Alguém ouviu falar da última manif anti-troika?

Há vários motivos que explicam o que se passou no último sábado — parece mentira, mas a malta do Que Se Lixe A Troika só conseguiu mobilizar duas mil pessoas. Por um lado, os jornais não deram grande cobertura ao evento e, por outro, estamos todos demasiado cansados. O país ainda por cima está a entrar na silly season, e finalmente, o ministro das Finanças começou a falar em investimento. As coisas parecem estar, simples e inexplicavelmente, a acalmar.

A organização também terá tido a sua parte das culpas. As coisas parecem ter sido mal preparadas. A mensagem, na qual os portugueses não se reviram, dizia que estaríamos perante uma manif internacional. O trajecto acabou por ser fatal para a imagem que se quer transmitir e houve bastantes críticas nas conversas que se ouviram durante o percurso.

Durante aquelas quatro horas houve apenas um momento em que as coisas podiam ter sido diferentes. Foi em cima da hora, e a poucos metros do edifício onde está instalada a delegação do FMI, que a polícia avisou a cabeça da manif de que tinha sido colocado gradeamento à volta do edifício, grades essas que atravessavam a estrada — o que obrigou o cortejo a passar para uma faixa paralela. Isso incomodou os manifestantes que decidiram parar cerca de 15 minutos em frente ao dito edifício. Durante esse intervalo tempo houve alguma malta, com t-shirts anarquistas, que decidiu abanar as grades e ainda cheguei a pensar que iríamos ter uma manif a sério, mas os “anarquistas” desistiram passado pouco tempo e as grades mantiveram-se como estavam, de pé, perante o sorriso de quatro polícias que os olhavam sem receio.

Não foi ali que aconteceu algo de espontâneo e não seria em mais lado nenhum. O desfile lá continuou (já sem os desistentes que foram ficando pelo caminho). Como previsto, acabou na Alameda e foi naquele enorme lençol verde que se percebeu a pequenez do evento e as próprias fragilidades de um movimento que já teve Portugal na rua, mas que desta vez não conseguiu ter mais do que duas mil pessoas a desfilar em Lisboa.

No final, ainda houve coragem para mais alguns discursos e algumas cantorias. Nada de muito interessante. Não chegou para incomodar os turistas (que continuaram a relaxar na relva, como se nada fosse), quanto mais o governo.