técnicas ajudam a aliviar de maneira imediata, a pessoa precisa de ajuda”, conta ela.

A psicóloga afirma que, em todas as situações de crise, o ideal é chamar alguém de confiança. “Esta pessoa pode te ajudar a respirar, pois técnicas de respiração são comprovadamente formas de aliviar as tensões do corpo”, diz. “Distrair o pensamento do estímulo ansiogênico, ou seja, daquilo que te causa a crise, também é importante."

Viver sem ansiedade é quase impossível, mas aprender a lidar com ela é algo que todos devemos estar preparados. Separamos, então, algumas lições aprendidas por pessoas ansiosas.

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“Cozinhar é algo que me ajuda. Mas o primeiro passo foi sair do quarto”

Michele Maia, produtora cultural

“Em momentos em que eu estava muito fragilizada, com medo de morrer, medo das pessoas, tentei medicação, mas não funcionou. Me deixou muito pra baixo e com muita sonolência. O que funcionou mesmo pra mim foi me dedicar a coisas que eu gostava: cozinhar! Cozinhar me deu muita energia. Então decidi que sempre iria cozinhar a comida do meu dia. Depois comecei a fazer exercício físico, que hoje tem sido essencial. E passei a fazer terapia. Mas o primeiro passo que funcionou foi sair do quarto! Ver as pessoas, a vida lá fora, caminhar, comer uma comida gostosa, nem que fosse o misto quente da padaria do lado."

“Já tomei até Ayahuasca”

Natália Cunha, comunicóloga

“Comecei a ter crises de ansiedade em 2016, quando estava fazendo o TCC para a faculdade. Achava que eu teria que tirar um 10. No início, pensei que era procrastinação, mas logo virou uma grande bola de neve. Por conta de um post no Facebook de uma moça psicóloga que conheço, percebi que eu precisava de ajuda profissional. Comecei também a praticar Yoga e Meditação. E já tomei Ayahuasca, que me ajudou muito.”

“Eu costumava me arranhar, pois a dor externa aliviava a dor interna”

Mariana Calazans, professora e pedagoga

"Sempre fui muito ansiosa. Se acontecesse alguma situação em que eu tivesse que esperar algo, eu simplesmente não conseguia comer ou dormir. Era um nível de estresse absurdo. Em situação de crise eu me arranhava, pois era como se a dor que eu sentia externamente aliviasse a dor interna da crise. Não só dor, mas a sensação de aflição que eu precisava externalizar. Pra me livrar dessa situação comecei a procurar soluções. E uma delas foi a academia. Com pilates e relaxamento melhorei muito. E passei a usar a respiração como ferramenta, além de colocar alguma música que eu gostava."

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“Escuto a trilha sonora do filme 'Her' ou conto números de forma aleatória"

Tiago Pinho, cineasta

“Já fiz de tudo um pouco; ainda faço. Mas quando começou a ser mais constante, tive de identificar os gatilhos e criar rotinas de inibição. Entre elas, ouvir a trilha sonora do Her ou do Interestelar (basicamente qualquer coisa do Hans Zimmer); jogar Plants vs Zombies ou xadrez, além de tomar chá de pepino ou camomila. Ou também ligar para pessoas em quem eu confio, que não são muitas. Ah, tem uma que descobri recentemente: fazer uma contagem não crescente, aleatória: 4, 17, 5, 9, 12…”

“Já tentei até cura xamânica”

Henrique Zlokovic, ator

“Quando tive crises mais intensas, procurei ajuda de amigos ou psicólogos para conversar. Pois, às vezes, uma palavra de conforto já aliviava, estoura a bolha e distrai. Dormir também é um ótimo recurso de fuga. Das crises mais intensas que tive, quebrei objetos em casa e foi preciso chamar a psicóloga para acalmar e medicar. Essa agressividade partiu da frustração em não conseguir lidar com a ansiedade extrema e irracional. Já tomei remédio, fiz terapia, meditação e já tentei até cura xamânica.”

“Fumo e como compulsivamente, até mastigo madeira”

Bruno Augusto Faria, professor de História

"Quando eu tinha 18 anos, minha primeira crise foi por um motivo muito besta, mas fui parar no hospital, tomei Lexotan, com falta de ar, andando de um lado a outro, e sem entender o que acontecia. Hoje em dia, quando começo a estudar, costumo ficar muito ansioso e com falta de ar, daí eu fumo e como compulsivamente, inclusive até mastigo madeira. São coisas que me ajudam a aliviar. Eu nunca fui em psicólogo, mas a forma que que deixo isso não controlar a minha vida é assim."

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