Matéria original da VICE Alpes.
A placa no começo da estrada estreita de pedriscos que estávamos seguindo dizia “Nova Rock — Proibida a Entrada”. Seppi* dirige nosso Seat Toledo exatamente na direção para onde não deveríamos estar indo. Apesar de ter ingressos oficiais para o Nova Rock — um festival de música no leste da Áustria e que acontece anualmente na segunda semana da junho — estou acompanhando um grupo experiente em invadir esse tipo de evento. De onde estamos, só consigo ver a distante névoa verde do show de lasers. Luzes vermelhas piscam no topo das turbinas eólicas enfileiradas na beira da estrada. Vejo um coelho pulando no campo, mas esse é o único sinal de vida por aqui — as massas dançantes ainda estão longe.
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São cerca de 11 da noite de sexta-feira quando estacionamos perto do terreno do festival — do lado oposto da entrada oficial do evento. Do outro lado do campo, ouço Marco Wanda, da banda austríaca de indie pop Wanda, cantando “Gib mir alles, baby” com uma voz rouca. A programação do dia está quase acabando. Seppi e seus amigos não querem ver nenhuma banda em particular esta noite — eles dizem que só querem dar uma olhada nas instalações.
Nos últimos anos, invadir o Nova Rock se tornou uma tradição para o grupo. Eles aprenderam com seus erros do passado — com os cortes e contusões por pular as cercas, com as perseguições dos seguranças. Agora eles usam mais tática e estratégia. Seppi e seus amigos não são necessariamente tipos criminosos, eles fazem isso mais pela adrenalina. Eles moram perto do local do festival, então o Nova Rock é uma escolha óbvia. O que não quer dizer que eles não treinaram invadindo o Frequency Festival ou o Two Days a Week Festival também. Só o SummerOpening em Podersdorf, segundo eles, é difícil de entrar.
Eles colocaram seguranças na entrada dos bastidores — o lugar por onde eles entraram no festival do ano passado. O grupo decide seguir a cerca de volta ao Red Stage. Lá, um pequeno grupo de pessoas sentadas em cadeiras de praia filmam a banda de metal Disturbed com seus celulares através da barreira. Elas parecem felizes, mas Seppi diz que sente pena delas.
Seguimos a cerca mais além, mas acabamos num caminho sem saída. Seppi nota que dois painéis da cerca não foram fixados direito. Passamos pelo vão e cruzamos um campo iluminado até outra barreira, que faz fronteira com a área de acampamento. Ninguém nos nota mexendo na cerca — conseguimos penetrar pela primeira camada de segurança. Estamos na área do acampamento.
O caminho oficial para dentro do festival passa pelo acampamento — seguranças estão na entrada conferindo o pulso de todo mundo que passa, então não temos chance de entrar sem a pulseirinha. Nosso grupo segue a cerca separando o acampamento do festival e achamos outros painéis soltos — esses estavam amarrados com uma cinta plástica. Empurramos um dos painéis, deixando um vão entre eles. Entramos sem sermos notados e comemoramos com uma rodada de cervejas que trouxemos conosco. Andamos na roda-gigante enquanto a banda austríaca EAV toca tarde da noite no palco principal. Quando os shows acabam, passamos pela saída normal — ninguém confere as pulseiras de quem está saindo.
No dia seguinte, nos esgueiramos pela escuridão de novo. Mesma estrada de pedrisco, mesmo carro, mas dessa vez, quando estacionamos, ouvimos Alice Cooper tocando “Poison” à distância. Rudi, amigo de Seppi, está de mau humor — ele queria muito ver Alice Cooper, então está puto porque estamos atrasados. Eles me dizem que Rudi é um profissional em invadir festivais. Dois anos atrás, ele entrou e saiu do Nova Rock sem ser notado várias vezes porque esqueceu várias coisas no carro.
Rudi corre um pouco à frente com impaciência, enquanto damos a volta no palco principal. De repente ele dispara, correndo pelo campo como o coelho que vi no dia anterior. Ele encontrou um grande buraco na cerca ao lado do Red Stage. A abertura está bloqueada por um contêiner — o que parece uma boa ideia dos seguranças, mas que só ajuda Rudi a pular a cerca mais facilmente.
Os outros não estão tão ansiosos para seguir as acrobacias de Rudi e decidem continuar andando. Um cara que diz se chamar “Phillippunk” e alguém chamado “Mike the Brit” se juntam a nós. Phillippunk trouxe álcool e algumas ferramentas, no caso de encontrar alguma cerca que possa ser cortada. Não precisamos das ferramentas dele — como ontem, só temos que nos espremer por entre um vão nos painéis.
Chegamos em tempo de ver “School’s Out” do Alice Cooper e depois vamos assistir o Cypress Hill. Tudo na faixa, parcialmente graças ao suprimento de goró do Phillippunk.
Domingo é o quarto e último dia do festival, e a segunda vez em que entro no evento pela rota oficial. Aqui você deve ter notado que o Nova Rock é um festival tranquilo — tem muitos seguranças, mas não é como entrar numa festa num estado policial. Nem tantos guardas que Seppi, Rudi e seus amigos não consigam entrar escondidos. Mas o fato deles terem conseguido não atrapalha a atmosfera do outro lado: não me parece que a organização precisa de mais segurança.
Nesta noite, Phillippunk me liga e combinamos nos encontrar no local de sempre no estacionamento. O plano é encontrá-los lá fora e entrar escondido. Quando estou na metade do caminho, recebo outra ligação. Phillippunk diz que eles já estão lá dentro. Dar meia volta e passar pela entrada oficial vai me custar mais 10 minutos, então decido tentar a sorte. O caminho atrás do palco principal não está guardado, então entro por trás do palco Wavebreaker sem ser perturbado. Estou com pressa, o festival está acabando e quero ver o final do show do Red Hot Chilli Peppers.
No caminho pra lá, finalmente noto que todas as cercas do festival foram fornecidas por uma empresa chamada “Cercas UE”. O que faz bastante sentido.
*Os nomes foram mudados.
Tradução: Marina Schnoor