Crescer na Ericeira, entre 1979 e 1989, foi…
… ter à escolha quatro praias dentro da vila, e outras quatro ou cinco perto dela;
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… herdar inevitavelmente uma prancha e em cima dela apanhar porrada nas primeiras idas ao mar;
… desde cedo perceber que “rola” é a palavra local para a prática de apanhar carreirinhas quando a onda parte na areia (fazem-se verdadeiros homens no “rola”);
… despertar aos poucos para a puberdade ao ver suecas e holandesas em topless nas diversas praias;
… saber que a Discoteca Ouriço é aquele lugar inalcançável, onde os mais velhos vão para dançar e beber copos desalmadamente;
… estar no Jogo da Bola (largo central da vila) na certeza de que é o melhor sítio para encontrar adversários para jogar à carica;
… sonhar com idas a Lisboa por uma estrada impraticável que levava uma hora e meia a percorrer;
… ir quase todas as semanas ao Cine-Estúdio Ericeira ver filmes da Mónica, clássicos Disney e tudo o que fosse para menores de 12 anos (incluindo merdas insuportáveis como Greystoke – A Lenda de Tarzan, o Rei da Selva);
… saber perfeitamente que a febre dos Thundercats subiu à cabeça dos putos quando a vila se dividia entre Gatos e Ratos para andar à porrada;
… ficar desde cedo destinado a uma alcunha, que variava entre Cu de Bomba, Babão e Baleia Quatro;
… ansiar todos os anos pelo Dia de Espiga (feriado regional);
… ficar em êxtase perante a oportunidade rara de poder jogar “Kung-fu master”, “Bubble Bobble” ou “Ghosts ‘n Goblins” na máquina;
… inventar todo o tipo de regras loucas para o circuito de mini-golf do Parque de Santa Marta;
… reconhecer ao longe a voz da Bernardina, a grande diva que vendia bolas de Berlim e batata frita nas praias;
… identificar depressa os rostos do Steven e do Ninja Americano, dois dos mais temíveis malucos da vila;
… pegar em 30 escudos para ir comprar leite à UCAL;
… ser avisado pelos pais que a Mansão Burnay não é sítio para ir brincar (até porque as seringas usadas espalhadas pelo chão lhe davam muito mau aspecto).
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