Cris Bartis e Ju Wallauer: as minas da polêmica

Conteúdo para campanha AVON Femme, conhecendo mulheres e suas essências.

Mamilos, como você bem sabe, são polêmicos. O vídeo do moleque magrelo em frente à web cam tem mais de dois milhões de acesso e gerou um dos memes mais clássicos da Era Pós-Moderna. Ele é também uma referência direta a um dos podcasts mais comentados da Internet.

Apresentado por Juliana Wallauer e Cris Bartis, o Mamilos foi ao ar pela primeira vez no dia 14 de novembro de 2014 e, desde sempre, se prestou a dar uma boa discutida naquelas bombas que pintam aqui e acolá na sua timeline. Ainda tímidas, e com a estrutura nitidamente mais simples, as duas deram o play e já deitaram falação sobre suicídio, nudez, bunda, traição e Complexo de Deus em uma hora de papo. “A gente odiou fortemente os primeiros 10 programas”, explica Ju. Cris explica um pouco o processo. “Eu queria ensaiar. Fizemos três programas por skype que não foram ao ar e aí a Juliana me encurralou. ‘Não quero saber, o próximo vai pro ar, nós vamos gravar’ e a gente gravou.”

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As duas começam a discorrer sobre as primeiras experiências e, como fazem nos programas, discordam uma da outra com empatia. Cris comenta:

— O primeiro é tão ruim.
— Não é ruim, eu já escutei de novo.

De lá até aqui muita treta já entrou na pauta em mais de 80 edições. Toda sexta-feira é só ficar de olho nas redes sociais que eles arremessam mais uma bomba. Atualmente a dupla tem uma média de 50 mil ouvintes semanais e alguns programas que chegam a bater picos de 63 mil views.

Depressão, violência policial, Síndrome de Down, cultura do estupro, ICMS, trabalho escravo, adoção, relacionamento abusivo, entre muitos outros assuntos, estão no balaio infinito de Cris e Ju. Elas não se cansam, elas quase nunca param de trabalhar. Só um detalhe, quase nada irrelevante, ambas são publicitárias e, além dos compromissos mamilísticos, dão expediente em agências. “Eu não dedico o fim de semana pro Mamilos, o resto todo do meu tempo livre é dele, às vezes quinta-feira o dia tá livre”, comenta Ju. “É difícil computar o tempo que dedicamos ao Mamilos, porque ele é feito meio que na hora que dá. No meio do dia, na hora do almoço, de manhã, de noite, na hora que tem um tempo no trabalho. A gente sai reunindo informação de tudo quanto é canto”, completa Cris.

Além da produção, outra coisa acaba tomando tempo das duas: o retorno dos ouvintes. Cris explica. “Em grande parte das mensagens temos pessoas te contando a vida inteira delas. Tem gente que te escreve falando que vai se matar e aquele e-mail não pode ficar sem ser lido, e muito menos sem ser respondido. E como responder? Tem uma pessoa te contando que a mãe está apanhando ou te contando que tá desempregada. No programa sobre ICMS escreve uma mulher falando que decidiu largar o namorado.”

Mineira de uma quebrada de Belo Horizonte, Cris Bartis, de 37 anos, veio parar em São Paulo, há oito anos atrás, por causa de trampo. Pegou seu carrinho pela Fernão Dias e chegou à capital paulista para morar com duas meninas que conheceu no Twitter. Casada e mãe de uma menina de seis anos. Mesmo longe de sua cidade, Cris mantém um aconchegante sotaque mineiro. Juliana Wallauer, de 34 anos, nasceu em São Paulo, mas tem seu diploma de mulher gaúcha. Criada em Porto Alegre, herda leves trejeitos gaúchos na voz que, segundo a Cris e grande parte dos ouvintes, é um veludo. Formada em Administração com ênfase em Marketing, Ju é mãe de um casal. O menino com 4 e a menina com 2 anos.

As duas não eram amigas, não eram cúmplices, não eram parças antes do Mamilos. “A gente não tinha uma relação pessoal e passamos a ter. A sociedade que levou pra amizade”, explica Cris. A relação, quase um casamento, começou quando ambas foram convidadas a participar do Braincast que discutia Teste de Bechdel (um importante indicativo do machismo, o teste questiona se uma obra possui pelo menos duas mulheres que conversam sobre algo que não seja homens). Elas pesquisaram, prepararam suas falas e mandaram tão bem que a galera comentou sugerindo que elas tivessem um programa só delas. E foi o que fizeram.

Ju demonstra sua sororidade ao falar sobre a parceira. “A Cris é pura simpatia e carisma. Ela é uma anfitriã e conversadeira nata. É a grande responsável por tornar o mamilos um lugar onde as pessoas se sentem bem e querem estar. Por nos tornar próximas mesmo falando de temas muitas vezes áridos e difíceis”. Cris revela uma queda intelectual pela amiga que vinha de antes. “Na verdade eu já era afim nela. Muitas vezes ela postava um livro, aí eu ia lá e comprava. Ela era referência disso pra mim. O dia que ela me chamou pra gravar o podcast eu falei. ‘Nossa, por que ela tá me chamando?’ Mas fui”. Elas foram indo, indo e cá estão.

É um programa feminista? Elas dão o papo .”As pessoas vêem qualquer assunto sobre feminismo e mandam pra gente. Qualquer assunto, qualquer pauta”, comenta Ju. E Cris arremata. “Eu e a Juliana somos feministas, mas o Mamilos não é sobre feminismo. O diferencial do Mamilos não é porque ele é feito por duas mulheres e duas mulheres feministas. O diferencial do Mamilos é a abordagem que ele dá pra temas polêmicos.”

A palavra que distingue o Mamilos de outros programas é empatia. Elas, com muita sabedoria e cuidado, conseguem colocar na mesma mesa pessoas com opiniões distintas e não tornar isso uma guerra. Há respeito, informação e conhecimento. Há o significado mais nobre da discussão. “A gente acabou formando uma comunidade muito sólida, então geralmente as pessoas são bastante respeitosas na hora de criticar. Tem um ou outro comentário mais pesado”, explica Cris.

As duas estão em estúdio, uma sala comercial em Pinheiros, se preparando para falar sobre a guerra na Síria. Pesquisam, estudam, fazem entrevistas e recepcionam os convidados para uma hora e quarenta minutos de podcast. Ju abre o programa ao som de Lineker com uma descrição que talvez defina essas muitas linhas escritas acima. “Bem vindos ao Mamilos, seu espaço de encontro pra escutar opiniões divergentes com respeito e empatia. Abra o coração e a mente. Eu sou a Ju Wallauer e comigo está minha irmã de polêmica”. Cris Bartis fala seu nome dando uma risada boa. As duas juntas, e principalmente suas personalidades, criaram um programa em que absolutamente tudo pode ser falado com respeito e empatia. Elas são plurais, quase destoantes, mas transformam seus debates em verdadeiros úteros, de tão quentinhos e aconchegantes. É a essência feminina sendo usada para a mediação, ás vezes criação, de conflito e para o entendimento, algo raro nos dias de hoje.

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