Perguntaram uma vez ao cantor de jazz e contador de causos George Melly do que ele mais gostava em ficar velho. Perder a libido, ele disse: era como ser desacorrentado de um louco.
Entendo o que ele quis dizer. Agora que estou beirando os 40, as coisas se acalmaram, mas, quando eu era adolescente, minha libido quicava nas paredes, falava em línguas, era mais louca que o Batman. Praticamente tudo me excitava: o jeito particular que o motor do ônibus vibrava parado no farol vermelho, as fibras sintéticas das cuecas boxer… a lista era infinita.
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“Isso mesmo: sou um desses caras ridículos que já gozaram em si mesmos em público.”
Em algum momento, essa caldeira de desejo hiperaquecida cruzou com uma mulher de verdade. Os resultados, claro, foram desastrosos. Eu tinha 15 anos, a garota se chamava Lisa, e até hoje ela não sabe o papel que teve no começo das minhas desventuras sexuais. Digo desventura porque a festa, como dizem, foi na minha calça. Isso mesmo: sou um desses caras ridículos que já gozaram em si mesmos em público.
Isso aconteceu enquanto esperávamos para entrar na aula. Eu já estava de olho na Lisa há um tempo e, um dia, tentei flertar com ela. Ela deve ter decidido relutantemente que eu era a melhor opção na nossa classe de adolescentes bocós porque respondeu quando tentei toscamente puxar assunto. Começamos a nos esbarrar pelos corredores (que era como os garotos da minha escola comunicavam interesse sexual); assim, de um jeito ou de outro, me vi atrás dela, com os braços envolvendo seus ombros.
Eu podia sentir os seios dela pressionando meus antebraços. Um pequeno ajuste, pensei, e eu poderia tê-los nas mãos. O corredor estava se enchendo com outros alunos. Eu podia sentir os olhos deles em nós. O que eu estava fazendo? Mas Lisa parecia querer ir mais longe.
“Você é muito alto”, ela falou num tom suave, batendo sua bunda contra mim.
Tentei ficar frio. “Ah, é? Bom, você que é muito baixi…”
SPLUFF!
Contei essa história muitas vezes na vida, nem sempre usando a expressão “spluff”, mas sempre como uma anedota divertida. Parece natural fazer piada com isso, embora, na época, não fosse nada divertido. Especialmente porque minha experiência no corredor da escola acabou se mostrando um presságio da minha vida sexual pelos dez anos seguintes.
Ejaculação precoce, ou EP no linguajar médico, é a disfunção sexual masculina mais comum, muito mais que a impotência. A International Society for Sexual Medicine define a EP como uma condição “caracterizada pela ejaculação que sempre ou quase sempre ocorre antes ou dentro de um minuto depois da penetração vaginal“. Especialistas estimam que cerca de 30% da população masculina sofra disso em algum ponto da vida. Para alguns, isso é só uma fase; no entanto, para muitos outros, não.
“Um dos mitos sobre a EP é que isso é um problema dos jovens e que, quando você aprende a fazer sexo e fica mais consciente da sua excitação, o problema desaparece”, destaca o terapeuta sexual Ian Kerner, autor de diversos livros sobre as lutas das vítimas da EP. “Mas, na verdade, a maioria dos homens com EP sofre disso cronicamente por toda uma vida.”
Esses homens acabam se sentindo “deficientes sexuais”, diz o Dr. Kerner; ainda assim, a resposta cultural mais comum é rir do problema. Pense na cena clássica de American Pie na qual Jim goza em si mesmo duas vezes na frente da estudante sexy de intercâmbio ou no esquete do Lonely Island em que todo mundo está cantando sobre gozar nas calças.
Dr. Kerner comenta que essa tendência ao ridículo torna ainda mais difícil ter um diálogo sério sobre ejaculação precoce. “Pense em todas as questões sexuais que são discutidas na mídia todos os dias: disfunção erétil, falta de desejo feminino, vício em sexo, vício em pornografia. Você raramente ouve falar em EP.”
Também fazemos piadas com esses problemas, porém estamos preparados para levá-los a sério. O vício em sexo de um ator de Hollywood pode torná-lo objeto de escárnio, embora o fato de que ele seja capaz de admitir isso publicamente diga muito sobre a questão. Nenhum astro vai admitir ser um ejaculador precoce crônico.
Esse tabu cercando a EP significa que a maioria dos pacientes sofre em silêncio. Foi exatamente assim comigo. As únicas pessoas que sabiam eram as garotas que compartilhavam a cama comigo – e, às vezes, nem elas, já que quem tem EP se torna especialista em esconder isso.
Ed*, um contador de 23 anos do Texas, admite ser “um tanto intenso” para disfarçar sua EP: ele tem todo um protocolo para primeiros encontros sexuais a fim de que a parceira não descubra.
“Antes de começar, temos de estar numa casa ou em algum lugar onde eu possa escapar para um banheiro”, frisa Ed. “Então, começamos a nos beijar, e eu começo a estimulá-la com as mãos. Aí parto para o sexo oral.
“Se ela tenta tocar meu pênis antes disso, eu literalmente tiro a mão dela de lá e continuo me concentrando nela. Depois que ela tem um orgasmo, estou pronto para gozar; em seguida, digo que vou lavar a boca e corro até o banheiro, onde me masturbo.”
Ed culpa a EP por acabar com, pelo menos, dois relacionamentos seus. Nessa idade, eu tinha a mesma taxa de fracassos.
Alguns anos depois da Lisa, conheci uma garota chamada Vicky, que se tornou minha primeira namorada. Eu era totalmente apaixonado pela Vicky, apesar de todas as nossas tentativas de sexo geralmente terminarem antes mesmo de começar. Só de ter nossas partes nuas perto um do outro já era o suficiente para me fazer gozar. Fiquei tão devastado quando ela terminou comigo que – num gesto romântico, porém nada ecológico – arranquei a pulseira de plástico que ela tinha me dado e enterrei solenemente no fundo do quintal.
Como Ed, eu tive certeza de que Vicky terminou comigo por causa da minha EP. Eu ficava dizendo a mim mesmo que seria melhor da próxima vez, mas, sempre que a próxima vez chegava, o velho problema voltava. Minha relação com o sexo se tornou caracterizada pela evasão, fugindo de encontros quando as coisas ficavam mais quentes, mudando de assunto quando amigos contavam histórias sobre suas vidas sexuais e queriam ouvir sobre a minha.
Aos vinte e poucos anos, conheci uma garota com quem saí por um ano. Com ela, eu podia conversar sobre o problema; logo, concordamos que eu devia procurar ajuda. Contei ao meu médico, que me indicou um urologista. Ele era um homem sombrio, frio e nada simpático. Depois de ouvir minhas explicações gaguejadas, ele me falou sobre algumas técnicas comportamentais que eu podia tentar com a minha namorada, a principal sendo “o apertão”, que parece mais uma dança da moda da era do jazz – embora envolva sua parceira apertar a ponta do seu pau quando você sente estar próximo de gozar.
O apertão foi desenvolvido nos anos 60 pelos inventores da terapia sexual, William Masters e Virginia Johnson. Antes de Masters e Johnson, tratamento para EP era considerado desnecessário, porque, até pouco tempo atrás, o mundo era dominado por homens que não davam a mínima para o prazer sexual feminino e não viam necessidade de prolongar a satisfação mútua no sexo. Mesmo o famoso sexólogo Dr. Alfred Kinsey, que mostrou como somos pervertidos com suas pesquisas sexuais nos anos 50, não achou nada de anormal ao descobrir que 75% dos homens relatavam ejacular dentro de dois minutos em pelo menos metade dos encontros sexuais.
Quando os psicólogos começaram a levar a EP a sério, sua principal contribuição foi estigmatizar os homens com o problema. Vejam, por exemplo, este estudo psicológico de 1933. Ele atesta num capítulo chamado Anfimixia do Erotismo no Ato Ejaculatório: “Pacientes que sofrem de ejaculação precoce manifestam a mesma atitude de indiferença com o sêmen que demonstram com a urina, ou seja, como uma excreção sem valor do organismo”. (Um grande contraste, suponho, com o resto da população masculina da época, que, com certeza, tratava seu sêmen como o elixir da vida que isso é – até guardando um vidrinho de suas gozadas mais memoráveis na prateleira de troféus.)
A técnica do apertão não funcionou para mim. Minha namorada achou estranho; logo, depois de algumas tentativas, paramos. Tentei sprays retardantes e uso de camisinha para entorpecer a sensibilidade, porém isso também não funcionou. Alguns meses depois, ela terminou tudo, me dizendo que nossas vidas estavam indo em “direções diferentes”, mas claro que eu sabia a verdade.
Nesse ponto, abandonei as esperanças de ter uma vida sexual normal. O único consolo era que eu conseguia fazer as garotas gozarem. Sexo oral é a carta na manga do ejaculador precoce: Ed chama a prática de “seu melhor amigo”, enquanto o Dr. Kerner escreveu um best-seller sobre isso chamado She Comes First, no qual destaca “uma metodologia para levar as mulheres ao orgasmo” através da cunilíngua.
Eu me tornei quase um gênio do oral, embora continuasse insatisfeito. Por que eu não podia compartilhar esse prazer com alguém através do sexo? O problema é que, quanto mais obcecado eu ficava com minhas limitações, mais meus sintomas cresciam – como uma profecia. A Dra. Madeleine M. Castellanos, uma psiquiatra de Nova York especializada em terapia sexual, informa que isso é muito comum em pacientes que apresentam EP.
“Um dos meus principais objetivos com todos os homens que sofrem de EP é melhorar a qualidade de seus pensamentos”, destaca a Dra. Castellanos. “Descobri que, quando os homens têm pensamentos positivos, cheios de erotismo e livres de ansiedade, eles têm muito mais sucesso em superar a EP, comparando com aqueles que interpretam cada pensamento e sensação com negatividade e autocrítica.”
Que parte da EP diz respeito a um problema psicológico e quanto dela é realmente um problema físico? Trata-se de uma questão controversa na comunidade de terapia sexual. Dr. Kerner, que está firmemente no segundo campo, cita uma pesquisa para sugerir que isso seja uma questão neurobiológica ligada ao equilíbrio de dopamina e serotonina. “Isso provavelmente é genético e também pode ter a ver com a sensibilidade dos nervos do pênis.”
Dr. Kerner apoia tratamento médico, incluindo-se, como último recurso, antidepressivos de classe ISRS, que se mostraram úteis no tratamento de EP, já que um dos efeitos colaterais é a diminuição do desejo. Ele também faz parte de uma pesquisa com a empresa que produz o Promescent, um spray com lidocaína que funciona como agente retardador.
Do outro lado do espectro, a Dra. Leonore Tiefer, professora do departamento de psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Nova York, é totalmente contra a ideia do uso de medicamentos para o tratamento de ejaculação precoce. “Isso significa ver a EP como uma condição médica. Isso é um problema, porque nada está errado – ejaculações rápidas, ejaculações médias e ejaculações demoradas são pontos de um contínuo de variação”, ela me falou. “Algumas culturas, alguns parceiros, algumas circunstâncias pedem ejaculação rápida, demorada ou média. Não existe normal.”
O Dr. Tiefer acha que o entendimento atual do público sobre a EP é confundido pela indústria farmacêutica, o que é apoiado por médicos que são rápidos em diagnosticar doenças e prescrever remédios. Há maneiras, segundo ela, de ensinar os homens a gozar mais lentamente, mas “os indivíduos envolvidos têm de estar interessados, cooperar e praticar técnicas e exercícios”.
Ed, que conta ter experimentado o Promoscent e achado ineficaz, não sabe quanto da EP está na sua cabeça; no entanto, ele diz haver um limite quanto à terapia comportamental que Ed se sente preparado para fazer. “Não vou fazer horas de prática tântrica; então, faço o que posso para controlar meu ambiente e respirar devagar”, ele relata.
Quando eu tinha 25 anos, passei um verão na Toscana trabalhando como guia turístico. Lá, conheci Daniela: essa italiana de olhos negros inadvertidamente “curou” minha EP quando me apresentou os prazeres do sexo chapado. Não sei se os efeitos da maconha em mim eram principalmente físicos ou psicológicos, mas, na época, claro, não me importei. Eu finalmente conseguia transar por um longo tempo, fazer as garotas gozarem com a penetração e praticar todas aquelas posições sexuais com que eu fantasiava há anos. Foi incrível.
Depois da Itália, maconha se tornou um ingrediente necessário para minha vida sexual – e, por um tempo, se não tinha um baseado comigo, eu ficava nervoso. Não fumo mais maconha hoje em dia. E, apesar de ter usado isso no sexo na minha relação atual e ter sido ótimo, transar sem erva também é ótimo. Embora, algumas vezes, eu ainda faça uma bagunça nos lençóis – mas estou aprendendo a lidar com isso.
Dr. Kerner acredita que a EP não pode ser curada, apenas tratada. Ele pode estar certo, porém fico imaginando se essa distinção realmente importa. Achei mais interessante a observação da Dra. Tiefer de que não existe normal. E, mesmo não negando haver algo intrinsecamente engraçado em gozar na própria calça, também é verdade que você está rindo de uma hipersensibilidade que, se controlada, pode render o tipo de amante supersensível que tantas mulheres procuram.
Ed teve um encontro recentemente cuja ejaculação precoce, pela primeira vez em sua vida adulta, não foi um problema. Ela gozou três vezes, a última delas depois de uma hora de sexo. O que ajudou essa experiência a ser tão diferente?
“Acho que foi a garota que tornou isso único, porque ela era muito madura”, ele disse. “Fui 100% sincero sobre meu problema, e ela achou normal. Ela teve vários orgasmos e me mandou mensagens a semana inteira.”
*Alguns nomes foram mudados.
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Tradução: Marina Schnoor