Quatro meses depois, as forças de segurança voltaram a marcar presença numa grande manifestação. Foram cerca de 15 mil efectivos que partiram do Marquês de Pombal com destino a S. Bento.
Depois do “sucesso” de Novembro, com a invasão das escadarias do Parlamento e a consequente demissão do director nacional da PSP, poucos seriam aqueles que duvidariam de algo em grande para ontem. E com razão, houve tentativas de invasão, mas desta vez as forças de segurança que defendiam a AR acabaram por vencer e manter o Parlamento intocável.
A primeira coisa que pudemos ver quando chegámos ao Marquês, para além do número extraordinário de manifestantes, foi a atitude combativa e o espírito revanchista (com o qual não simpatizo particularmente). Apercebi-me disso na Docelândia, um café improvisado de posto de manutenção onde bebi uma cerveja com um grupo de guardas-prisionais que me anteciparam o cenário de uma invasão e que afirmaram que estavam “preparados para tudo”.
Assim que a cabeça da manifestação deu os primeiros passos, pudemos ouvir “invasão” em uníssono e repetidas vezes. Durante o percurso, houve petardos e very-lights (afinal, não são só os estivadores a apreciarem a pirotecnia) e muitas palavras de ordem.
Tal como em Novembro, e a
as barreiras acabaram por cair pouco depois da frente da manifestação chegar a S. Bento. Depressa os polícias de intervenção rápida deram lugar ao corpo de intervenção (CI). Os manifestantes, inicialmente empolgados pelo que saía das colunas da carrinha do sindicato, avançaram contra os polícias. Os primeiros momentos foram de grande tensão, chegando mesmo os manifestantes a ocupar uma parte muito considerável da escadaria e foi por muito pouco que o cordão do CI não partiu (talvez se os grupos “anti-governo” tivessem dado uma ajuda a história tivesse sido outra).
Todos os avanços eram feitos de forma oscilante, por vagas pouco planeadas e com uma formação muito semelhante a uma mêlée. Das poucas vezes que estive à frente acabei nessa formação. Ignorando o sindicalista que ora pedia às pessoas para se sentarem, ora pedia uma salva de palmas a não sei quem, dei por mim a ser empurrado e a empurrar os que estavam à minha frente, muito perto dos polícias do CI (que entretanto já contavam com, pelo menos, cinco linhas compactas — algo nunca visto numa manifestação comum). Até ao final, nada mudou. Pelo meio houve uma ameaça de carga policial (que nunca aconteceu) e as investidas tornaram-se mais espaçadas no tempo e menos vigorosas. Ao contrário de outras manifs, não esperem encontrar numa manifestação de polícias garrafas ou pedras pelo ar. Mas também não esperem encontrar cargas por parte das forças de segurança que cercam o parlamento. É outra coisa saber de antemão que a manifestação para a qual se vai não terá cargas e que, depois de muito empurrares, se estiveres cansado, podes sentar-te nas escadarias para ganhar fôlego . O mais importante é perceber como os sindicatos foram muito ágeis na tarefa de incomodar o governo. Apesar dos apelos à paz que vieram daquela carrinha, perceberam que tinham deixado uma ferida aberta em Novembro e todos estavam cientes daquilo que tinha de acontecer para condicionar o ministro da Administração Interna. Quem fez o percurso inverso da manifestação, na direcção da estação de metro do Rato, percebeu a revolta daqueles homens por não terem conseguido furar a barreira policial — e isso tem a sua relevância. Esqueçamos o Marques Mendes iremos-lhes o chapéu por isso, porque parece uma descoberta que outros sindicatos (bem mais experientes nestas andanças) ainda estão por fazer.
Depois do “sucesso” de Novembro, com a invasão das escadarias do Parlamento e a consequente demissão do director nacional da PSP, poucos seriam aqueles que duvidariam de algo em grande para ontem. E com razão, houve tentativas de invasão, mas desta vez as forças de segurança que defendiam a AR acabaram por vencer e manter o Parlamento intocável.
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Todos os avanços eram feitos de forma oscilante, por vagas pouco planeadas e com uma formação muito semelhante a uma mêlée. Das poucas vezes que estive à frente acabei nessa formação. Ignorando o sindicalista que ora pedia às pessoas para se sentarem, ora pedia uma salva de palmas a não sei quem, dei por mim a ser empurrado e a empurrar os que estavam à minha frente, muito perto dos polícias do CI (que entretanto já contavam com, pelo menos, cinco linhas compactas — algo nunca visto numa manifestação comum). Até ao final, nada mudou. Pelo meio houve uma ameaça de carga policial (que nunca aconteceu) e as investidas tornaram-se mais espaçadas no tempo e menos vigorosas. Ao contrário de outras manifs, não esperem encontrar numa manifestação de polícias garrafas ou pedras pelo ar. Mas também não esperem encontrar cargas por parte das forças de segurança que cercam o parlamento. É outra coisa saber de antemão que a manifestação para a qual se vai não terá cargas e que, depois de muito empurrares, se estiveres cansado, podes sentar-te nas escadarias para ganhar fôlego . O mais importante é perceber como os sindicatos foram muito ágeis na tarefa de incomodar o governo. Apesar dos apelos à paz que vieram daquela carrinha, perceberam que tinham deixado uma ferida aberta em Novembro e todos estavam cientes daquilo que tinha de acontecer para condicionar o ministro da Administração Interna. Quem fez o percurso inverso da manifestação, na direcção da estação de metro do Rato, percebeu a revolta daqueles homens por não terem conseguido furar a barreira policial — e isso tem a sua relevância. Esqueçamos o Marques Mendes iremos-lhes o chapéu por isso, porque parece uma descoberta que outros sindicatos (bem mais experientes nestas andanças) ainda estão por fazer.