Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.
Já posei entre ruínas maias na Península de Iucatã, reclinada sobre praias de areia branca em Queensland e a fazer equilibrismo em pedras num lago irlandês cristalino ao pôr do sol. Posei na proa de um barco encalhado na Califórnia e montei a cavalo nua nos desertos do Utah.
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Estes são apenas alguns exemplos dos lugares inacreditáveis a que o meu trabalho me levou nos últimos dois anos e meio. Aos 24 anos, tive o privilégio de visitar 32 países em cinco continentes – algo que nunca teria conseguido sem o trabalho como modelo artística freelancer.
Tudo começou em 2011, quando tinha 18 anos e morava nos arredores de Toronto. Uma amiga estava a fazer sessões “trade for print” (TFP), em que não há troca monetária, para fotógrafos amadores. Adorei em particular uma das fotos que me mostrou. Eram nus artísticos, imagens captadas com luz natural e processadas a preto e branco. Trabalhar como modelo parecia ser algo divertido para fazer ao fim-de-semana, por isso abri uma conta no Model Mayhem e marquei algumas sessões TFP na minha zona.
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As primeiras sessões de fotos foram sempre com roupa. E, honestamente, foram meio constrangedoras. Eu não era nada natural e ainda não entendia como posar e agir. Apesar disso, adorei os resultados. Ajudou-me efectivamente com a minha auto-estima. Pensando bem agora, hoje em dia acho essas imagens bastante vergonhosas, mas quando tinha 18 eram incríveis.
Passado algum tempo, um fotógrafo com quem já tinha trabalhado abordou-me para fazer uma sessão nua, num cenário que ele próprio tinha construído. No estúdio, ele tinha montado uma grande caixa de madeira com luzes. Queria que eu posasse dentro da caixa, para imagens de silhueta.
A nudez nunca me incomodou e gostei da ideia, pelo que decidi aceitar. Fiquei surpreendida ao descobrir que me sentia muito mais confortável a posar nua do que vestida. Comecei a marcar sessões de foto nua nos fins-de-semana por entre a entre minha agenda da universidade. Não tardou a tornar-se a minha única fonte de rendimento. Quando me formei como assistente social, passei a maior parte do tempo a fazer trabalhos de modelo, enquanto procurava empregos na minha área.
Fiz a minha primeira “digressão como modelo” durante duas semanas e meia durante o Verão de 2015. A tour levou-me ao oeste do Canadá e deu-me um primeiro gostinho do que seria fazer isto a tempo inteiro. Adorei a experiência de trabalhar com um grupo tão diversificado de fotógrafos num período tão curto. A criatividade deles era inspiradora.
Foi durante essa digressão que comecei a considerar seriamente a possibilidade de modelar a tempo inteiro. Pensava que, se não resultasse, ainda tinha o meu diploma, portanto decidi tentar. Não demorei muito a perceber que, para conseguir ganhar a vida assim, seria necessário viajar o máximo possível. Quando ficas apenas num lugar, a tua base de clientes é limitada e há menos oportunidades de sessões. Mas, se vais a várias cidades num curto período, a demanda é mais alta e podes trabalhar todos os dias durante a duração da viagem.
Hoje em dia, passo pelo menos metade do meu ano em digressão. As minhas tarifas ficam confortavelmente entre os 125 dólares por hora e os 800 dólares por dia, o que me dá liberdade financeira para fazer dois meses de viagens pessoais por ano (além das digressões como modelo). Uma modelo iniciante, tipicamente pode esperar ganhar entre 50 dólares por hora e 300 dólares por dia, enquanto as modelos mais requisitadas ganham mais de 150 dólares por hora, ou mil dólares por dia.
Há muita gente que acha que essas digressões são apenas “glamourosas”, mas na maioria das vezes não é bem o caso. Um dos grandes equívocos é que as pessoas me pagam para viajar para esses lugares incríveis – mas na verdade isso é raro.
Como não tenho uma agência, normalmente posso decidir onde quero trabalhar. Como muitas no meu ramo, pago pela viagem e alojamento do meu próprio bolso. Depois, através das redes sociais, ou de mensagens privadas, informo os fotógrafos que estarei na sua zona. É assim que consigo encher a agenda e ter lucro.
Quanto aos clientes, os meus são bastante diversificados, mas geralmente caem numa de quatro categorias. Os mais comuns são os amadores, cujo hobby é a fotografia. Foto Kammer, por exemplo, é engenheiro de software. Trabalhámos juntos pela primeira vez no Canadá, mas ambos acabámos por imigrar para a Califórnia, pelo que foi lá que a maioria das nossas colaborações aconteceu.
As nossas sessões centram-se em nus artísticos e quase todas foram realizadas em paisagens muito bonitas. Geralmente, a maioria dos amadores com quem trabalhei não têm como objectivo principal verem as suas fotos publicadas, já que estão a fotografar principalmente por prazer.
O segundo grupo que tende a contratar-me são os profissionais a tempo parcial, que ganham a vida com um género diferente de fotografia. Quando conheci o fotógrafo de Toronto Adrian Holmes, a sua principal fonte de rendimento vinha de fotografar eventos, interiores e retratos pessoais, ou corporativos.
Trabalhámos juntos muitas vezes nos seus projectos pessoais, todos focados em nus artísticos, locais fechados, como uma mansão grandiosa, um bunker abandonado, ou uma casa histórica. Alguns dos nossos trabalhos já foram expostos em eventos de arte em Toronto.
Algumas vezes por ano, tenho também a possibilidade de trabalhar com fotógrafos de arte conhecidos, como Steve Richard. Steve contratou-me como modelo para um dos seus workshops de dois dias em Hamilton, Ontário. Nestes projectos, ensina técnicas de fotografia e iluminação de estúdio. Este é o cenário mais comum onde trabalho com fotógrafos de arte profissionais, apesar de às vezes me contratarem também para projectos pessoais.
Ocasionalmente também trabalho com tipos mais tradicionais de artistas, como pintores e desenhadores. Em Março, tive o privilégio de trabalhar com Sergio Lopez no seu estúdio de Santa Rosa, numa série de fotos de referência. Depois, ele usou as imagens para criar pinturas a óleo surrealistas, que recentemente foram expostas na Rehs Contemporary Galleries, em Nova Iorque.
Apesar da maioria dos meus clientes serem boas pessoas, há sempre uma maçã podre aqui e ali. Recomendo verificar sempre as referências da pessoa, mas tenho que admitir que, com o volume de sessões que faço – aproximadamente 250 por ano agora –, simplesmente não tenho tempo de pesquisar sobre toda a gente com quem trabalho.
Sendo assim, as ferramentas mais importantes que tenho para me manter segura são a minha intuição e bom senso. Pessoas que elogiam demasiado, enviam mensagens “só para conversar” em horas aleatórias, pedem “serviços adicionais”, que parecem estar a usar um portfólio falso, são sinais vermelhos para mim. Simplesmente evito trabalhar com eles e tenho a certeza que essa decisão já me poupou a muitos encontros negativos.
Apesar de tentar usar o meu melhor julgamento, às vezes acabo em situações desconfortáveis. Já levei palmadas, fui comida com os olhos e tive fotógrafos a fazerem intencionalmente fotos que mostravam mais do que tínhamos acordado antes. Uma vez em Los Angeles, um fotógrafo queria que eu assinasse um acordo que dizia que não me tinha obrigado a fazer nada contra a minha vontade antes sequer de a sessão começar. Quando recusei, disse-me que era ex-militar, e que, se quisesse magoar-me, poderia simplesmente trancar todas as saídas. Felizmente, estava a fazer bluff. Comparadas com as de muitas outras modelos, as minhas experiências têm sido moderadas. Apesar dos riscos, adoro o meu trabalho e não o trocaria por nada neste Mundo.
Infelizmente, sei que a minha carreira tem um prazo de validade. Apesar da área de modelo freelancer acomodar uma grande variedade de aparências e tipos físicos, geralmente é importante ter um visual jovem. Por essa razão, acho prudente ter um plano de reforma.
Até recentemente, pensava em voltar a ser assistente social, mas acostumei-me com a liberdade de trabalhar por conta própria. Felizmente, os meus pais ensinaram-me a ser responsável com o dinheiro, pelo que estou muito perto de conseguir comprar a minha primeira propriedade para investimento. O meu plano é ter pelo menos dois ou três imóveis a gerarem rendimento, quando acabar a carreira como modelo. Enquanto isso, planeio tirar o máximo dos anos que ainda tenho pela frente, criando a melhor arte que posso em cada mais locais do Planeta.
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