Música

Claude VonStroke de Frente com Miss Kittin – e Vice e Versa

Embora ambos sejam veteranos quando o assunto é Ibiza, Claude VonStroke e Miss Kittin tocaram juntos pela primeira vez na nossa querida ilha, unindo suas forças em um set lado a lado na festa de abertura anual do clube Ushuaïa. Em homenagem ao seu time baleárico, os dois DJs entrevistaram um ao outro, fazendo umas perguntinhas difíceis e compartilhando alguns elogios também.

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CLAUDE VONSTROKE: Há alguns anos, na Sérvia, você me proporcionou um pequeno discurso motivacional enquanto eu tentava descobrir como faria para tocar depois de um set do Richie Hawtin durante o nascer do sol para uma plateia gigantesca. Você me disse para eu ser eu mesmo e tocar música para a alma da galera depois de um set de techno pesadão.

MISS KITTIN: Rá! Eu me lembro do seu set incrível na Sérvia. A plateia era intensa e linda, mas não lembro de ter dado a você um conselho e definitivamente não lembro de você tê-lo seguido! Fico feliz em ter ajudado! Eu tenho esses momentos de dúvida o tempo inteiro. Geralmente, quando viajo com um amigo que gerencia turnês, sempre peço conselhos para ele. Ele já me viu tocar muitas vezes, me conhece muito bem. E ele me diz a mesma coisa: faça o que você sabe fazer.

Sou totalmente fã do seu design sonoro, o jeito que você trata o ritmo e a letra, a ambivalência constante entre “sério” e “tonto”. Cada faixa soa como um blockbuster descolado: uma linha de baixo, suspense com os elementos percussivos, humor nos efeitos vocais, plano de ação com breaks loucos e explosão no final. O quanto a sua música reflete sua personalidade? Eu não te conheço direito, a gente mal conversou e você parecia bem tímido, então estou curiosa.

“Eu apenas ouço toda e qualquer demo que me mostram

CLAUDE VONSTROKE: Posso ser muito tímido. Sempre tento sair do meu casulo mas às vezes posso ser extremamente quieto. É engraçado porque sou um grandalhão barbudo e acho que as pessoas às vezes confundem meu silêncio com autoconfiança, mas provavelmente não é o caso na maioria das vezes. Minha mente está sempre pensando em piadas politicamente incorretas, o tipo de coisa que você não pode falar em público sem ofender todo mundo, então às vezes eu só sou muito engraçado quando estou com meus amigos. Costumo me soltar mais nos shows e ficar mais relaxado quando está tocando música.

MISS KITTIN: Suas duas gravadoras e artistas diferentes formam uma família de outro mundo. Cada lançamento traz algo novo; a gente nunca sabe o que vem a seguir. Como você conseguiu descobrir esses talentos, criando um som tão vanguardista e com uma pegada old school ao mesmo tempo? Na verdade eu chamo de “new school”, porque no mundo de hoje, estamos em busca da modernidade junto de algo confortante do passado, reinventando nossas raízes.

CLAUDE VONSTROKE: Isso pode soar meio louco, mas na verdade é muito simples: eu apenas ouço toda e qualquer demo que me mostram. A partir dali, escolho algumas e toco nas baladas até ter certeza de que é a música certa para a Dirtybird. Dessa forma, descubro vários artistas novos todo ano. O único trabalho que eu tenho é ouvir tudo e seguir meu instinto sobre quais são as músicas certas.

MISS KITTIN: Você é de Detroit mas se mudou para São Francisco, o que é uma mudança um pouco estranha já que a maioria dos artistas de Detroit costumam ir para Chicago, Nova York ou Berlim.

CLAUDE VONSTROKE: Na verdade eu morei em vários lugares além de Detroit e San Francisco. Em Cleveland, Detroit, Connecticut, Nova York, Berlim, Oakland, San Francisco e Los Angeles, durante momentos diferentes da minha vida. A maioria das pessoas me associa a Detroit por ser onde meus pais moram, eu ter crescido lá e feito uma música chamada “Who’s Afraid of Detroit?”. Outras pessoas me associam a São Francisco porque foi onde comecei a Dirtybird e conheci toda a galera original da label. Mas agora moro em Venice Beach com a minha família, uma zona artística de Los Angeles que tem uma vibe parecida com a de São Francisco.

MISS KITTIN: Me lembro da minha primeira viagem para Detroit com o The Hacker em 1997, empolgada em fazer um show por 50 dólares, conhecemos pessoas incríveis que nos levaram pros rolês. Ainda falamos disso. Detroit tem um gostinho lendário para todos nós, mas você pode explicar suas raízes, a cena na qual você cresceu e sua mudança para São Francisco? Seu perfil parece bem diferente dos produtores comuns de Detroit.

CLAUDE VONSTROKE: Minhas raízes são basicamente hip hop e drum and bass. Eu sempre estava na crista da onda do que as pessoas curtiam, em Detroit especificamente. Era o único adolescente na minha escola que ouvia caras como Whodini, Spoony G e Egyptian Lover. Depois, quando voltei para Detroit para trabalhar em comerciais de carro, eu era uma das únicas pessoas que curtia drum and bass. Nunca me enquadrei muito bem em nenhuma cena. Até quando me mudei para San Francisco, o som que eu queria fazer nem existia de fato, mas acho que isso me deu mais vontade de me colocar à prova.

Também toquei violoncelo por 14 anos e você poderia dizer que eu devo tanto ou mais a grandes grupos como A Tribe Called Quest e Public Enemy quanto devo ao Roni Size, Isolée e Basic Channel. Também ouvi muito rock quando era criança, como Led Zeppelin, Journey, The Doors, Steve Miller Band, etc. Cleveland e Detroit, cidades em que passei a maior parte da minha infância, são grandes cidades do rock também. Paris foi um dos lugares onde mais me diverti. O que você acha de morar lá?

MISS KITTIN: Me mudei pra cá para ficar mais próxima dos meus amigos depois de dez anos morando fora. Nunca tinha morado em Paris antes, então era algo novo para mim. Nunca gostei muito daqui – achava a cidade muito estressante, cheia, agressiva; ainda sinto isso com frequência, mas viajar todo fim-de-semana é o melhor remédio. Gosto de sair daqui e voltar. Sobretudo, tenho uma vida social fantástica com amigos incríveis, e casa é onde seus amigos estão. Você nunca fica entediado. Tem tantas coisas para fazer – coisas até demais quando você precisa ficar trancada no estúdio. Me permito ser uma turista na minha própria cidade o tempo todo. É uma das maiores alegrias dessa cidade, zanzar por aí, sem saber onde está indo, sentar do lado de fora de um café para tomar um drink e ver as pessoas passando. É tão inspirador.

Você disse que Paris foi um dos lugares onde você mais se divertiu. Para mim, viajar é como respirar. É a melhor escola do mundo e o maior presente que a música já me deu. Você também se sente assim, mesmo que por morar na Califórnia você sempre acabe voando para lugares muito distantes? Como você lida com isso?

CLAUDE VONSTROKE: Amo viajar, mas meus filhos agora têm sete e oito anos, então talvez a décima segunda viagem para a Europa não seja tão empolgante quanto a primeira de cada ano. Mas de forma geral, é sem dúvida um presente incrível. Agora faço cada vez menos viagens para fora da América do Norte, o que torna a minha vida mais fácil, mas também me deixa triste de não visitar mais a Europa e todas essas outras cidades. Ainda bem que o mercado nos Estados Unidos está indo tão bem agora. Está me ajudando demais.

Quando estava em Paris conheci muitas pessoas divertidas. Acho que os americanos não entendem como as pessoas são engraçadas. Tudo o que você precisa fazer é passar do encontro inicial, todo mundo se soltar um pouco e aí é sempre muito divertido. Acho que isso é tão parecido com a minha personalidade que essa é a principal razão de eu curtir visitar Paris.

MISS KITTIN: Você tem esse projeto lado a lado com o Green Velvet, a.k.a Cajmere. Fiquei com muita inveja, aliás! Suponho que você toque com seus chapas da label com frequência; o que tem de especial nesse projeto? Por que vocês dois, além das influências musicais óbvias que vocês compartilham? O que está acontecendo por trás dos decks que a gente não sabe?

CLAUDE VONSTROKE: Quase nunca toco junto com outras pessoas. Por muitos anos recusei esse tipo de proposta, até que toquei com o Green Velvet. A única outra pessoa com a qual eu oficialmente dividi um set algumas vezes é o Justin Martin, mas só porque é muito, mas muito fácil para nós enquanto bróders de label. Mas com o Green Velvet a gente meio que tem um lance mágico onde estamos tocando músicas totalmente diferentes um do outro, mas tudo está fluindo naturalmente e dando certo.

Funk é muitíssimo importante para nós dois. Acho que é a coisa principal que queremos ouvir numa batida. Outro fator importante é que ele é o único artista que eu admirava quando estava começando. Eu respeitava muitos artistas, mas ele era o único com o qual eu queria parecer. Quando ouvi sua música, pensei que aquela era a música para mim.

MISS KITTIN: Falando em dividir um set…

CLAUDE VONSTROKE: Nós dois estamos indo às cegas para esse set [no Ushuaïa]. Nunca tocamos juntos antes, mas acho que é uma mistura legal. Nós dois curtimos tocar um leque muito amplo de sons. Isso pode ser arriscado ao dividir um set, mas também pode ser bem massa. O que você acha que vai acontecer?

MISS KITTIN: Eu amo dividir sets! Se os dois DJs são generosos e aventureiros, é bem emocionante. Bem mais divertido do que tocar sozinha. Dois universos colidindo para criar algo novo. Estou bem empolgada com este set. De todos os artistas do lineup, eu teria escolhido você. Toco várias produções suas, canto em cima delas às vezes. Nós dois gostamos de ironia, baixo pesado, grandes kicks, uma pegada sexy e letras bobas, então tenho certeza de que vai dar certo. Provavelmente vamos sorrir o tempo todo e terminar nos abraçando se tudo der certo! Mas é melhor deixar um ar de mistério e não criar muitas expectativas. Vamos nos divertir e o que rolar, rolou.

Os ingressos para a festa de abertura no Ushuaia em Ibiza estão disponíveis aqui.

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Claude VonStroke está no SoundCloud // Twitter

Tradução: Stefania Cannone