Como vem sendo praxe, o quarto debate pela prefeitura de São Paulo, realizado pelo SBT na tarde desta sexta (23) foi novamente morno. É aquele misto de regras engessadas, todo mundo na defensiva na reta final e pouco tempo de propaganda gratuita na TV, que leva os candidatos a mais levar a sua plataforma para o debate do que tentar desconstruir a candidatura alheia.
As personas encarnadas pelos candidatos continuam as mesmas do debate anterior, realizado pela TV Gazeta no domingo: Major Olímpio (SD) tentava ser polêmico; Luiza Erundina (PSOL) tentava ser incisiva, mas parecia estar falando na Câmara dos Deputados; Fernando Haddad (PT) apelava para o que imagina ser o bom senso do eleitor; Marta Suplicy (PMDB) apostava no approach carinhoso; Celso Russomanno (PRB) se jogava no charme de defensor dos direitos do consumidor e, por fim, João Doria (PSDB), marqueteiro de si mesmo, insistia em se dizer “gestor, “gestor”, “gestor”.
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Imagem: Reprodução/SBT.
Quem voltou à praça foi a redução de velocidade nas vias expressas da capital, ponto de discórdia contra o atual prefeito Haddad, que afirma que a medida reduziu mortes e melhorou o tráfego na cidade — Doria perguntou a Olímpio sobre o assunto, e ambos concordaram que, caso eleitos, voltariam com os limites anteriores. Saúde continuou sendo um tema importante, com Doria defendendo seu programa Corujão (sim, para as pessoas serem atendidas de madrugada), Russomanno voltando a falar sobre informatizar o sistema, Marta prometendo ampliar os horários das Unidades Básicas de Saúde e Haddad tentando se explicar sobre as contínuas filas de atendimento na saúde municipal.
Para não dizer que tudo foram flores, Olímpio questionou Marta sobre o impacto que o ajuste fiscal patrocinado pelo PMDB no plano federal teria no orçamento do município — obviamente Marta driblou a pergunta falando que “sempre votou com o trabalhador”. Olímpio também deu uma espetada em Doria, perguntando sobre os escândalos de corrupção do PSDB — o tucano arrancou risos da plateia ao dizer que o PSDB não estava envolvido em suspeitas de formação de cartel.
Imagem: Reprodução/SBT.
Erundina, por sua vez, começou falando sobre IPTU e depois tergiversou numa pergunta trivial sobre iluminação pública de Doria para descascar a lista recente de escândalos relacionados ao televisionável candidato: falou do terreno que Doria invadiu em Campos do Jordão e também dos R$1,5 milhão pagos pelo governo do estado de São Paulo (cujo governador, Geraldo Alckmin, é o principal apoiador de Doria dentro do PSDB) para o grupo de Doria, incluindo um publieditorial de meia milha veiculado na revista Caviar Lifestyle. Dória brincou com as alegações sobre o terreno invadido: “não estou querendo me eleger prefeito de Campos do Jordão, mas de São Paulo”.
Imagem: Reprodução/SBT.
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O que ajudou a esquentar o debate, apesar da organização um pouco bagunçada (quase deixaram a Marta atravessar a ordem de perguntas) foram as perguntas dos jornalistas. Marta foi confrontada sobre o que chamou de “mentiras” dos atuais aliados (no caso o seu vice, Andrea Matarazzo, do PSD), que haviam dito que ela deixou a cidade “quebrada”. Haddad teve que rebolar ao ser lembrado do seu baixo apoio na periferia e Doria rechaçou uma comparação com Dilma em relação a sua pequena experiência em gestão pública. Russomanno, por sua vez, teve que explicar como a redução do ISS não impactaria as contas do município e até Olímpio teve que se explicar sobre as suas constantes mudanças de partido.
Na última semana antes das eleições a treta só tende a se acirrar, mesmo que não seja nos debates. O empate técnico divulgado pelo Datafolha nesta quinta (22), com Doria na frente e Russomanno despencando, além da estagnação de Haddad, deve promover uma semana de trabalho árduo entre as candidaturas — no campo da esquerda, não falta quem apele à Erundina para desistir da disputa em apoio a Haddad, por exemplo. Como bem dizia Lenny Kravitz, só termina quando acaba.