Em uma noite de setembro de 1961, um estudante universitário de 19 anos teve uma breve visão do futuro durante uma apresentação no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. No palco, o pianista norte-americano David Tudor executava peças eletroacústicas de nomes da vanguarda européia de então, como o alemão Karlheinz Stockhausen e o belga Henri Pousseur para uma platéia mais acostumada com as melodias palatáveis da música clássica orquestrada. Passados 56 anos, o compositor Jorge Antunes recorda suas impressões sobre aquela ocasião como sendo de “curiosidade, interesse, descoberta: o vislumbre de um caminho novo”.
Para Antunes, a experiência foi o estopim para que ele se tornasse o primeiro brasileiro a compor e gravar música eletrônica, trajetória que teve início com a construção de seus próprios aparelhos — que incluía um teremim — e do seu próprio estúdio. Logo, ele estava realizando suas primeiras apresentações para colegas da Escola Nacional de Música da Universidade do Brasil (atual UFRJ), no Rio de Janeiro, onde estudava violino e composição. Algumas das gravações realizadas nos anos seguintes seriam reunidas pela primeira vez em um LP em 1975, quando já de volta ao Brasil após anos de exílio na Argentina, Holanda e França, ele lançou “Música Eletrônica”, considerado o primeiro disco produzido inteiramente com sons eletrônicos no Brasil.
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Na época do lançamento, o flerte com esse tipo de sonoridade já deixava de ser algo de uso exclusivo de acadêmicos e pessoas ligadas ao mundo das artes para adentrar o mainstream através da fusão com gêneros como rock e disco, prenunciando a popularização do termo a partir da década seguinte. Além de ter sido relançado em vinil no ano passado pelo selo Mental Experience na Espanha, o disco também pode ser ouvido na íntegra ao lado de outras gravações do mesmo período no CD Música Eletroacústica – Período do Pioneirismo, lançado no Brasil pela ABM Digital e nos EUA pelo selo Pogus Productions, com o nome de “Savage Songs”.
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