O ano novo dos lutadores de muay thai da Tailândia

1º de Janeiro de 2016

Província de Surin, Tailândia

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A virada do ano na Tailândia é uma celebração que vai além dos fogos na noite do dia 31. Por lá, a festança dura vários dias. Pessoas de todas as regiões do país comemoram a data com danças, tira-gostos típicos e, claro, muitas bebidas. Quer dizer, nem todas. Para a comunidade de muay thai, no nordeste rural, é temporada para uma coisa só: lutas. Muitas lutas.

São milhares de embates mesmo. Em Isaan, região conhecida como berço da grande maioria dos lutadores da modalidade do país, é comum que combatentes de todas as idades lutem diversas vezes durante as festas. O motivo do aumento é que o governo banca tudo. Moradores fazem doações extras para os templos controlados pelas autoridades, que, por sua vez, retribuem ao transformar os locais em palcos para lutas gratuitas.

Para quem tem o muay thai como ganha-pão, trata-se de uma época frenética e empolgante. É hora dos lutadores adquirirem experiência no ringue e, de quebra, arrecadarem extra para suas famílias. É tempo também de donos de academias e promotores aproveitarem para expandir suas redes de contato e criarem reputação.

“Muitos dos lutadores aqui lutam uma vez por mês e pronto”, afirma Boom Watthanaya, dono da Wor. Watthana, uma pequena academia em um vilarejo rural na província de Khorat. “Mas às vezes o problema é que não há muitos eventos rolando ou os lutadores não têm experiência o suficiente ou o peso certo. Pode ser bem complicado para conseguir boas lutas. Então é preciso que aceitem as oportunidades que surgem.”

Ex-lutador, Boom tem experiência nas lutas consecutivas como as que ocorrem durante as festividades. Ele sabe bem o que seus lutadores passam.

“Não é saudável para seus corpos, com certeza”, afirma Boom. É pesado para todos os lutadores, afirma, independente de idade ou experiência. “Podem até se ferir. Não há tempo para descansar.”

Lutas frequentes em feriados e festas costumam acontecer no interior, longe das grandes arenas em Bangkok, a capital. Segundo o regulamento profissional, os lutadores devem fazer intervalos obrigatórios de três semanas entre lutas. Fora dos centros, porém, regulamentos como esses nem sempre são seguidos.

Alguns lutadores aceitam lutas em qualquer dia durante as festas, mesmo com cortes, hematomas, fraturas e concussões. Alguns saem incólumes. Outros entram no ringue duas vezes por dia e só descansam nas viagens de carro entre uma luta e outra. Eles o fazem porque podem. Já tantos outros fazem porque tem que fazê-lo.

Tradução: Thiago “Índio” Silva