Recebemos há bocado este mail de um rapaz chamado Sérgio. De vez em quando chega-nos à inbox uma ou outra candidatura, alguém interessado em escrever para nós, em estagiar e etc., mas quase nunca tão divertidas como esta. Vamos publicá-la por duas razões. Em primeiro lugar, temos pouco tempo para ler mails de auto-propostas espontâneas e é mesmo aborrecido perder tempo a ler algumas. É importante conhecer quem está do outro lado, não é a mesma coisa procurar um estágio na VICE ou no Espírito Santo. Não nos chamem de “senhores” e não queremos só ler o vosso CV. Chamem antes a nossa atenção e deixem-nos ler coisas vossas sem ser a morada ou o NIF.
A segunda razão: bem-vindo a bordo, Sérgio. Passa pela redacção na próxima semana, nem precisas avisar. Bate à porta e vamos conversar.
Estás à procura de coisas para fazer? Lê o mail aqui em baixo e aprende. Estamos à espera do teu sangue, suor e lágrimas.
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Olá.
O meu nome é Sérgio e não tenho nem nunca tive muito jeito para entrevistas de emprego. Nem mesmo para estes atrevimentos por email, por isso não faço a mínima ideia para onde é que posso enviar coisas ou como beijar o rabo do entrevistador através do html. Mas a minha santa mãe sempre me disse “quem não arrisca, não petisca”. Era isso e “não calces esses All-Star que está a chover e depois ficas com os pés todos molhados”, mas um gajo só consegue seguir um conselho de cada vez e é assim que vos escrevo, com as meias húmidas e os sapatos a secar na janela.
Tenho vinte e dois anos, escritos por extenso para dar ares de importância, e nunca fui lá muito musculado. Sempre pensei que fosse isso que as miúdas queriam nos homens: ares de importante, a roçar o arrogante, e músculos. O primeiro é perfeitamente alcançável, ou pelo menos fingível, mas o segundo já dá mais trabalho. Além de nunca ter sido lá muito musculado, também nunca fui muito adepto do trabalho. Daí que, e confirmada a impossibilidade de ter músculos, me virei para as artes. As miúdas adoram artistas.
“A escrita é uma arte”, foi o que sempre me disse a minha professora de português, entre um piscar de olhos e um debruçar zangado, mas palpitante, sobre a minha mesa. Quando ela fazia isto eu deixava de ouvir e perdia-me no mundo encantado dos decotes. Não tem Leopoldina, mas tem mamas. A escrita é uma arte. Então decidi escrever. Pelas miúdas. E pela professora de português.
O problema é que nunca fui muito bom. Fazia muitos floreados e perdia-me por entre as letras, como se de tetas se tratassem. E então lembrava-me da professora de português e, de repente, em vez de um poema bonito sobre violetas e merdas assim, ficava com um relatório do que faria ao decote da professora de português. Mas ela na altura até me deu um Muito Bom, escrito a batom vermelho, por isso decidi seguir o conselho da minha santa mãe e arriscar.
Devo avisar-vos de que continuo a não ser muito musculado, mas dou ares de importante e sou das artes. Vá lá, não me resistam. Dêem-me o que fazer.
Sérgio