Sexo

Passamos um dia com uma boneca inflável humana

No Quarto 111, num hotel popular do distrito de Friedrichshain em Berlim, está uma boneca de borracha usando um traje completo de látex, saia com babados, corpete e um espartilho de borracha apertado. O cheiro do quarto é como se uma caixa de talco de bebê tivesse explodido numa borracharia. “Será que eu devia usar mais babados?”, a boneca se pergunta, olhando num espelho.

Enquanto usa o traje, a pessoa dentro dele usa o nome Die Gummipuppe (A Boneca de Borracha). (Concordamos em não revelar o gênero ou o nome real da pessoa.) Die Gummipuppe é relativamente famosa na cena de fetiche com bonecas, com cerca de 30 mil seguidores nas redes sociais. Os quatro vídeos que ela postou numa site pornô têm mais de 75 mil visualizações.

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É difícil dar um nome e descrição específica do fetiche exato de Die Gummipuppe ou seu lugar dentro da cena. Mas em seu perfil pornô, a pessoa diz: “Não quero viver sem sentir cada centímetro do meu corpo sempre coberto com borracha ajustada pras minhas medidas”.

Desde que se lembra, Die Gummipuppe — que atualmente trabalha “na política” — sempre gostou da sensação de ser “amarrada, restringida e objetificada”. Quando era adolescente nos anos 90, ela comprou o livro Female Rubber de Jo Hammer, um ex-fotógrafo da Playboy, que desencadeou seu interesse pela cena do látex. Em 2015, Die Gummipuppe comprou seu primeiro traje depois de encontrar um anúncio. Mas só atendeu o chamado dois anos atrás, quando começou a usar o traje completo de boneca de borracha. “Não tenho um fetiche com látex”, esclarece Die Gummipuppe. “Só gosto de materiais que escondem tudo que me faz parecer humana. O traje é meu lugar de paz.”

Die Gummipuppe sitzt auf ihrem Hotelbett, aus ihrem Gasmaskenmund hängt ein rotes Kondom
Die Gummipuppe gosta de usar trajes que escondem “tudo que me faz parecer humana”.

Ainda assim, a pessoa que acabou de dizer que não quer parecer humana quer saber se ficou bem no traje completo. Die Gummipuppe não está satisfeita, então acrescenta babados nos tornozelos e punhos, e coloca uma enorme máscara de gás preta para completar. Seus olhos rapidamente desaparecem atrás do vidro espelhado, apoiado num acessório de boca com buraco de ar e uma camisinha vermelha que infla a cada respiração. Finalmente, Die Gummipuppe coloca seus sapatos com salto de 12 centímetros e vamos para o elevador.

Estamos a caminho do último dia do German Fetish Ball Weekend, uma convenção anual que expõe as novidades do BDSM, chamada pelos organizadores de o “maior final de semana de fetiche da Europa”. O evento, que se encerra esta noite com um grande baile, acontece num prédio de tijolos vermelhos em Kreuzberg, sul de Berlim. Lá dentro, estandes de acessórios de couro S&M dividem espaço com palcos onde os apresentadores mostram a última tecnologia em aparelhos de tortura.

Eine Frau in einem Schuppen-BH berührt mit ihren spitzen Fingernägeln den Latexbusen
Uma fã conversa com Die Gummipuppe.

Assim que Die Gummipuppe entra no salão, a maioria das pessoas se vira para olhar. “Que máscara você mais gosta?”, pergunto, apontando para um dos estandes de S&M. Mas Die Gummipuppe continua em silêncio completo. Esqueci que a máscara de gás e a camisinha significam que ela não pode ver nem falar direito.

O traje foi criado por Susanne Kaiser, dona da marca Feitico de Berlim. “Você está maravilhosa”, diz Kaiser quando vê Die Gummipuppe, quase sem parar enquanto prepara uma máscara para outro cliente.

De tempos em tempos, Kaiser e Die Gummipuppe se encontram no estúdio da estilista para discutir novos trajes e conceitos. O traje de hoje levou 20 horas para ser feito, e é um dos oito trajes completos,15 máscaras e três espartilhos que Die Gummipuppe tem, que custaram entre 5 e 6 mil euros.

Die Gummipuppe sitzt auf einer Sofabank, beobachtet von einer eine Bockwurst verzehrenden Frau

Continuamos andando pela feira, parando sempre para tirar selfies com fãs. Momentos atrás Pitt chegou, que é meio que o fotógrafo pessoal de Die Gummipuppe, e ele tira fotos enquanto seguimos pelo salão. Eles geralmente vão a festas de fetiche juntos. “Die Gummipuppe é muito autêntica”, diz Pitt. “Nada nela é encenado. Dá pra ver que ela gosta de ser submissa, de servir como uma boneca.”

A máscara de gás agora está pingando água condensada no decote do traje. Há poucas pessoas aqui vestidas do mesmo jeito. Uma delas é uma artista de fetiche suíça conhecida como Black Star, usando um traje completo de látex com espartilho, botas de salto alto e, claro, uma máscara de gás. Die Gummipuppe e Black Star têm uma sessão de fotos juntas marcada. A dupla sai do prédio e anda cuidadosamente pelos paralelepípedos da rua, passando por duas jovens mães que precisam explicar para os filhos que tem pessoas dentro daqueles trajes.

Die Gummipuppe steht vor einer Backsteinmauer, Wasser tropft auf ihr Dekollete
Die Gummipuppe posa para uma sessão de fotos.

Para a sessão, Die Gummipuppe e Black Star se abraçam e ajoelham diante da câmera. Em certo ponto, Die Gummipuppe pega a mangueira da boca de Black Star e suga o ar. “Que calor”, reclama Black Star mais tarde, quando o sol de verão começa a esquentar o látex preto.

Em certo ponto, sem querer, chamo Black Star pelo seu nome verdadeiro, e Die Gummipuppe me lembra para usar apenas seus “nomes de avatar” enquanto elas estão no personagem. Mas é difícil pensar nelas como bonecas, não humanas, depois de ter que limpar suor de silicone do banco de trás do táxi que nos trouxe do hotel para a feira.

Eine Person in einem Ganzkörperlatexanzug kniet vor der stehenden Gummipuppe, die nach dem Schlauch der Gasmaske greift
Black Star e Die Gummipuppe em sua sessão de fotos conjunta.

Die Gummipuppe está no traje há quase três horas agora, e imagino que camadas e camadas de suor estão começando a se acumular dentro da roupa, então ela decide que é hora de ir embora. Jogo dois copos de água sobre a máscara de gás de Die Gummipuppe antes de irmos, mas só algumas gotas passam pelo buraco de respiração da máscara.

No hotel, abrimos o zíper do pescoço no traje e tiramos o espartilho. “Ninguém consegue se vestir assim 24 horas por dia”, me diz Die Gummipuppe quando tira suas botas — enquanto a água e suor evaporam no fundo — e se torna humana de novo.

Ein Latexanzug hängt auf einem Kleiderbügel im Hotelzimmerbad
O traje de látex de Die Gummipuppe pendurado no banheiro depois que ela volta a ser “humana”.

Die Gummipuppe decide não ir ao baile desta noite, cansada dos eventos do dia e de ficar presa num traje de látex nesse calor. Depois de tomar banho, com as mãos ainda sujas de silicone, ela me diz que, num cenário ideal, hoje teria sido um dia mais excitante. Die Gummipuppe teria preferido ser levada pela feira numa coleira. Melhor ainda seria se, enquanto ela estivesse de joelhos, “alguém tirasse o pinto para fora da calça espontaneamente e fodesse minha boca”.

Die Gummipuppe zeigt uns auf ihrem Smartphone ein Instagram-Foto vom Vortag: Sie steht komplett in Latex am Ufer auf der Hotelterrasse, im Hintergrund fährt ein Partyboot über die Spree

Isso nunca aconteceu nesses dois anos como boneca de borracha, mas Die Gummipuppe explica que excitar os outros é seu principal objetivo. “Quero que as pessoas pensem em mim quando transarem com uma boneca inflável”, ela diz. “Um fetiche não funciona realmente sem imaginação.”

Matéria originalmente publicada pela VICE Alemanha.

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