Músculos veganos: humanos herbívoros que batem recordes


David Carter, vegano e jogador profissional de futebol americano. Imagem via

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Espanha.

O homem mais forte do Mundo, Patrik Baboumian, meio alemão, meio arménio, é capaz de levantar 190 quilos e faz uma dieta 100 por cento vegetariana. Pesa 120 quilos, treina numa garagem com bidões que enche com pedras e, ao contrário das recomendações gastronómicas que regem o fisio-culturismo, Patrick é vegano há seis anos. Este campeão também é formado em Psicologia e é assim que, com os seus bíceps de 50 centímetros, rebenta todos os mitos que pode.

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Um pouco mais que Patrik, 130 quilos, é o que pesa o jogador profissional da liga americana de futebol, a NFL, David Carter, que diz no seu site: “Honestamente, posso dizer que ser vegano é, não só a maneira mais eficiente de ser forte e estar em forma, como também a mais humana; ganhamos todos”. David colabora activamente na defesa dos direitos dos animais, dando conferências, cursos de educação e fazendo umas quantas aparições nos meios de comunicação social que o solicitam.

Outro exemplo é a personal trainer de Calistenia, Cornelia Ritzke. Com uma legião de mais de 100 mil seguidores apenas no Facebook, dá conselhos para treinar diariamente. Cornelia é forte, rápida e tem uns abdominais perfeitamente definidos. O seu segredo? Treinar como uma guerreira e comer muito. Mais de 600 mil seguidores apenas no YouTube é o que tem outro rei de Calistenia, Frank Medrano. Ágil e rápido, este americano ajuda as pessoas a alcançarem o seu máximo potencial através de vídeos e treinos pessoais. Nalgumas entrevistas reconhece que se tornou mais rápido e mais forte depois de fazer a transição.

O fundador da Vegan Bodybuilding, Robert Cheeke, também ajuda milhares de pessoas a treinar, várias vezes no limite e sob condições extremas. Cheeke cresceu numa quinta nos Estados Unidos, o que o levou a tornar-se vegano aos 15 anos. Toda a sua força bruta como culturista foi conseguida através de proteínas vegetais.

Os desportistas profissionais que competem em força e músculo não são os únicos que têm um rendimento incrível sendo veganos. Os maratonistas Scott Jurek e Fiona Oakes batem recordes sucessivos. Jurek, o escritor do best seller americano ‘Eat, live, run’, vegano desde 1999, pode percorrer cerca de 165 milhas (265 quilómetros, aproximadamente) em 24 horas. Serão os espinafres? Fiona Oakes, uma inglesa que se tornou vegana por compaixão para com os animais, alcançou recordes mundiais correndo em condições extremas pelos pólos. Esta atleta inglesa é vegetariana desde os seis anos de idade. De acordo com o seu estilo de vida, Oakes gere um santuário de animais em Inglaterra.

Outro dos primeiros atletas famosos a adoptar uma dieta vegana – em 1990 – e a alcançar um recorde mundial, os 100 metros rasos, em 1991, foi o célebre Carl Lewis. E, claro, a incrível ironwoman e médica, Ruth Heidrich, vencedora de mais de 900 troféus, seis competições de triatlo, oito medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos e 67 maratonas. Um palmarés muito difícil de superar. Heidric também sobreviveu a um cancro da mama e é a autora de três livros. Bateu o seu último recorde em 1999, competindo no escalão de 60-65 anos.

Cada vez são mais os desportistas de elite e atletas que adoptam uma dieta vegetariana que, ao contrário do que popularmente se transmite, os ajuda a conseguirem melhores classificações. Muitas destas pessoas dão o passo, não só para melhorar o seu rendimento físico e pôr à prova a capacidade que o corpo humano tem de superar-se, mas também por terem em conta os direitos dos animais. Porque sabem que ter o poder não significa ter razão e que é urgente adoptar o veganismo como parte da solução para a situação da opressão dos animais. Brendan Brazier, ironman e atleta de triatlo, tem até a sua própria linha de produtos veganos.

Para saber mais acerca dos desportistas veganos, falámos com o jogador de futebol profissional Carlos Cuéllar sobre a sua alimentação e os seus resultados. Depois de sair do Norwich, Cuéllar estreou-se na última temporada no UD Almería.


Carlos Cuellar

VICE: Há quanto tempo és vegano e porquê?

Carlos Cuéllar: Sou vegano desde Dezembro de 2014. Tomei a decisão quando vi o documentário Forks over Knives, que encontrei casualmente. Quando o vi, interessei-me muito pelo tema e informei-me sobre a a influência do consumo de produtos procedentes de animais no desenvolvimento de muitas doenças. Descobri que há muitos outros desportistas que são veganos e que coincidem em todas estas teorias. Aumentam o seu rendimento e sentem-se melhor e mais fortes. Hoje em dia, posso garantir na primeira pessoa que é verdade.

A tua dieta e o teu treino como jogador de futebol profissional são compatíveis? Tomas algum tipo de suplemento?

A dieta e o treino são completamente compatíveis. Recupero melhor do esforço que faço, tenho mais elasticidade e mais força durante mais tempo. Em relação aos suplementos, não tomo nada que os meus colegas não tomem, com a diferença de que as proteínas que consomem são provenientes do leite e as minhas são vegetais. Não tomo nada especial por ser vegano.

Notaste alguma mudança no teu rendimento?

Sim, sinto-me mais forte, termino os jogos em melhor forma e tenho a sensação de que posso dar mais do que dava antes, recupero melhor depois dos esforços e ganhei elasticidade.

Se tivesses que fazer uma recomendação a outros desportistas que queiram ter uma dieta completamente vegetariana, qual seria?

Recomendaria que a transição não fosse radical e que fossem retirando os produtos de proveniência animal pouco a pouco, até chegarem a retirá-los totalmente. Observarão como aumenta o seu rendimento, terão a sensação de ter mais vitalidade sem terem de recorrer a estimulantes externos e recuperarão melhor depois do esforço.

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Parece mentira que o primeiro que se questione quando alguém diz que é vegano seja o tema da saúde, ou da nutrição. Estes craques do desporto demonstram a cada triunfo que é possível, que é uma vantagem competitiva na sua profissão e que lhes mudou a vida saber que agora fazem o mais correcto para com os animais. Pensa na força de Baboumian, ou nos lances de Cuéllar, da próxima vez que decidas gozar com o teu amigo que “come plantas”.