Mark “Fos” Foster. Foto por Jerome Loughran.
É só pisar em qualquer loja de skate que você vai ver alguma coisa desenhada pelo Mark “Fos” Foster. Fundador da Heroin Skateboards e atual diretor de arte das companhias Baker, Deathwish e Altamont, as influências dele vão do J-pop a barreiras de concreto, mas é fácil identificar um shape dele – geralmente são aqueles que parecem frames saídos de um desenho animado gore.
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Antes que a carreira o levasse a L.A., Fos cresceu em Rawtenstall, um cidade inglesa perto de Blackburn. Depois de se formar na faculdade de artes local, ele se mudou para Londres e estudou design na Goldsmiths, da Universidade de Londres.
Jovem Fos.
“Só fui começar a achar meu estilo próprio bem depois que terminei a faculdade”, diz quando pergunto se ele fez alguma arte interessante nos três anos de faculdade. “Eu sempre curti mais ilustrações e tentava trazer isso para o meu trabalho. Eu batia cabeça com os professores e tinha notas péssimas, mas isso não importa – precisei daquele diploma só uma vez, e foi para conseguir meu visto de trabalho nos EUA.”
Um dia depois da formatura, enquanto auxiliava seu amigo na loja Slam City Skates, em Londres, ele ajudou a descarregar uma entrega de tênis DVS e foi recompensado com um emprego no armazém. Ele continuou trabalhando lá nos cinco anos seguintes, se envolvendo profundamente com a cena do skate da cidade.
Foi depois de alguns anos nesse emprego – em algum momento de 1998 – que ele quebrou o pulso andando de skate. “No caminho para o hospital, eu ficava olhando pela janela da ambulância procurando lugares para andar de skate. Soube naquele momento que era obcecado por skate num nível profundo”, ele explica. “A coisa do pulso acabou sendo séria, e eu passei quatro dias no hospital esperando para colocar pinos. Enquanto eu estava lá, o contrato de aluguel da minha casa venceu e, ao mesmo tempo, minha namorada terminou comigo. Quando parecia que tudo estava desmoronando, decidi começar uma companhia de skate. Fiquei tão entusiasmado com a ideia que desenhei o logo original com a mão esquerda na cama do hospital.”
Essa ideia se tornou a Heroin, batizada assim porque Fos era – e ainda é – straight edge. Skate era seu “único vício”.
Fos no trabalho. Foto via blog do Fos.
Por volta de 2003, a Heroin tinha se tornado uma das marcas de skate mais populares do Reino Unido, e Fos decidiu começar a fazer shapes novos sob o nome Organic. Os shapes eram distribuídos através da Slam, e o time original incluía o Fos, Snowy, Olly Todd, Joel Curtis e Toby Shuall. Não havia muita grana rolando no mundo do skate inglês na época, mas a Organic nunca foi realmente sobre lucro. A intenção era juntar um monte de skatistas únicos sob uma só bandeira.
Mas as coisas não saíram como planejado. “O entendimento é que eu ia resolver as coisas mais tarde”, afirma Fos. “Isso nunca aconteceu, e eu acabei deixando a Slam e começando uma nova marca chamada Landscape com outros skatistas.”
Foi nessa época que Fos começou a visitar regularmente o Japão, andando de skate com uma turma chamada Osaka Daggers. “Tenho ido para o Japão desde 1999 e tentado espalhar como a cena lá é incrível”, frisa. “Eu adoro a criatividade que existe lá. Passo horas andando por lojas como a Village Vanguard, que tem muitos quadrinhos legais. Adoro coisas como Ping Pong e Blue Spring, quadrinhos originais de Taiyo Matsumoto que eles transformaram em filmes ótimos. Também adoro Ito Junji, que escreveu Uzumaki e Tomie, e os filmes do Beat Takeshi.”
Um mural Altamont que Fos pintou numa loja na Califórnia. Foto via blog do Fos.
Em 2006, Andrew Reynolds – cofundador da Baker e um cara que vou assumir que você conhece, já que leu isso até aqui – ofereceu ao Fos a posição de diretor de arte da Altamont. Ele aceitou, claro.
Alguns anos depois, pediram que ele desenhasse o logo da Deathwish Skateboards, e ele diz ter feito milhares de rascunhos antes de acertar o design final. “Eu tinha uma ideia de como queria que a marca fosse, e deu muito trabalho chegar ao lugar certo”, destaca. “É quase como desenvolver uma linguagem que você usa. Fico muito feliz de ter trabalhado nesse projeto e feito o logo de uma companhia tão icônica.”
Depois de ficar indo e voltando dos EUA à Inglaterra para o trabalho na Altamont, acabaram pedindo ao Fos que ele se mudasse definitivamente para Los Angeles a fim de coordenar o projeto da sede da empresa. Nessa época ele se tocou que “podia conseguir um visto de trabalho através da Altamont e que provavelmente não teria essa chance de novo”, então ele decidiu ir.
“É engraçado, sou só um moleque de Lancashire que acabou na Califórnia trabalhando com todas essas companhias”, destaca, aparentemente esquecendo que é um dos artistas mais reconhecidos da indústria do skate hoje.
O trailer do vídeo Nastyda Heroin.
Fos cresceu ouvindo punk e metal, mas afirma que montar vídeos de skate o forçou a “ampliar [seus] gostos musicais”, já que nem todo skatista combina com músicas do Necrovomit ou GG Allin. “Você não pode deixar as pessoas escolherem a própria música. Você tem que ter uma música que combine com o skatista e algo que você possa ouvir de novo e de novo sem enjoar”, pontua.
Em 2011, esse ouvido para músicas não enjoativas foi aproveitado pela Altamont e pelo Patrick O’Dell (criador da série Epicly Later’d da VICE), que queriam começar um programa de rádio com o Fos como apresentador. Ele não tinha muita certeza no começo, mas acabou gostando tanto que fundou uma rádio pirata para continuar com o programa depois que a Altamont se retirou do projeto.
Fos com Eric Dressen na Fos FM. Foto via Fos FM Tumblr.
A Fos FM já recebeu um monte de convidados: Lizard King, Geoff Rowley, Dustin Dollin e Alex Olson, entre muitos outros. Mas Fos informa que seu convidado favorito foi a lenda da Santa Cruz Eric Dressen, já que assistir a uma “demo de skate dele em Bury em 1988 foi a razão” para ele começar a andar de skate. Os convidados num mundo ideal seriam Tom Waits e Morrissey. “A música deles vem do coração, e isso significa muito hoje em dia”, elogia. “Veja essas coisas na TV e no rádio. Quanto dessa música realmente significa alguma coisa? Ou foi escrita por desejo e paixão? Nada.”
Atualmente, Fos diz que seu dia a dia é na Baker, em que ele vem trabalhando como diretor de arte há um ano. Mas ele confessa que o coração continua na sua própria companhia. “A Heroin é meu bebê, de verdade”, frisa. “Eu tenho controle total, então tudo que faço é basicamente para isso. Todos os rascunhos que faço realmente poderiam estar nos desenhos da Heroin. Tem sido ótimo.”
Uma representação artística de como seria ter o Tom Waits como convidado da Fos FM. Ilustração por Trav Wardle.
No final da nossa conversa, Fos mencionou que a Heroin está “trabalhando num vídeo amador no momento” e defendeu seu bebê contra as alegações de que a marca deu as costas ao Reino Unido.
“Para mim, a Heroin Skateboards sempre foi uma coisa internacional. Ver isso como uma ‘companhia inglesa’ é ter a mente muito fechada”, critica. “Nosso primeiro profissional em 2000, o Chopper, é japonês e ainda está com a gente hoje. Deer Man of Dark Woods é canadense, e agora temos skatistas americanos além de caras do Reino Unido. Tenho visto a Heroin crescer organicamente. Eu podia estar morando numa cabana nas montanhas da Letônia, e a marca continuaria sendo a mesma coisa.”
Tradução: Marina Schnoor