Foi durante o ataque final às posições alemães no interior da França que a verdade inegável ficou clara pra mim – odiei de morte a campanha single player de Battlefield V, a sequência do Battlefield 1 temático da Segunda Guerra Mundial da DICE.
O jogo te coloca no lugar de vários protagonistas condenados em diversos momentos da Segunda Guerra Mundial antes de te fazer um senegalês ajudando a libertar a França durante a Operação Dragoon de 1944.
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Eu estava empolgado no começo. Escrevo sobre o conflito há uma década e aqui, finalmente, tinha uma história que eu não tinha ouvido antes. Os tirailleurs senegaleses sobreviventes nem conseguiram cidadania completa no país que ajudaram a libertar até 2017. A história deles é uma que precisava ser contada e acrescenta nuances ao nosso entendimento da Segunda Guerra. Queria que o modo single player de Battlefield V tivesse feito jus a essa história, mas não fez.
As missões single player de Battlefield V são organizadas num formato de antologia chamado War Stories. Cada história individual tem algumas horas de duração e foca em uma parte diferente da guerra: Nordlys é uma história pessoal de sobrevivência de uma família passada na Noruega, Under No Flag é um conto estilo Guy Ritchie com um criminoso britânico, e Tirailleurs conta sobre forças de colônias francesas libertando um país que eles nunca tinham visto antes. Em dezembro, a DICE vai lançar uma quarta história – The Last Tiger – que acompanha uma equipe de tanques nazista nos últimos dias da guerra.
O problema de fazer um jogo de tiro em primeira pessoa da Segunda Guerra Mundial em 2018 é que os desenvolvedores estão fazendo jogos assim há uns 20 anos. O primeiro Medal of Honor, que criou o subgênero como o conhecemos, saiu em 1999. O primeiro Battlefield, que se passa na Primeira Guerra, foi lançado em 2002. Como escrevi ano passado sobre a Activision tentando trazer Call of Duty de volta para a Segunda Guerra, não tem muitos jeitos como você pode invadir as praias da Normandia.
Sim, a DICE tentou uma solução nova. Em vez de se focar nas batalhas e nações mais faladas da Segunda Guerra, ou seja, os frontes americano e russo, eles tentaram contar histórias que videogames deveriam contar sobre a guerra. É um objetivo admirável, mas o problema é que só os cenários mudam. Battlefield V não pede aos jogadores para invadir as praias da Normandia ou manter a posição em Stalingrado. Na verdade, jogamos do mesmo jeito ou pior que nos jogos de tiro da Segunda Guerra que saíram mais de uma década atrás.
Na campanha da força tirailleurs, o jogador tem que correr por uma série de partes de cenário largos o suficiente para fugir da acusação de serem corredores. Você atira nos vilões e explode coisas. É exatamente a mesma coisa que fiz em todas as campanhas single player anteriores de Battlefield, e Battlefield V é o 16º título da franquia.
Também há pontos em que o jogo recomenda uma abordagem stealthy, mas essas sessões parecem costuradas de qualquer jeito. Os jogadores podem espiar, se esgueirar e jogar munição usada para chamar a atenção dos nazistas, mas não há uma necessidade real de passar por essa dança quando você pode abrir caminho explodindo tudo mais facilmente.
Numa sessão stealth, eu deveria tomar esconderijos de armas e uma torre de rádio antes de disparar um sinal para começar o ataque. Toda vez eles me notavam e eu era morto, e depois de um tempo chato pacas tentando jogar o jogo do jeito que ele me pedia pra fazer, simplesmente disparei o sinal e corri para a base nazista. Meu esquadrão fez um trabalho rápido com os alemães e fiquei imaginando por que o jogo queria tanto que eu fosse discreto em primeiro lugar.
Enquanto isso acontecia, fiquei pensando no Doom de 2016. A desenvolvedora Id Software relançou a franquia clássica sobre matar demônios mas dobrou o assassinato de demônios, simplificou os mecanismos e ampliou tudo até o volume 11. Doom era tudo que os jogadores gostavam na franquia, mas destilado e aperfeiçoado. Se Battlefield quer continuar com a campanha single player, é hora de repensar o que eles estão fazendo. Mas talvez eles devessem se livrar de vez das campanhas single player.
O multiplayer de Battlefield V é muito mais divertido. A habilidade extra de construir fortificações, um sistema de progressão mais interessante e poder criar seus próprios desafios são adições bem-vindas e que foram refinadas durante mais de uma dúzia de jogos. Mas não dá pra pular o single player. Na primeira vez que você joga Battlefield V, o jogo te lança na abertura do single player e te obriga a passar por cada cenário, o que não deixa uma boa impressão. Comparado com o multiplayer, a campanha single player parece resíduo. Battlefield começou como um jogo multiplayer e talvez seja hora de voltar a essa era.
E Battlefield não seria o primeiro a tomar esse passo. Call of Duty deixou a campanha single player para trás este ano e passou a se focar no jogo online.
O estilo antologia do War Stories é uma boa ideia, mas Battlefield V não consegue sustentá-la. Toda vez que morria, eu dava um longo suspiro, me preparando para tentar de novo e rezando pra passar de fase para poder voltar para o multiplayer muito mais interessante.
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