O cosmos pelas lentes de Kiko Fairbairn

Na família de Carlos Eduardo Fairbairn, a paixão por estrelas, galáxias e nebulosas é algo que passa de pai para filho. Ele conta que tudo começou há muito, muito tempo quando seu tataravô, o engenheiro Fábio Moraes Rego, resolveu estudar Astronomia e chegou a publicar um livro que relacionava cálculos trigonométricos a órbitas planetárias. Como um gene passado de geração em geração, o amor por fenômenos celestes cresceu dentro dele.

Quando criança, Carlos gostava de ouvir o pai, o engenheiro e economista Arnoldo de Moraes Fairbairn, ler trechos de Cosmos, a obra-prima de Carl Sagan. A influência foi enorme. Adulto, ele resolveu dar vida ao que ouvia por meio de imagens. Virou um astrofotógrafo de ofício e de sucesso. Ele acaba de ganhar, aos 33 anos, o Astronomy Photographer of the Year, a mais importante premiação de fotografia astronômica mundial. O trunfo veio na categoria Sir Patrick Moore Best Newcamer, dedicada a jovens fotógrafos.

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A Grande Nuvem de Magalhães

A Grande Nuvem de Magalhães, uma das fotos premiadas de Kiko. Crédito: Kiko Fairbain

Organizado pelo Observatório Real de Greenwich, em Londres, na Inglaterra, o Astronomy Photographer of the Year recebeu mais de 4.500 inscrições de candidatos de 80 países. Desses, 31 tiveram seus trabalhos premiados. Um dos jurados do concurso, Jon Culshaw, humorista em tempo integral e astrônomo nas horas vagas, descreveu as capturas da Grande Nuvem de Magalhães por Kiko — nome artístico de Carlos — como “simplesmente magnífico”.

Galáxia-satélite da Via Láctea, a Grande Nuvem de Magalhães fica a 160 mil anos-luz de distância da Terra e ganhou esse nome em homenagem a Fernão de Magalhães, o navegador português que, entre 1519 e 1522, organizou a primeira viagem ao redor do mundo. A fotografia que levou o prêmio foi registrada em 15 de junho do ano passado, durante o 26º Encontro Nacional Observacional (ENOC), promovido pelo Clube de Astronomia de Brasília (CAsB) numa fazenda na cidade de Luziânia, a 150 quilômetros de distância de Goiânia (GO).

Foto tirada na cidade de Pedro Bernardo, em Goiás. Crédito: Kiko Fairbain

Não é a primeira vez que Kiko tem seu talento como fotógrafo astronômico reconhecido internacionalmente. Antes de ganhar o Astronomy Photographer of the Year, ele teve três fotos suas publicadas na seção Astronomy Picture of the Day, da agência espacial norte-americana (NASA, em inglês). Parece pouca coisa, mas é importante lembrar que, na maioria das vezes, a NASA publica fotos tiradas pelo telescópio Hubble.

Imagem de Três Marias e nebulosa de Orion captada na cidade de Luziânia, em Goiás. Crédito: Kiko Fairbairn

Formado em Administração e pós-graduado em Gestão Ambiental, Kiko começou a se interessar por fotografia astronômica em 2015. “Antes disso, eu já fotografava por hobbie, mas apenas imagens diurnas”, conta. Um dia, Kiko perguntou a si mesmo: o que aconteceria se eu fosse para o meio do mato, livre da poluição luminosa das grandes cidades, e mirasse a câmera para o alto? Curioso, viajou com alguns amigos para o Parque Nacional de Itatiaia, na divisa entre o Rio e Minas Gerais. “A câmera conseguiu captar detalhes da Via Láctea que, a olho nu, eu nunca seria capaz de registrar. Fiquei completamente fascinado”, recorda.

Região central da Via Láctea com marcações. Crédito: Kiko Fairbairn

Respondida a pergunta, Kiko não parou mais. Estudioso, passou a pesquisar sobre astrofotografia em sites, blogs e programas de TV. Seus favoritos, a propósito, são Sky at Night e Wonders of the Universe, da BBC. Para fotografar o cosmo, garante que não precisa de muita coisa: câmeras convencionais (como a Canon EOS 5D Mark III, que usou em Luziânia), lentes (de 100 e 200 milímetros) e um tripé especial que acompanha o movimento de rotação do planeta e impede que a fotografia saia borrada.

Mais do que equipamentos de última geração, um bom céu (ou seeing, como dizem os astrofotógrafos) é fundamental. “Locais secos, sem nuvens e com pouca luz são os melhores!”, dá a dica. Entre seus points favoritos, destaca o Deserto do Atacama, no Chile, e o Parque de Yellowstone, nos EUA. “Um dos melhores céus que já fotografei”, aponta.

Outra foto tirada por Kiko em Padre Bernardo. Crédito: Kiko Fairbairn

Para quem pretende enveredar pela profissão, Kiko recomenda persistência e dedicação. “Quando estou em um local com boas condições, sou capaz de passar a noite toda fotografando. Para registrar galáxias e nebulosas, faço uma média de 30 fotos, todas do mesmo objeto”, diz. Como o céu é o limite para Kiko, um dia, ele pretende registrar, em uma mesma imagem, uma Nebulosa com um traço de Aurora Boreal. “Nem sei se é possível porque o brilho da Aurora pode ofuscar a Nebulosa. Mas seria mágico captar um fenômeno que acontece em nossa atmosfera e uma nebulosidade muito distante”, explica. Alguém duvida?

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