As tais drogas inteligentes ou “nootrópicas” têm procura crescente na internet, mas ainda não houve consenso sobre sua eficácia na melhoria da função cognitiva em pessoas saudáveis.
Um estudo publicado nesta semana, porém, faz afirmações ousadas a respeito das propriedades de uma das drogas inteligentes mais conhecidas: o modafinil (aqui também chamada de modafinila), um medicamento prescrito para problemas de sono como a narcolepsia. Segundo a pesquisa, a substância pode ser eficaz também para quem está com sono em dia e quer melhorar o desempenho cerebral.
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Publicada no periódico European Neuropsychopharmacology, a pesquisa dos estudiosos Ruairidh Battleday, da Universidade de Oxford, e Anna-Katharine Brem, da Faculdade de Medicina de Harvard, afirma que os efeitos do modafinil em pessoas sem problemas de sono “podem muito bem validar o título de primeiro agente farmacêutico ‘nootrópico’ eficaz.”
Os pesquisadores relatam que “não foi observado nenhuma preponderância para efeitos colaterais ou alterações de humor”. Os estudos analisados citavam apenas efeitos adversos mínimos e pouca ação sobre o humor – “no máximo, melhorando-o”.|
O modafinil “pode muito bem merecer o título de primeiro agente farmacêutico ‘nootrópico’ validado”.
Os autores da pesquisa revisaram estudos publicados de janeiro de 1990 a dezembro de 2014, focados nos efeitos cognitivos do modafinil em pessoas saudáveis – isto é, sem problemas de sono. Eles fizeram uma análise geral por 24 estudos que não entravam em consenso acerca dos efeitos do modafinil devido aos diferentes métodos de exame.
Uma das maiores discrepâncias observadas pela dupla foi como outros pesquisadores haviam testado os efeitos do medicamento. Em geral envolvia fazer com que um paciente desempenhasse alguma tarefa sob o efeito do modafinil e então de placebo para, depois, comparar os desempenhos.
Eles descobriram que, no geral, os estudos se dividiam em tarefas simples e complexas. Ao analisar a fundo, viram que estudos mais recentes com testes mais complexos tendiam a relatar efeitos benéficos mais consistentes do que os mais simples.
Isso os levou a concluir que precisamos de uma melhor forma de testar os efeitos cognitivos de “nootrópicos”. As tarefas simples usadas para testar a cognição muitas vezes se aplicam às pessoas que tem algum déficit cognitivo, o que nem sempre é eficaz quando se quer mensurar o efeito de drogas que possam melhorar a cognição para acima do normal.
Como podemos classificar, tolerar ou condenar uma droga que melhora o desempenho humano?
Considerando que os pesquisadores tenham dado bases sólidas para os efeitos do modafinil, resta o debate ético de quando ou se é certo tomar uma pílula que lhe deixa mais esperto (claro que o modafinil ainda não é licenciado para tal uso). É certo dar essa forcinha antes de uma prova, por exemplo?
Guy Goodwin, presidente do Colegiado Europeu de Neuropsicofarmacologia, sugeriu em declaração à imprensa que tais descobertas sublinham a urgência de tal discussão. “Discussões éticas a respeito de tais agentes tendem a assumir efeitos extravagantes antes que se comprovem qualquer um deles”, disse. “Se estiver correto, o estudo atual significa que o debate ético é real: como podemos classificar, tolerar ou condenar uma droga que melhora o desempenho humano na ausência de deficiência cognitiva preexistente?”
Mas não são todos que concordam que o modafinil seja isso tudo. Comentários no subreddit r/nootropics relatam o uso de diversas substâncias “inteligentes” com resultados variados. Um indivíduo menciona que há mais estudos em andamento: uma pesquisa publicada após o período observado pela pesquisa deste artigo conclui que o modafinil “não oferece melhora ao desempenho cognitivo global de estudantes saudáveis sem problemas de sono, com exceção de tarefas que não exijam muito”.
Pode não haver consenso sobre o tema ainda, mas é fato: as drogas inteligentes são o assunto da vez.
Tradução: Thiago “Índio” Silva