O governo do Rio de Janeiro anunciou um corte de cerca de $500 milhões em seu orçamento de segurança – menos de seis meses antes da cidade receber os Jogos Olímpicos deste ano.
O anúncio inevitavelmente gerou (ainda mais) dúvidas sobre a capacidade do Rio de garantir a segurança dos visitantes da cidade durante os Jogos. Depois dos ataques terroristas à Bélgica, o corte também levantou questões sobre se o Brasil está preparado para lidar com possíveis ataques terroristas.
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O Rio sempre foi assombrado por níveis vertiginosos de criminalidade, com mais de 1.200 homicídios na cidade em 2015.
E a violência urbana da cidade não está confinada apenas às favelas. Em fevereiro, Laura Pâmela Viana, uma turista argentina, foi esfaqueada e morta perto do famoso Copacabana Palace Hotel, num dos bairros mais caros e turísticos da cidade.
No entanto, o secretário de segurança do Rio, Joré Mariano Beltrame, insiste que não há nada com que se preocupar. “Que venham as Olimpíadas!”, ele disse para a Istoé numa entrevista em janeiro. “A parte de segurança está pronta. Acho que essa é nossa primeira medalha.”
Beltrame parecia menos seguro quando anunciou os cortes, que representam 35% do orçamento de segurança anual do estado.
Ele disse aos repórteres que a mudança vai significar reduções no número de viaturas, além de cortes nos contratos de manutenção. Planos de instalar uma UPP no Complexo da Maré, uma das maiores e mais violentas favelas do Rio, que se estende ao longo da principal via até o aeroporto internacional da cidade, também foram engavetados.
Paulo Storani, ex-capitão do BOPE e professor da Universidade Cândido Mendes, acredita que os cortes vão ter um efeito significativo na segurança pública da cidade antes, durante e depois das Olimpíadas.
“O primeiro impacto será em investimento em tecnologia e infraestrutura”, ele disse. “Depois [os cortes vão impactar] a segurança pública, em termos de policiamento ostensivo, como viaturas e policiais nas ruas.”
Os cortes de segurança no Rio são resultado de uma crise financeira estadual causada não só pela crise econômica brasileira, mas também pela crise na Petrobrás. A empresa tem muitas de suas atividades baseadas no Rio e recentemente anunciou uma perda recorde de $10,2 bilhões no quarto trimestre de 2015.
Além de combater o crime cotidiano, os organizadores das Olimpíadas também enfrentam problemas com a crescente turbulência social, alimentada pelos problemas econômicos e a crise política no país.
Os cortes surgem agora que os ataques na Bélgica fizeram crescer o medo de que grupos extremistas possam atrapalhar as Olimpíadas. Especialistas já comentaram sobre a fronteira porosa de 23 mil quilômetros do Brasil, que não conta com controle apropriado em várias regiões remotas.
“Lobos solitários continuam a principal ameaça terrorista aos Jogos Olímpicos”, disse Luiz Sallaberry, diretor da ABIN, o departamento antiterrorismo do Brasil, numa entrevista para a Deutsche Welle ano passado. “Não há áreas de prioridade, a ameaça está difusa por todo o território brasileiro e no exterior.”
“Estamos usando todos os meios disponíveis, incluindo nosso próprio pessoal e metodologias, além do apoio de serviços de inteligência estrangeiros e cooperação com a polícia e o Ministério da Defesa”, ele continuou.
O ministro da defesa Aldo Rebelo também admitiu recentemente que o Brasil está levando a ameaça do terrorismo a sério. “Desde as Olimpíadas de Munique em 1972, a preocupação (com ataques terroristas) existe. Houve um ataque a Atlanta em 1996 também. Tivemos muitos exemplos disso no passado.”
Cerca de 85 mil funcionários de segurança devem operar no Rio durante as Olimpíadas — mais que o dobro do pessoal dos Jogos em 2012 em Londres. A força de segurança inclui 47 mil policiais, guardas municipais e bombeiros, além de 38 mil soldados.
“Essa será a maior operação de segurança da história do Brasil”, disse Andrei Augusto Passos Rodrigues, secretário de segurança para grandes eventos do Ministério da Justiça, ano passado.
Mas o ex-policial e especialista em segurança Paulo Storani acredita que apesar dessas promessas, as autoridades não estão levando a ameaça terrorista a sério o suficiente.
“O Brasil não têm histórico de ataques a turistas, então as autoridades se recusam a explorar essa possibilidade, por causa de fatores geográficos e porque as pessoas veem o Brasil como um país amigável”, ele diz. “Mas a lógica por trás dessa ideia, que há menos risco porque as pessoas consideram os brasileiros um povo simpático, é absurda.”
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Tradução: Marina Schnoor