Uns 15 anos atrás, aconteceu um fenômeno. O Emo – que era uma cena musical próspera do meio-oeste americano nos anos 90 – se infiltrou no mainstream para uma segunda onda de melodrama, chegando até as escolas cinzentas do Reino Unido e ao resto do planeta. De repente, todos os seus amigos que curtiam, tipo, o Eminem antes, agora tinham cabelo colorido penteado de lado, piercing snake bite e letras de música estilo “So cut my wrists and black my eyes / So I can fall asleep tonight, or die” rabiscadas na capa do caderno.
Mas o que aconteceu com essa garotada? Eles não estão fazendo as mesmas coisas, né? Aquele menino que teve que ir pra enfermaria pra cortarem a calça skinny branca tamanho 36 do corpo dele não continua comprando as mesmas roupas. Além disso, a segunda onda do emo atingiu o pico no meio dos anos 2000, o que significa que todos esses emos têm uns vinte pra trinta anos agora, certo? Eles já devem ter seguido em frente, porque todo mundo sabe que o emo é um subcultura pra crianças (o estilo, não o gênero musical). Ou, na verdade, talvez o emo continue vivo e bem – ele só cresceu, tirou os piercings e arrumou um emprego num escritório de publicidade “muito sussa, na real”.
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Você já deve ter visto esse pessoal. No metrô pro trabalho. Na outra mesa do escritório. Andando por aí com a franja de lado, agora sem pintar. Você pode até já ter namorado um. Se você está lendo a VICE, e tem entre 25 e 35 anos, tem uma boa chance de você ser um também. Às vezes, quando olho no espelho, também acho que sou uma emo.
O emo adulto não é o mesmo cara mais velho careca usando esmalte preto. Os emos são mais sutis e mais aceitos socialmente. Eles não usam mais jeans colado e vários cintos de rebite – eles usam jeans slim confortável ou calça preta com um cinto só, sem rebites. Mas eles ainda compram Vans, só que não o xadrez, nunca aquele xadrez. O slip-on branco ou o modelo old school branco e preto são perfeitos porque são vagos o suficiente para ser qualquer coisa, mais continuam sendo um pouco emo. Em outras palavras, o emo adulto é meio que incógnito, mas quem é observador consegue notá-lo. Além do mais, emo reconhece emo, e tem muita gente como a gente pra reconhecer por aí.
O emo adulto tirou os piercings em 2007/2008, quando curtiu brevemente Klaxons e pó. Mas olhando de perto, ainda dá pra ver os buracos nos lábios, nariz ou até na ponte do nariz se a pessoa era particularmente dedicada e/ou famosa no MySpace. Ninguém consegue se livrar do espírito emo totalmente, claro, tem sempre algumas pistas. Um piercing no septo, talvez, ou alargadores e mais nada. Ou, tipo alguém da VICE Reino Unido que não vou dar o nome que tem uma pequena tatuagem no tornozelo escrito “Hit or Miss”, uma referência ao primeiro sucesso do New Found Glory.
Mais importante, um emo adulto não vai necessariamente admitir que ainda gosta de música emo. Quando você passa dos 23, exorcizar sua raiva cantando “Your lungs have failed and they’ve both stopped breathing / My heart is dead, it’s way past beating”, quando você está muito bem e morando em Brockley, com dois gatos e sal do Himalaia, pode ser um tanto constrangedor. Mas se colocar Enter Shikari na playlist de uma festa às 2 da manhã, você vai achar o emo adulto imediatamente. Vai ser a pessoa que vai ficar vermelha de empolgação, colocar o braço do nada no seu ombro e gritar cada palavra da letra na sua orelha como se fosse 2002. Se a pessoa estiver bem louca, ela pode até começar a fazer A Garra.
Não tem muita diferença de gênero quando se trata do emo adulto, exceto na balada, quando as minas preferem batom vermelho e os caras podem realmente combinar jeans com blazer. Mas independente do gênero e orientação, os emos sempre vão gravitar uns pros outros e acabar namorando. Isso porque, subconscientemente, você sempre prefere pessoas parecidas com seu crush do colégio, porque te faz sentir seguro. Não tenho nenhum estudo ou estatística pra apoiar essa afirmação, mas todo mundo sabe que é verdade.
E não tem nada de errado em ser um emo adulto. Não tem nada de errado em ser nada (menos youtuber adulto, claro). Todo mundo só quer viver, e quando você vai chegando nos trinta é difícil saber o que usar quando seu corpo e sua mente ainda adoram Taking Back Sunday e tatuagem estilo marinheiro, mas o mundo diz que você devia usar gola rolê e saber como dar um jantar com vinho pros amigos. Não sei o que vai acontecer com os emos adultos enquanto eles progridem na vida – só que eles vão evoluir pra emos de meia idade e eventualmente emos idosos, brigando na casa de repouso sobre quem é melhor, Fall Out Boy ou My Chem. E eu mal posso esperar.
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