Esta é uma boa foto? (ColorPlay de Photo Illustration Man. Cortesia de www.fotokunstmann.de.)
Num momento de introspecção precoce, uma vez perguntei para minha professora de fotografia sobre como ela marcava todas as fotos de moda mega saturadas em preto e branco de pessoas fumando que ela entregava para nós como sendo boas, “Quando é uma questão de gosto ou opinião pessoal e tal?”. Ela me deu uma resposta vaga e risível que envolvia as palavras “composição”, “profundidade de campo” e “iluminação”, mas eu sabia que ela só queria se livrar de mim para voltar a tomar café e paquerar o assistente. Desde então, o conceito do que faz uma fotografia ser “boa” me deixa perplexo.
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Fotografar não é como pintar, ilustrar ou esculpir. Literalmente, qualquer pessoa que tenha mãos pode tirar uma foto (que saco para vocês, vítimas de bombas), mas você ainda ouve os nomes de alguns fotógrafos serem comentados por aí em tom sagrado. O que faz as fotos de gente transando da Nan Goldin melhores do que as fotos pornôs amadoras que acabei de tirar? E por que aquele editor pretensioso de blog de fotografia olhou com desdém para o retrato monocromático que você fotografou, mas até bate uma punhetinha comemorativa para uma foto que o Irving Penn fez há 40 anos?
Agora, todo mundo com um smartphone e internet já é um fotógrafo profissional, então, decidi que era hora de trabalhar num sistema fácil para identificar o bom e o ruim. Dessa forma, vamos poder nos sentir envolvidos por aquela névoa de autossatisfação pseudo-cultural e rir de todo o resto do mundo por serem uns completos idiotas.
OBSERVAÇÃO #1: DINHEIRO = QUALIDADE
E essa foto? É boa?
Se aprendi alguma coisa nos últimos 23 anos como ser humano é que, se alguma coisa é boa, vai ser muito mais cara do que todas as suas contrapartes – como tomates “Taste the Difference”, ou uma morte relativamente pacífica numa clínica na Suíça. Então, seguindo essa lógica, vamos ver três das fotos mais caras já vendidas:
(Rhein II de Andreas Gursky. Cortesia de Christie’s Nova York.)
#1. Andreas Gursky, Rhein II. Preço: US$4.372.329.
Alguém (que presumivelmente não liga muito em gastar seu dinheiro) deu US$4,3 milhões por essa imagem de um caminho perto de um gramado perto de um rio, fazendo dessa a foto mais cara já vendida. Citando, literalmente, todo mundo que já viu essa foto: “Não, eu não pagaria por isso. Posso fazer uma dessa com uma câmera descartável e uma passagem de trem para Bognor”. Um ponto difícil de argumentar. Então, o que torna essa foto tão cara/boa? A “regra dos terços” parece ter sido trabalhada aqui, mas será que uma regra arbitrária inventada há 200 anos para fazer a fotografia parecer mais complicada do que é realmente justifica esse gasto?
(Untitled #96 de Cindy Sherman. Cortesia da artista.)
#2. Cindy Sherman, Untitled #96. Preço: US$3.920.890.
A Cindy Sherman tem duas fotos na lista das fotos mais caras já vendidas, então ela deve ser boa, certo? Definitivamente, fiquei mais imerso nessa foto do que na do rio – o que será que ela leu naquele papel para ficar tão chateada? O que está acontecendo fora do enquadramento? Será que roupa laranja é uma boa escolha para quem tem cabelo ruivo? Etc. Mas o fato de que a imagem provoca perguntas significa que essa é uma boa imagem? Eu me questiono toda vez que ouço Radiohead porque odeio todas as músicas deles. Isso significa que questões internas são ruins? E por que você vai gastar todo esse dinheiro numa coisa que vai fazer você se sentir mal?
(Dead Troops Talk de Jeff Walls. Cortesia do artista.)
#3. Jeff Wall, Dead Troops Talk. Preço US$3.695.139.
Gastar milhões de dólares numa impressão fotográfica é a melhor maneira de chutar a bunda de uma criança faminta, porque impressões são apenas isso: impressões. Uma pintura original do Rothko é tão cuidadosamente trabalhada que você consegue examinar cada camada de tinta que ele aplicou (o que justifica gastar US$55 milhões em arte, em vez de dar isso para crianças moribundas), enquanto a impressão original de Jeff Wall que você compra no leilão já começa sua vida como uma réplica, porque é isso que todas as impressões são: réplicas do negativo.
Apesar de tudo, reconheço que pagaria US$3.6 milhões nessa foto. Isso porque ela tem ambiente suficiente sobre o qual eu poderia falar com uma francesa gostosa sem morrer de vergonha.
Em resumo: para uma foto ser boa, ela precisa ser monótona, fazer você se sentir mal e também – por definição – não ser original.
OBSERVAÇÃO #2: PESSOAS MORTAS TIRAM FOTOS BOAS
(Hyères, França, 1932 de Henri Cartier-Bresson. Cortesia do artista.)
Assim como ninguém dava bola para o Elliot Smith até que ele superou a si mesmo, fotógrafos nunca se tornam grandes até estarem desprovidos de vida. Henri Cartier-Bresson, Helmut Newton, Richard Avedon, Diane Arbus, Irving Penn e basicamente todas as pessoas que apareceram no Google quando pesquisei “Quem é o melhor fotógrafo de todos os tempos?” morreram aaaaaaanos atrás.
Em resumo: Para tirar uma boa foto, você precisa estar morto.
OBSERVAÇÃO #3: OS CRÍTICOS DEVEM SABER
Vamos ver o que alguns especialistas pensam, examinando os últimos ganhadores do World Press Photo Awards, amplamente considerada a maior honraria concedida a um fotógrafo (exceto quando o Tyler Shields tuíta um link para seu site, claro).
(Sanna, Yemen por Samuel Aranda – 2012 World Press Photo of the Year. Cortesia do The New York Times.)
Vencedor de 2012 – Sanaa, Yemen por Samuel Aranda
Esta foto mostra uma mãe segurando seu filho depois de ele ter levado gás lacrimogêneo na cara num protesto no Iêmen, onde pelo menos 12 pessoas morreram e mais de 30 ficaram feridas.
(Bibi Aisha de Jodi Bieber. Cortesia do Institute for Artist Management / Goodman Gallery para a revista Time.)
Vencedora de 2011 – Bibi Aisha de Jodi Bieber.
Esse é um retrato de Bibi Aisha, uma garota afegã de 18 anos que foi dada para uma família de combatentes do Talibã para resolver uma disputa entre as respectivas famílias. Ela foi forçada a se casar quando atingiu a puberdade e depois abusada pelos pais do marido. A garota fugiu de volta para seus pais porque ninguém gosta de ser espancada pelos sogros. Depois, acabou sendo localizada, levada para uma clareira nas montanhas e teve suas orelhas e o nariz cortados como punição por ter fugido.
Jesus Cristo, isso é muito deprimente. Para uma foto valer o WPPA ela aparentemente tem que te fazer involuntariamente se encolher em posição fetal e chorar toda a água para fora de seu corpo. Então, a próxima dica do que faz uma boa foto é: se ela instantaneamente faz você querer se matar para fugir de todo o horror e mal do mundo, você tem uma vencedora.
Obviamente, negligenciei alguns outros gêneros de fotografia aqui – imagens de estoque, fotos de casamento, fotos de comida, etc. – mas nunca ouvi ninguém dizer “Essa foto de um Papai Noel caipira chupando pirulito com certeza está entre as imagens mais icônicas da idade moderna”, então, podemos deixá-las de lado por enquanto. Temos também todos os fotógrafos hipsters, mas isso é todo um outro departamento com sua própria configuração de regras e códigos, normalmente envolvendo dialética sem fim e balançar a cabeça seriamente para fotos de minas pálidas numa floresta, então, também vamos deixar isso de lado por enquanto.
Em resumo: para que uma foto seja boa, ela precisa fazer você odiar a humanidade.
OBSERVAÇÃO #4: UM PROFISSIONAL DEVE SABER
(Portraits of Team USA 2012 de Joe Klamar. Cortesia de Joe Klamar/ AFP/ GettyImages)
E esta foto do time olímpico norte-americano de taekwondo? É uma boa foto?
Num esforço final para entender o que faz uma foto ser boa, pensei em conversar com um conhecido meu chamado Lysha. Ele acabou de organizar um leilão de fotos para a casa de leilões Bloomsbury (uma casa que os entendedores de arte velhos de monóculo respeitam). Achei que ele podia me arrastar para fora do abismo escuro e sem cultura em que estou preso e iluminar meu caminho para a compreensão.
VICE: Lysha, me diz, o que faz uma foto ser boa?
Lysha: Isso, definitivamente, varia de foto para foto, mas uma boa composição ajuda, e se ela tem uma história por trás e um bom assunto, então é uma foto legal.
O que é uma boa composição? Algo que segue a “regra dos terços”?
Não, definitivamente, não. Acho que se você vir uma foto e gostar dela, então é uma boa foto, quer ela siga a “regra dos terços” ou não. Óbvio, fotos que seguem a regra dos terços normalmente têm um visual bom – elas parecem mais profissionais – mas qualquer coisa pode ser boa, não precisa seguir nenhuma regra.
Por que você acha que um Gursky é vendido por milhões e fotos incríveis de fotojornalismo com temas reais não?
Bom, Gursky é visto como arte, enquanto fotojornalismo é visto somente como fotografia. Arte é vendida por quantias absurdas, obviamente, e é isso que acontece com o Gursky.
Você acha que as fotos precisam ter um conceito ou uma ideia por trás delas para serem boas?
Não. Isso pode definitivamente fazer uma foto ser mais interessante porque você tem alguma referência do que está vendo, mas se ela é esteticamente agradável, então ela é boa, sabe? E, se faz parte de um movimento, isso também pode ser bom. Como essa foto alternativa da capa do Abbey Road que está em nosso leilão e deixou a imprensa louca, mas essa foto da Dora Maar foi vendida por, tipo, três vezes mais, porque tem uma história incrível por trás. Ela era uma das musas do Picasso.
Em resumo: para tirar uma boa fotografia, você precisa ter transado com o Picasso.
Depois desse estudo de caso sobre fotografia, acho que podemos concordar sobre o que faz uma foto ser boa: preço, morte, antipatia e nepotismo.
Então, da próxima vez que você estiver vendo as fotos daquela viagem com os amigos e cruzar com uma particularmente engraçada de um macaco mijando no Johnny, você pode até dizer “Ei, que foto divertida”, ou “Que bom que a gente conseguiu tirar uma foto disso”, mas por nenhuma razão você deve chamá-la de “boa” – ou você será ridicularizado por todas as pessoas do planeta que você achava que te amavam. A não ser que mijo de macaco faça você se sentir triste e seu amigo que tirou a foto tenha morrido, aí tudo bem, seu sabichão e crítico expert de fotos.
Siga o Jamie no Twitter: @jamie_clifton
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