Anteontem, a página do LinkedIn da Neuralink compartilhou sua primeira atualização em mais de quatro meses, postando uma captura de tela de um tuíte recente do Elon Musk e reiterando que eles estão contratando. “Como o Elon mencionou, estamos procurando engenheiros para resolver problema difíceis com fones e outros acessórios”, eles escreveram. “O mundo fez muito para otimizar sinais de telecomunicações. Agora é hora de fazer o mesmo com sinais cerebrais.”
A empresa de São Francisco se descreve como uma desenvolvedora de “interfaces cérebro-máquina de ultra banda larga para conectar humanos e computadores”, que é um jeito complicado de dizer que eles querem implantar pequenos chips no cérebro das pessoas. A Neuralink foi cofundada por Musk em 2016, mas não tem compartilhado nada novo sobre sua missão ou seus progressos desde julho passado, quando eles postaram um vídeo de apresentação com trilha sonora de ODESZA, e Musk discutiu brevemente o conceito de implantar “fios” ultrafinos no cérebro para “alcançar um tipo de simbiose com inteligência artificial”.
Videos by VICE
No começo do mês, Musk tirou um tempinho de postar memes do Dogecoin para escrever uma atualização sobre um progresso da Neuralink que deve ser apresentado em 28 de agosto. Ele também respondeu pra alguém que perguntou se, depois de implementar o neuralink, seria possível “ouvir música diretamente do seu chip?” Musk escreveu simplesmente “Sim”, mas isso desencadeou todo tipo de especulação sobre se isso é possível mesmo, com o Neuralink ou qualquer outra coisa.
A ideia de transmitir som diretamente para sua cabeça sem fones de ouvido ou alto-falantes não é novidade: Beethoven aparentemente conectava uma ponta de uma haste numa caixa de ressonância dentro de seu piano e mordia a outra ponta para “ouvir” as vibrações. Alguns fones de “condução óssea”, implantes auditivos ancorados nos ossos e aparelhos auditivos funcionam de um jeito parecido, transmitindo vibrações através dos ossos do crânio para atingir o ouvido interno diretamente. Mas nada disso envolve implantar qualquer coisa diretamente no cérebro, e provavelmente não era o que Musk quis dizer quando digitou aquele “Sim” no Twitter.
A coisa toda de “chip que toca música na sua cabeça” também é o mais novo desvio do conceito original da Neuralink. Segundo o jornalista da Scientific American Gary Stix, quando a empresa foi lançada, a ideia era que a tecnologia deles poderia permitir que paraplégicos, amputados ou pessoas com danos cerebrais pudessem usar seus pensamentos para operar celulares e computadores.
Mas Musk tinha um sonho ainda maior, sugerindo que a Neuralink poderia se tornar uma mistura estilo Marvel de AI e cérebro, dando ao usuário “inteligência super-humana”. (Stix chamou a ideia de “um objetivo com mais hype que um plano real para desenvolvimento de nova tecnologia”. Noam Chomsky também sugeriu que “não tem como” uma tecnologia que existe hoje interpretar nossos pensamentos.)
É difícil especular o que Musk vai revelar na atualização do final de agosto. Ano passado, a Neuralink disse que tinha conseguido colocar um implante no cérebro de um rato, e sugeriu que testes em humanos começariam este ano — mas seu cofundador e presidente Max Hodak também reconheceu que o processo de implante atualmente envolve fazer quatro furos no crânio.Por um lado, poder pensar numa música e a ouvir diretamente na sua cabeça pode valer a pena. Por outro, com certeza há riscos. “Vocês querem mesmo usar implantes cerebrais feitos por um magnata bilionário da tecnologia”, uma voz da razão tuitou. “Esse não é o começo de todo filme de futuro distópico?”
Talvez. Ou talvez seja só um jeito de parar de se preocupar em perder um dos seus AirPods.
Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.