Hachiro Kageyama diz ter a maior coleção de meteoritos do planeta.
Escondido em uma lojinha de antiguidades cheia de estátuas de Budas, quinquilharias e pedaços de meteoritos em Tóquio, no Japão, ele adora fazer propaganda dos supostos poderes mágicos das rochas estelares para os clientes.
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“Você pode usar os meteoritos da minha loja para fazer um pedido ou para se curar. Quando o pedido vem do coração, ele acontece”, me disse Kageyama, com o semblante alegre, uma camiseta multicolorida e um chapéu de caubói.
O vendedor de meteoritos é uma subcelebridade local graças à sua paixão por pedras espaciais. Nos últimos meses, sua fama atingiu o ápice ao aparecer no programa do notório apresentador Takeshi Kitano, o Fenômeno Paranormal (Choujou Genshou X File), com Keisyu Kamiya, uma sacerdotisa xintoísta do templo Komitake, próximo ao Monte Fuji.
Decidi visitar a loja de Kageyama depois que um colega da VICE Japão me falou sobre o vendedor. Ao chegar lá, notei que o homem de 78 anos parece uma mistura de pintor boêmio com um velhinho saído de um conto de fadas japonês. Nas últimas décadas, ele ganhou a vida vendendo antiguidades e meteoritos em sua loja, a “Vila Espacial” (Uchumura). Aqui, Kageyama imagina o que existe além do planeta Terra. Ele desenha figuras alienígenas vistas supostamente por meio da telepatia e prega seu amor ao espaço enquanto, é claro, vende seus produtos.
Não pude confirmar se Kageyama tem de fato a maior coleção de meteoritos do mundo, mas ele insiste que sua coleção é a maior coleção “não-oficial” do planeta.
Kageyama afirma ter cerca de três toneladas e meia de pedaços de meteoritos em sua loja. Ele vende desde pequenas lascas de meteoritos Gibeon a meteoritos Imilac que pesam até 925 quilos e medem um metro de diâmetro. Além disso, oferece detalhes sobre a origem de cada meteorito em seu site. A loja também tem pilhas de adesivos e águas impregnadas com o que ele chama de “poder de meteorito” — um termo cunhado por Kageyama há 20 anos, quando ele “descobriu” que os meteoritos podiam afetar sua sorte, sua saúde e sua felicidade.
O interesse de Kageyama pelo espaço surgiu na infância. Ele explica que, no Japão pós-Segunda Guerra Mundial, os banheiros costumavam ficar fora das casas. Quando seus pais o levavam ao banheiro no meio da noite, Kageyama olhava com encanto para a imensidão acima de sua cabeça.
“Quando eu era pequeno, me perguntava como a Via Láctea, conhecida no Japão como ‘Ama no kawa’ (rio de pescador), não pingava na gente”, relembra Kageyama, cujos pais explicaram diversas vezes que a galáxia era feita de estrelas, não água. Isso atiçou a curiosidade de Kageyama, que juntou algumas lentes de vidro e papelão para criar seu próprio telescópio amador. “Foi assim que aprendi sobre as estrelas”, conta.
Fascinado pela visão do céu noturno, Kageyama viria a construir telescópios maiores nos anos seguintes. Em certo momento, construiu um foguete de madeira de 25 metros. Uma tela com imagens de Vênus, Júpiter e Marte dava a sensação de estar “lá no espaço”.
Na juventude, ele viajou pelo Japão com seu telescópio e ofereceu uma visão única do céu estrelado por onde passava. O Japão havia caído na miséria após a Segunda Guerra Mundial e, de acordo com Kageyama, as pessoas se encantavam com o que viam do outro lado das lentes.
Embora Kageyama construísse telescópios caseiros que permitiam estudar as estrelas, outra coisa dominava sua mente.
“Quando eu era adolescente, meu vizinho me mostrou um meteorito”, conta Kageyama. “Ele disse que me venderia por 100.000 yens (US$ 845 ou R$ 3453), mas na época eu não tinha essa quantia.”
Kageyama engavetou seu sonho de ter um meteorito e continuou a sustentar sua pesquisa astronômica com a venda de antiguidades. Mas os negócios começaram a afundar e sua grana acabou.
“Fui enganado: comprei um monte de antiguidades falsas e contraí uma dívida enorme pois não consegui vendê-las”, explicou. Kageyama — cuja família é dona do castelo Shimoda, localizado na região de Shizuoka, no centro do Japão — voltou para casa com o rabo entre as pernas, pedindo conselhos para seu pai.
“Meu pai me aconselhou a comprar um meteorito e fazer um desejo”, disse Kageyama, que pegou um pouco de dinheiro emprestado de seu pai para comprar uma rocha espacial. “Afinal, eles são estrelas cadentes”, pontuou.
Depois disso sua sorte mudou.
“Comecei a vender todas minhas antiguidades, e o dinheiro começou a jorrar”, disse Kageyama. “Eu soube na hora que havia descoberto o ‘poder dos meteoritos.’”
De volta à loja de antiguidades, Kageyama estende o braço e entrega a uma jovem uma pequena garrafa infundida com o poder de meteoritos e gotas de água salgada de três mil anos de idade. A jovem, cuja identidade será preservada, soube da loja de Kageyama pela televisão e veio para cá em busca de uma cura para sua doença.
“Essa água custa 5.000 yens (US$ 42), mas eu vou te dar de graça”, riu Kageyama, emulando um ar de descrença quando a jovem lhe perguntou se os adesivos mágicos também ajudariam a aliviar a sua dor. “É claro que eles ajudam, e você pode fazer um pedido também, sua boba!”, respondeu.
Quando visitei a loja, Keisyu Kamiya, uma sacerdotisa xintoísta vestida de preto estava disposta a explicar como a coleção de meteoritos de Kageyama a ajudou. Ao puxar um monte de papéis da bolsa, ela explicou como Kageyama descobriu que o contato com meteoritos aumentava a incidência de ondas alfa no cérebro, melhorando a saúde e aumentando a felicidade.
Embora Kageyama nunca tenha tido a oportunidade de sair da Terra, ele afirmar usar a telepatia para visualizar e desenhar alienígenas. Os resultados são desenhos fofos de criaturas parecidas com insetos que usam algo parecido com um chapéu de palha japonês.
“Existem infinitas estrelas no universo, e eu definitivamente acredito na existência de alienígenas. Acredito também que eles são muito mais inteligentes do que nós”, disse Kageyama.
Antes que eu deixe a loja de Kageyama, o velhinho faz sua famosa pose em frente a seu altar e me dá alguns adesivos mágicos e uma lasca de metorito. Em seguida, aperta minha mão com uma força surpreendente para alguém tão frágil.
“Venha me visitar de novo”, ri Kageyama. “Mas é melhor que você compre algo da próxima vez.”
Cool Japan é uma coluna sobre as novidades — sérias ou insólitas — nos campos científico, tecnológico e cultural do Japão. Nela, tratamos desde o desconhecido até o mainstream, focando em tudo de interessante que acontece no país.
Tradução: Ananda Pieratti