Este artigo foi originalmente publicado na Motherboard – Tech by VICE.
Quando os caçadores de baleias do século XIX anotaram nos seus diários de bordo as medições do tempo e da temperatura do mar, poucos podiam imaginar que, 150 anos mais tarde, estes se tornariam registos de um Planeta em aquecimento. Mas, esse é exactamente o tipo de valor que os cientistas climáticos, como Caroline Ummenhofer, da Woods Hole Oceanographic Institution, vêem nos diários de bordo dos baleeiros. Recheados de observações locais diárias, estes livros podem ser usados para corroborar tendências de mudanças de clima reveladas em leituras de temperatura padronizadas e registos geológicos.
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“Temos observado muitas mudanças nas últimas décadas, incluindo o aquecimento dos oceanos, derretimento das camadas de gelo na Gronelândia, alterações nos padrões climáticos e secas e inundações mais frequentes e intensas”, realça Ummenhofer num comunicado. E acrescenta: “No entanto, em relação a muitas áreas remotas, como o Árctico, tínhamos falta de dados que nos ajudassem a colocar as observações recentes num contexto de longo prazo. Isso limitou a nossa capacidade de compreender de que forma as alterações climáticas e os padrões climáticos podem afectar a sociedade humana e os ecossistemas”.
Vê: “Caça de baleias nas Ilhas Faroé“
As anotações feitas pelos capitães dos baleeiros podem ajudar a preencher algumas das lacunas deixadas no registo das temperaturas globais médias, que só existem a partir de 1880. Os diários norte-americanos de caçadores de baleias, pelo contrário, foram mantidos desde o final dos anos 1700, acrescendo mais um século de observações suplementares ao registo climático.
Os diários de bordo também contêm informações sobre locais remotos dos oceanos, raramente visitados na época por outros tipos de embarcações, como navios de guerra e navios mercantes, que tendem a manter-se nas rotas marítimas estabelecidas. Os baleeiros desviavam-se dessas rotas marítimas para descobrirem áreas distantes, conhecidas pela abundância de mamíferos marinhos. Em particular, regiões onde as alterações climáticas estão a provocar mais caos, como o Árctico e o Oceano Índico, podem agora ter mais contexto através dos relatos dos baleeiros sobre monções, cobertura de gelo e outros fenómenos climáticos locais.
Por exemplo, os caçadores de baleias e muitos outros marinheiros dependiam das condições de vento na zona dos vendavais da Latitude 40 (conhecida como Roaring Forties] para os impulsionar pelo Oceano Índico. Nas últimas décadas, no entanto, os ventos mudaram para sul, em latitudes conhecidas como Furious Fifties. Os diários de bordo dos baleeiros podem conter pistas sobre como e quando é que essa tendência começou.
Ummenhofer desenvolveu agora uma parceria com Timothy Walker, um historiador da Universidade de Massachusetts, em Dartmouth, para recolher, examinar e digitalizar os diários de bordo preservados em muitas instituições espalhados pela Nova Inglaterra, que foi o epicentro da indústria baleeira norte-americana. “Ao reunir uma equipa de oceanógrafos, climatologistas e historiadores, estamos em posição de extrair os dados climáticos de que precisamos para entender melhor o passado”, explica, “enquanto mostramos como esse aspecto da nossa história local aqui na Nova Inglaterra ainda tem relevância hoje”.
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