Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.
Para as pessoas que têm uma verdadeira fobia ao trabalho, pode ser difícil convencer os outros de que sofrem de algo que pode ser clinicamente diagnosticado. Mas, o medo do local de trabalho é real e reconhecido pela ciência.
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De acordo com um artigo de 2009, da Psychology, Health and Medicine, esta fobia é definida como uma “reacção de ansiedade, com sintomas de pânico que ocorrem ao pensar na aproximação ao local de trabalho”. Algumas pesquisas informais e discussões com amigos fizeram-me pensar que quase 100 por cento das pessoas que conheço sofrem desta doença. Em todo o caso, dizeres “foda-se” quando sais de casa para ir trabalhar, não constitui uma “reacção de ansiedade”.
Quem sofre desta fobia pode estar exposto a uma série de sintomas provocados por vários estímulos. Um artigo de 2007 do Journal of Anxiety Disorders sugere que existem seis tipos diferentes de ansiedade em relação ao trabalho:
- “Pânico relacionado com o trabalho”. Só de pensar em ir trabalhar, acho que me dá um enfarte.
- “Fobia situacional ao local de trabalho”. Se o meu chefe me fizer preparar uma apresentação para um grupo grande, acho que me dá um enfarte.
- “Fobia social indiscriminada relacionada com o trabalho”. Muitos aspectos diferentes do meu trabalho fazem-me sentir como se estivesse a ter um enfarte.
- “Fobia social discriminada relacionada com o trabalho”. Alguns aspectos específicos do meu trabalho fazem-me sentir como se estivesse a ter um enfarte.
- “Ansiedade generalizada relacionada com o trabalho”. Sinto-me como se estivesse a ter um enfarte no trabalho e não sei porquê.
- “Stress pós traumático relacionado com o trabalho”. Sinto-me angustiado desde que tive mesmo um enfarte no trabalho. Essa angústia, ou ansiedade, manifesta-se normalmente numa sensação de se estar a ter um enfarte.
Aventurei-me no Fórum de Ansiedade Social, o melhor lugar online para debater todas as coisas relacionadas com pânico e ansiedade. Um tipo de 24 anos, finlandês, por exemplo, percebeu que a sua ansiedade no trabalho é debilitante. “Estou a pensar despedir-me. As pessoas com quem trabalho acham que sou um idiota”, escreveu. E acrescentou: “Cometo erros constantemente, por causa dos meus problemas de ansiedade. Estou tão preocupado com a ansiedade, que é difícil focar-me em qualquer outra coisa”.
Não estava sozinho. Um participante de 35 anos explicou: “Despedi-me aos 20 e só consegui encontrar outro trabalho quatro anos depois (por causa da ansiedade social)”. E aproveitou para deixar um conselho: “Não desistas, pá”.
Assim como para muitas outras fobias, também há um leque de tratamentos possíveis. Parece que o tratamento mais eficaz é a “habituação lenta, que causa dessensibilização”. No entanto, e porque o local de trabalho não pode ser “recriado artificialmente, o paciente deve submeter-se ao tratamento in situ e publicamente”. Por isso: “Regressa ao trabalho, que as coisas eventualmente hão-de melhorar”. Ou seja, toma um medicamento ligeiro e lida com isso. Não tenho a certeza de que este método tenha sido aprovado pela ciência como eficiente, mas esta é a sugestão apontada pelo site HR Zone.
O tratamento verdadeiro consiste numa combinação entre terapia (comportamental cognitiva ou equivalente) e talvez algum medicamento contra a ansiedade, cuidadosamente prescrito. Mas, o leitor pergunta: E o que é que isto me interessa?
Bem, podes ser alguém que sofre de fobia ao local de trabalho. Também podes ser um sacana a quem interessa estudar os sintomas comuns para os começares a fingir. E, se fores uma entidade empregadora, podes querer saber como ajudar e tratar estas ansiedades, ou pelo menos criar um ambiente menos tenso para os teus funcionários que sofram deste tipo de problema.
Dizem que um trabalhador ansioso não é um trabalhador feliz. Por isso, vale a pena saber, sejas chefe ou funcionário, que existem pessoas que não odeiam os seus trabalhos. Têm é medo deles.
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