A última semana foi pródiga em acontecimentos polémicos em Portugal mas, para já, tudo pertence ainda ao reino do “alegadamente”.
Mesmo assim, o caso que envolve a EDP e o email que implica uma suposta rede de árbitros ao serviço do Benfica, revelam o quão difícil é mexer com os poderes instalados. A bem do sossego da nação, entenda-se.
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FC Porto, SL Benfica e Sporting CP já deviam ter descido de divisão?
Por aquilo que se foi vendo nos últimos 20 anos, os três grandes do desporto rei deviam ter sido altamente penalizados por actos fora-da-lei. Como escrevemos aqui, é impressionante como foi possível o FC Porto sair “vivo” do Apito Dourado (AD); na Segunda Circular, o Benfica viu um ex-presidente seu preso por fraudes enquanto dirigente daquela instituição, sendo que o actual líder encarnado também apareceu nas escutas do AD; e, recentemente, o Sporting viu um funcionário seu condenado por tentar incriminar um árbitro.
Só por estas matérias, a justiça desportiva devia ter sido duríssima e, quem sabe, estes clubes aprenderiam que “isto não é tudo deles” com uma descida ao “inferno” – isso mesmo, com bilhetes de ida para a Segunda Liga. Há pouco mais de uma década, após a descoberta de um esquema onde, entre outras intrujices, eram combinados resultados, a Juventus, a Lázio e a Fiorentina desceram à Série B italiana. Será que esta decisão seria possível com “águias”, “dragões”, ou “leões”, metidos ao barulho? Não nos parece.
Desde a semana passada, por causa de uma alegada troca de emails em Janeiro de 2014 (com prosa que inclui “padres”, “missas” e alguém denominado de “primeiro-ministro), está na mira um presumível envolvimento de árbitros com intenção de beneficiar o clube da Luz. Ontem, domingo, 11 de Junho, no Prolongamento, na TVI, um dos supostos envolvidos, Pedro Guerra (director de conteúdos da Benfica TV e, à época, comentador), revelou não se lembrar das mensagens escritas, mas deixou no ar que “talvez tenham acontecido”. No mesmo programa, descreveu com pormenor o que falou no encontro que teve com Adão Mendes (antigo árbitro e o outro interlocutor visado), na final da Taça de Portugal, em 2013.
O Ministério Público (MP) está no terreno e, seja qual for o resultado, não cremos que dê em nada. O início do processo não augura nada de bom. Não se entende o pré-aviso da Procuradoria Geral da República relativamente à abertura de um inquérito, travando, deste modo, o efeito surpresa da investigação e das habituais buscas por parte do MP. O “colinho” aos três maiores do futebol português é algo que a justiça não toca seriamente. O coração da bola parece ter tentáculos que a própria razão dos tribunais “desconhece”.
As caixas de comentários das notícias relativas a este caso estão on fire. Pelo facto de o FC Porto denunciar o Benfica por corrupção, lemos: “É como se o José Sócrates acusasse o Armando Vara”. Acrescentamos: este apontar do dedo, em certa medida, é similar ao que a Arábia Saudita fez ao Qatar, por este albergar terroristas. Haja telhados de vidro para esta gente toda.
As suspeitas andam por aí e o próximo campeonato vai estar em permanente alta voltagem. É que só o primeiro classificado vai directamente para a fase de grupo da Champions, o segundo tem que jogar a pré-eliminatória, e o terceiro cai na Liga Europa. Com tantos milhões envolvidos e tantas dívidas por saldar, não é surpresa nenhuma se mais roupa suja vier a ver o nascer do dia.
Por exemplo, as noites de terça, no Porto Canal, começam a deixar muitas pessoas nervosas e embaraçadas. Os benfiquistas pelas estrondosas revelações de Francisco J. Marques (director de comunicação do FCP) e, se “a montanha parir um rato”, os azuis e brancos por receio de futuras indemnizações por difamação e divulgação de correio electrónico privado.
Em segredo (ou não), os sportinguistas sonham que o “tetra” de Luis Filipe Vieira se transforme no campeonato da “treta”. A ver quem tem o tira nódoas mais eficaz, ou, simplesmente, quem é mais rápido a chegar a um qualquer Mr. I solve problems (ver vídeo abaixo).
Os milionário acordos na energia e outros três “tesourinhos deprimentes”
“Otários”, “mansinhos” e “adoráveis submissos”. Estas devem ser palavras e expressões utilizadas, ou, pelo menos, pensadas, por alguns (será “muitos”?) que ocupam altos cargos no nosso País, quando se referem ao povo que lhes “obedece”. Aliás, ao longo dos últimos 30 anos, com o despejar de milhões no quotidiano português via Bruxelas (e o melhorar das condições de vida da maior parte da população), gerou-se a ideia entre os poderosos que, por concederem imensos bombons ao “zé povinho”, o seu marisco tem mesmo é que ser “à grande”.
Soa a: “Os coitados viviam com 150 euros, agora têm 700, por isso qual é o mal de lhes pedir 200 em troca de taxas e taxonas, mesmo que estas não sejam necessárias/justificáveis?”. Os que mandam esfregam as mãos de contentamento, pois é raro o “mexilhão” averiguar os porquês desses pagamentos, desde que sobreviva com uma mesada que lhe garanta um estilo de vida melhor que a das anteriores gerações e, em alguns casos, equiparáveis aos europeus de primeira.
Com este tipo de mind setting, é natural que a classe política (e os seus “colegas”) se sinta intocável. Já foi muitíssimo pior – com os media a assobiar para o lado, a inexistência das redes sociais e cidadãos menos formados -, mas ainda há imensa poeira que parece não querer assentar.
Ultimamente, veio à baila um alegado esquema de corrupção da administração da EDP, em que o Ministério Público suspeita que a empresa beneficiou em mais de mil milhões, através de acordos com o Estado. Entre os arguidos já confirmados, estão as figuras de António Mexia (CEO da EDP) e João Manso Neto (CEO da EDP Renováveis).
Pelos vistos, a protecção dos sucessivos governos a esta empresa tem sido pornográfica. Aparentemente, por esta ser uma das razões de sermos dos europeus que pagam a electricidade mais cara, dá vontade de afirmar que “somos os noruegueses do Sul”. A média dos salários na sociedade é baixa, mas a pagar serviços somos amargamente top. Para tua informação, se por acaso andaste a cavalgar noutras realidades (NOS Primavera Sound, ou os Santos Populares), os últimos 10 dias deram-nos mais três “tesourinhos deprimentes”. A saber:
1- Uma deputada ligada ao sector da hotelaria foi uma das responsáveis da elaboração do projecto-lei relacionado com o alojamento local;
2- As novas zonas abrangidas pelo financiamento aos colégios privados beneficia familiares da directora que gere os contratos;
3- Existe a possibilidade de a Santa Casa da Misericórdia – que tem a nobre missão de ajudar os mais carenciados – investir num banco falido (o Montepio).
(Caso tenhas dúvidas, clica nos sublinhados e depois sim podes exclamar, “Como!?”)
Podemos não ser tão descarados como o que se passa no Brasil – onde do presidente ao mais desconhecido deputado, o rei vai corruptamente nú – , mas ainda vamos tendo, supostamente, muitos “piratas em mar alto”. Mais valia que fosse tudo ficção, como a cena escaldante que inclui duas loiras, uma pala e a imaginação de Tarantino (ver vídeo abaixo).