Não fossem as eleições europeias e esta final teria sido o assunto da semana (do mês, se fosse preciso) para os portugueses. Assistir a uma final entre os eternos rivais, o dérbi madrileno em pleno Estádio da Luz e com quatro portugueses em campo (um deles o maior do mundo) é daquelas raridades de que ninguém quer abdicar. Estes momentos costumam ser memoráveis por muitos motivos e como nunca se sabe quando voltaremos a ter uma final em Portugal, o melhor é mesmo marcar presença.
Desde muito cedo que os adeptos começaram a chegar ao estádio da Luz. A maior parte dos acessos estavam cortados e vieram sobretudo de metro, esmagados uns pelos outros. Por volta das 14 horas (cinco horas antes do jogo) as televisões começaram a anunciar que já havia milhares de adeptos de ambas equipas em redor do estádio. Pode ser difícil compreender o porquê de se estar no estádio tantas horas antes do jogo começar mas estando lá percebemos uma boa parte do fanatismo reside no divertimento. Beber whisky quente pela garrafa, enrolar uma erva com os amigos ou dar uns toques com um spider-man preto fazem parte de uma boa tarde de futebol. Esqueçam os confrontos entre rivais — provocações e troca de insultos é algo aceitável, cenas físicas nem por isso.
Ninguém está verdadeiramente preocupado com o modelo de negócio da FIFA, mas parece muito difícil falar em lucro de bilheteira num evento deste calibre. Durante a tarde, sucediam-se as comitivas de VIPs que iam, às centenas e de forma ininterrupta, chegando ao estádio. Um desses senhores decidiu vir para a final da Champions, dérbi madrilista, com uma camisola do Barcelona. Talvez fosse futebolisticamente ignorante ou só estúpido (a segunda hipótese) porque depois de despertar a ira nos adeptos, decidiu gozar com todos, acenar e glorificar-se pela façanha sob ameaças como arrancarle la cabeza.
Tirando isto, nada de interessante aconteceu. Os adeptos mantiveram-se pelas imediações do estádio, um pouco por todo o lado, da rotunda que dava acesso às garagens do estádio até à loja de conveciência ao lado da redacção do Correio da Manhã.
Mas, espalhados pela cidade, havia muitos outros milhares de adeptos. Adeptos que vieram até Lisboa sem bilhete para dar aquela força extra a partir de um qualquer hotel ou restaurante da capital. A Cãmara Municipal pensou em tudo e pôs dois ecrãs gigantes, bem distantes para que tanto os hinchas Atlético de Madrid como os do Real Madrid pudessem ver o jogo sem provocações. Acompanhei a minoria e fui até ao Parque Eduardo VII (os adeptos do Real estavam na Praça da Figueira). Quando cheguei o Atlético já estava a ganhar. O ambiente era de festa e, aparentemente a coisa estava entregue, ao ponto de me oferecerem bar aberto a partir dos seus termos azuis.
Mas o Real marcou no último minuto e depois disso marcou mais três. A desilusão foi geral. Arrumou os adeptos que fugiram dali e lixou o negócio de quem estava a explorar o espaço. Os rojiblancos arrastaram-se em direcção ao Marquês. Pelo caminho vi muitos adeptos já nos carros (improvisados de caravanas) a beber la ultima cerveza
A “festa” do Real fez-se no Rossio, onde estavam algumas centenas de adeptos a curtir o mais que podiam. Ainda conheci dois amigos com uma bandeira que à primeira vista me pareceu ser da Palestina mas que afinal era da Extremadura. Estavam eufóricos pela vitória mas tristes por não haver marcha para mais. Ontem dormiram no carro (pareciam agradecidos pela hospitalidade portuguesa e os 2000 euros por um quarto que se pediu este fim-de-semana).
Mesmo no final pareceu-me estar a assistir a umas daquelas after parties repletas de degredo, em que já só restam meia-dúzia na pista, a curtir tudo, enquanto a maior parte do pessoal que ainda se aguenta ou está bêbedo ou está à espera de um golpe de sorte. Eram horas de vir embora.