Música

As Dores e Delícias de Ser Pai e DJ

Eles já deixaram de colocar seus filhos para dormir para fazer uma multidão, inclusive você, fritar nas pistas. Também tiveram que abrir mão de ir ao campeonato de futebol, à homenagem do Dia dos Pais na escola ou ao próprio aniversário da criançada para cumprir as agendas e os horários malucos de quem trampa à noite e viaja muito. Esses são alguns dos dilemas dos DJs que já colocaram alguém no mundo, mas todo mundo sabe que é preciso ter grana para arcar com a responsabilidade de “ter virado um pouco mais homem”. Nós aqui do THUMP não podíamos deixar o domingão em que se comemora o Dia do Melhor Cara do Mundo passar em branco. Falamos com o KL Jay, Patife, Marky, Magal, Gui Boratto e outros DJs que, além de mandarem muito atrás da picape, também já trocaram muita fralda. Apesar de todas as tretas, alguns ainda conseguem passar o legado da discotecagem para a próxima geração, como aconteceu com o Seu Osvaldo, o primeiro DJ do Brasil. Duvido que você não vá correr dar um abraço no seu velho depois de ler essa matéria.

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DJ Patife é pai do João Miguel

O maior dos dilemas em ser pai é a distância. Esse ano, durante o verão na Europa, passei mais de dois meses fora. Ferramentas como FaceTime & Skype ajudam a diminuir um pouco a distância. Perdi algumas etapas como os primeiros passos, as primeiras palavras e isso me faz refletir, fica sempre aquela pontinha de “devia ter ficado mais em casa” etc. Quando fui pai, passei a inverter muitos valores. Eu vivia focado em tudo que tinha que fazer, não planejava quase nada, vivia solto e sem preocupar muito com o futuro. Mas agora posso dizer que amo alguém com certeza, ser pai é algo muito doido. Dou meu melhor para estar ao lado dele sempre que posso, tento buscar na escola e juntos vamos buscar a mãe no trabalho para jantarmos, depois tomamos banho e dormimos juntos. Com certeza, hoje em dia abro mão de ir para curtição, e sempre é possível carrego João Miguel comigo. Quando ele tinha um ano e pouco fomos ao show do Criolo num domingo à tarde e foi ótimo. Esse foi nosso primeiro rolê.

Zegon é pai da Mariah, Sofia e Stella

Fui pai novo com 21, não sabia nada da vida, demorou anos pra cair a ficha, depois fui pai novamente com 37, quando comecei a reaprender como é ser pai. Hoje sou pai de três meninas que são tudo pra mim, toda minha dedicaçao, suor e trabalho é pra garantir um bom futuro pra elas — a responsabilidade muda, muda o foco, você tem alguém que depende de você, ser músico é uma profissão muito difícil, difícil se manter em evidencia por muitos anos. É preciso sempre se reinventar e as minhas filhas e minha esposa são a minha inspiração.

Kevin Saunderson é pai do Dantiez, do Damarii e de outros dois filhos

Ser pai têm suas dores e suas delícias, como qualquer outro caminho que você escolher na vida. O dilema é que a minha carreira requer que eu fique muito fora de casa, mas o lado bom disso é que eu posso escolher meu próprio horário de trabalho. Então posso escolher quando vou passar um tempo com as minhas crianças, ajudando elas a crescerem e apoiando em tudo que for necessário. Eu também acho que estar envolvido com artes, cultura e educação é uma boa maneira de passar um legado para a próxima geração. Para alguns, isso pode ser um desafio, para mim, ser pai tem sido algo grandioso. E o melhor, parece que o meu estilo de vida tem inspirado os meus dois pequenos, Dantiez e Damarii, a seguirem carreira no ramo da música.

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Foram tantas vezes que eu fiquei com o coração na mão. Todas as vezes que eu precisei ficar longe de casa e algum dos meus filhos estava doente e eu não pude estar lá para cuidar deles, isso parece que mata um pouco você. Pode parecer divertido para muita gente viajar ao redor do mundo, mas eu sempre fico com a cabeça em casa, preocupado em como devem estar as coisas.

Eu tenho quatro filhos, então eu acredito que todas as quatro vezes me mudaram bastante. Você passa a enxergar tudo de uma maneira diferente, isso transforma os seus objetivos de vida. No meu caso, ser pai me inspirou a ser criativo de maneiras que eu nunca poderia dizer que seriam possíveis.

Gui Boratto é pai da Valentina

Apesar de tocar fora nos finais de semana, sou muito presente durante a semana. Acordo bem cedo com a Valentina e preparo o café da manhã. Quando ela volta da escola, almoçamos juntos. Preparo o jantar também. Como meu estúdio fica no meu apartamento, estou sempre perto dela. O difícil é quando saio em tour, fora do país. É quando meu coração fica apertado.

KL Jay é pai do William, da Camila, do Licoln, da Hanifah, do Kalfani, da Jamila e do Kalif

Eu nasci para ser pai, porque eu nasci no Dia dos Pais inclusive. Minha mãe me contou isso esses dias, depois de 45 anos. Então, o lance da profissão, quando eu enxerguei a profissão de verdade, comecei a colocá-la em primeiro plano para poder ter a estrutura de ser pai, porque é o dinheiro do meu trabalho que vai pagar faculdades, escolas, cursos, para uma estrutura mínima. Então, eu coloco nesse patamar a profissão, que está em primeiro e depois ser pai. Uma coisa que deixou o meu coração na mão foi quando a minha filha Hanifah teve meningite e eu pensei que ela ia embora. Eu fiquei com muito medo. O meu outro filho, Kalfani, também ficou doente uma vez. A mãe dele, que é enfermeira, achou que ele ia morrer, mas não aconteceu nada de mais grave e ele melhorou. Foram essas duas vezes que eu fiquei muito assustado.

Eu sempre tive a vocação, a vontade de ser pai. Os filhos me trouxeram mais responsabilidade e me trouxeram uma experiência muito importante, que é a experiência da amizade. Os filhos não são apenas nossos filhos, eles devem ser nossos amigos também. Então, uma coisa que me ajudou a ter uma experiência muito boa com eles foi nunca esconder nada dele, nem quem eu era, nem quem eu sou. Isso fortaleceu muito a nossa amizade e eu os vejo muito mais como meus amigos. Todos os conselhos, as broncas, as verdades que foram ditas e são ditas entre nós têm o fator da amizade como base. Eles confiam em mim, eu confio neles e o que a gente tem para resolver, a gente resolve.

A minha amizade com eles me fortaleceu muito como homem, como pai, como pessoa. Eu vivo aprendendo com eles. O mais novinho, que é o Karlif tem 4 anos, e a minha relação com ele é totalmente diferente do que a que eu tinha com os meus outros filhos quando eles eram pequenos. Tanto é que os mais velhos me falam “Pô, pai, o Karlif pegou maior axé, quando a gente era pequeno não tinha boi!”. Eles falam que eu mimo muito ele, que sou o maior puxa-saco dele. Eles também me passam músicas novas porque conhecem muito de música, sempre um ajudando o outro. É uma relação muito sólida, porque os meus filhos são a minha continuação, então sou eu ali também. Apesar deles terem o caráter deles, o meu sangue está lá. E todos eles se conhecem, um sempre dorme na casa do outro. Eles se dão super bem.

DJ Magal é pai da Gabriela e da Carolina

No começo [da minha carreira] foi um pouco complicado, mas agora elas estão maiores e me ajudam em casa. À tarde elas ficam comigo e à noite com minha mulher. Foi em 2006. Estava em Londres e na volta para o Brasil o vôo havia sido cancelado. Aquilo me deixou arrasado. Eu estava contando os dias para ver minha filha que na época tinha apenas um ano. Felizmente, no outro dia pude voltar.

Claudio Baldi (DJ Mandraks) é pai do Pablo Gabriel e do Pedro Henrique

O maior dilema é deixá-los para cumprir o trabalho. O que me apertou mesmo o coração foi ter que tocar no mesmo dia do aniversário de 11 anos do meu mais velho, o Pablo. No mesmo dia ele mandou um video falando que o primeiro pedaço do bolo era meu. Isso realmente foi de escorrer lágrimas, deu vontade de largar tudo, entrar no avião e voltar pra casa!

DJ Fabrício Peçanha é pai do Gael e da Nicole

É sempre difícil deixar a criançada em casa, mas apesar de passar o final de semana fora, o bom da vida de DJ é que durante a semana trabalhamos em casa e temos bastante tempo pra curtir os pequenos. No último ano novo eu decidi passar a virada com a família, marquei um booking perto de casa para levar a família junto. E lá fomos nós, minha esposa Tati, meu filho de 7 anos Gael e minha bebê que acabou de fazer um ano, Nicole. Todos estávamos no carro para passar a virada juntos, em Camboriú. Normalmente, todos os eventos em que toco na virada têm ceia e são mais voltados para a família. Mas dessa vez, quando chegamos, vimos que era balada mesmo, som alto e agito, nenhum espaço mais calmo onde eu pudesse ficar com as crianças. Resultado, tive que ficar na festa pra tocar e minha esposa voltou para o hotel com as crianças e passaram a virada sozinhas. Fiquei com o coração partido, mas são ossos do ofício e todos entenderam a situação. Ser pai me deixou mais responsável e comecei a dar mais valor pra outras coisas.

DJ Dudu Palandre é pai do Bernardo

Eu sempre levei o lance de ser DJ e pai na boa. Pra mim é mais fácil, já que meu filho mora com a mãe. Porém, ao mesmo tempo, isso me deixa com mais saudades dele. Por exemplo, esse fim de semana toco em Curitiba e não poderei passar o dia dos pais com ele. Isso me deixa com o coração apertado desde já. Mas eu sempre converso com ele e tento fazer ele entender que isso é para ele também, além daquela velha história chata de pai sobre responsabilidades. A coisa mais fantástica e transformadora pra mim, com certeza, foi me tornar pai. Eu me amarro muito em ser pai, muito! Fiquei solteiro há pouco e, ainda assim, não troco a companhia do meu filho por uma balada.

DJ Marky é pai do Gabriel

Sempre fico com o coração na mão quando perco as festas da escola, ou quando não consigo ver ele jogando o campeonato de futebol na escola. E esse ano vai ser mais punk porque, pela primeira vez em 10 anos, não vou passar o dia dos pais e nem o Natal com o meu filhote, as datas vão coincidir com o tour do meu disco novo. Como sempre quis ser pai, já sabia o que ia enfrentar e eu não saio muito à noite. Eu já vivo em clubes, então evito ir [para o rolê]. Tanto eu, como meu filho, adoramos ficar em casa de boa! Quarta o futebol é sagrado, principalmente quando tem jogo do nosso Tricolor Paulista!

Seu Osvaldo é pai dos DJs Tadeu e Luiz Cláudio — de outros cinco filhos e 12 netos

Como eu comecei [a discotecar] muito cedo, estou deixando um legado muito grande para os meus filhos. Para você ter uma ideia, eles adoram muitas músicas do Ray Conniff, que era a coqueluche dos anos 50. Dos Eu tenho OITO filhos e três deles são DJs. É muito bom ver meus filhos na cena como DJs também, porque é uma coisa que eu comecei muito lá atrás — comecei a discotecar em 58 então você imagina a minha alegria de ver dois filhos meus indo para este ramo.

Márcio Careca é pai da Ana Beatriz

Ser pai e DJ é complicado. Muitas vezes queria ter ficado em casa colocando minha filha pra dormir e tenho que sair. Sou casado há 16 anos, mas houve um pequeno período em que eu e minha esposa demos um tempo. Certa vez, minha filha implorou para que eu ficasse na hora em que eu estava de saída para trabalhar. A Bia começou a chorar e pedir incessantemente para que eu ficasse com ela, que não fosse trabalhar, que ela ia sentir muita saudade. Aquilo me deixou muito mal, porque mesmo não querendo ir, eu não tinha como desfazer o compromisso. Cheguei até pensar em parar de tocar, mas, Graças a Deus, tudo se resolveu e hoje quando tenho que trabalhar minha esposa segura as pontas, isso quando ela não pede para levá-la junto. Hoje, eu penso duas vezes se realmente vale à pena trocar o aconchego do lar com a família por uma balada.

DJ Malboro é pai do Luís Felipe, do Antônio, do Samuel e do Paulo Fernando, que vai nascer em novembro

Quem trabalha a vida inteira tem seus objetivos voltados à sua profissão, ao seu trabalho e ao seu bem-estar, mas quando você têm filhos, o seu foco muda totalmente. Tudo que você compra, tudo que você faz é para o prazer deles e sempre pensando neles. Muita gente me chamava para ir à algum lugar, mas eu sempre fui muito caseiro. Hoje eu pergunto: Dá para os meus filhos irem? Se não der, eu nem vou. Eles que mandam.

Eu não perdi nenhum momento importante por conta dos shows, mas sim porque eu não me casei com a mãe deles. Aí eu acho que eu perdi muito com essa coisa de guarda. Primeiros passos, primeiras palavras, tudo que foi primeiro, eu perdi. Quando eu ia ver, já estavam andando, falando. O outro, o mais velho, que têm seis anos, veio morar comigo quando tinha seis meses. Aí deu para eu aproveitar bastante ele e até hoje ele mora comigo. Ele vai fazer sete anos, agora, em setembro, esse eu peguei todas as fases. Esse é paulistinha, o outro é mineiro. O Samuel tem seis anos, o Antônio cinco e o Luís Felipe é o caçula com doi anos — meu quarto filho vai nascer agora em novembro.