Inteligência artificial ajuda a localizar cães e gatos perdidos do Brasil

Vira e mexe, nossas timelines são inundadas de mensagens desesperadas ou esperançosas que buscam resgatar animais de estimação perdidos. Mesmo mais eficazes que os folhetos espalhados por postes, as publicações online nem sempre dão resultado. Quanto maior a cidade, mais difícil fica.

Para tornar a busca mais precisa, pesquisadores da Universidade de Estadual de Campinas, em São Paulo, desenvolveram o CrowdPet, um app que conta com uma inteligência artificial própria capaz de catalogar e identificar os animais que estão na rua.

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O funcionamento do app é simples e se baseia no apoio comunitário. Usuários tiram fotos do animal de rua e publicam detalhes de localização no aplicativo. Mais tarde, quem for usar o app para recuperar o melhor amigo de quatro patas manda foto do seu bicho e a inteligência artificial analisa dentro do banco de dados se um animal com aquelas características já foi registrado por alguém.

Print do aplicativo. Crédito: CrowdPet.

“Inicialmente, pensamos em usar fotos de outras redes sociais como Facebook e Instagram, onde têm pessoas postando fotos direto. Mas caímos nesse problema: como é que selecionaremos quais fotos são interessantes para o aplicativo?”, questiona Fabio Piva, doutor em Ciência da Computação, pesquisador e CEO da SciPet, startup que desenvolve o aplicativo. A solução, diz, foi reduzir o volume de dados pinçados das redes e aumentar a eficácia do recurso de identificação.

Piva desenvolveu o método com base numa experiência pessoal. Certa tarde, anos atrás, chegou em casa e notou que cachorro havia sumido. Ele não conseguiu recuperá-lo, então foi atrás de métodos que poderiam superar os antigos. “O pessoal sai em busca desses animais espalhando pôsteres com foto de animal, informação de contato. Então, o aplicativo tem que tirar foto do animal. Fomos seguindo por essa linha”, conta.

A fase seguinte foi desenvolver a tecnologia capaz de ler e interpretar os dados das fotos. “Com gatos e cachorros o recurso foi completamente nosso, passamos nove meses fazendo esses resultados”, diz. Piva trabalhou junto de professores e alunos da Unicamp que possuíam artigos e um arquivo nacional focados na identificação de animais em fotos. “Chegamos e falamos: bom, temos essa ideia e gostaríamos de trabalhar junto, e eles toparam”.

Piva ressalta que, nas aplicações com inteligência artificial e big data, deriva-se grandes volumes de dados, o que torna crucial a qualidade das informações importadas. O processamento e o resultado devem ser cada vez mais precisos. “Você doa uma grande quantidade de fotos para um aplicativo, um computador, para ensiná-lo o que é um cachorro. Tendo milhões de fotos diferentes no computador, aprende o básico do que define um cachorro”, conta. “Se no meio dessas fotos tiver um monte de coisas que não são cachorro, esse aprendizado vai ser ruim para garantir a qualidade da inteligência.”

Print do aplicativo. Crédito: CrowdPet.

Segundo Piva, o processo de aprendizagem de máquina do seu app foi quase perfeito. A inteligência do CrowdPet atinge 99% do reconhecimento dos animais urbanos.

Tamanha eficácia permite que o recurso não se restrinja apenas a localizar pets perdidos. Surge a questão do controle de zoonoses dos municípios, tarefa em que o app pode servir como serviço público.

“Hoje o aplicativo, ainda em fase de testes, é uma plataforma de auxílio à causa animal, voltado para as prefeituras. Por que as prefeituras? Porque são os atores que se relacionam com a questão de população de animais”, enfatiza. “Nas prefeituras a gente já faz uma abordagem mais imediata. Começamos em julho de 2017 com os pilotos. Tinha uma demanda, tínhamos uma solução e eles abraçaram a causa.”

Prints do aplicativo. Crédito: CrowdPet.

Ele destaca que a função dos pilotos é entregar um serviço adequado para quem realmente precisa, impactando na vida dos animais urbanos e nos cidadãos. A percepção da necessidade de um aplicativo como o CrowdPet, diz Piva, é geral. Mesmo entre aqueles que não curtem os bichos. “Os moradores que não gostam de animais dão muito valor a esse tipo de serviço porque a pessoa que não gosta quer ver o menor número de animais soltos, sozinhos, abandonados na rua”, diz. “Na cabeça dele é um problema geral de saúde pública.”

Em Vinhedo, interior de São Paulo, o aplicativo já está em fase de teste. O monitoramento acontece a partir das campanhas de vacinação do município, que registram os animais que passam por lá. “Estamos discutindo com várias cidades: Jundiaí, Itatiba, Indaiatuba [todas no interior paulista], que estão envolvidos, inclusive, numas propostas de pilotos que fazem a mesma coisa com o que estamos fazendo em Vinhedo”, enfatiza Piva.

Print do aplicativo. Crédito: CrowdPet.

Todos os testes ainda são fechados e feitos em laboratórios. Por ora, 30 pessoas trabalham como usuários testes. “Uma vez que estejam satisfatórios, encaixamos os resultados no app e esse grupo de usuários começa a usar. A gente depende da aprovação dos recursos agora para a segunda fase para conseguir financiar todos esses pilotos que estão ai. É o objetivo”. Três ou quatro pilotos estão planejados para o início de 2018, explica o pesquisador. Na primeira fase do projeto, o grupo de Piva conseguiu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Sobre o lançamento do aplicativo para o público, Piva salienta que a proposta de estreia seja em 2018, mas tudo vai depender dos testes e seus resultados. Ele só ficará satisfeito quando o aplicativo estiver preparado para ser “a primeira solução tecnológica voltada para a causa animal”, majoritariamente animais de rua.

“São populações imensas que convivem com a gente direto, não podemos mais pensar nas nossas cidades como um lugar só para humanos. Não, é todo mundo. Vivemos os nossos espaços com outras espécies, temos que conseguir a demanda de outras espécies também”, finaliza.

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