Vinicius começou a ler aos dois anos. Hoje tem nove. Gosta de anatomia. Gosta de astrofísica. É fã de Stephen Hawking. E até entende uma coisa chamada quarta dimensão espacial. Mas de onde veio o interesse por assuntos complexos? Ninguém sabe. O que muita gente já sabe é ele que curte dividir esse conhecimento. No YouTube, o divulgador científico mirim posta vídeos explicando conceitos de temas que o interessam.
Como, por exemplo, porquê a Terra é redonda.
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No mundo em que uma galera insiste na viagem da Terra plana, o apetite do garoto por ciência é um alento. Claudia Schvartz, mãe de Vinicius, conta que ele começou a pesquisar de maneira espontânea determinados assuntos. “O que a gente pode fazer para incentivar a gente faz, mas não pode esquecer que é só uma criança de nove anos, que tem que decidir o momento dele de gostar das coisas”, diz ela.
E o que ele decidiu foi ser um youtuber. Ao longo de 2018 e no começo deste ano, Vinicius postou 18 vídeos em seu canal, todos produzidos de maneira rudimentar com um tablet. O público era a família. Mas na noite de sábado pós-carnaval, no começo de março, o menino mostrou animado uma novidade para mãe. “Ele estava feliz porque tinha 56 seguidores. Nossa família não tem 56 pessoais, no máximo 30”, fala Claudia.
“Então eu propus a ela que fizéssemos uma divulgação para ver se chegávamos em 100”, diz ela. Com um tino para o marketing digital, a mãe espalhou links com convites para conhecer o canal em cerca de 30 páginas entre YouTube, Twitter e Facebook. Um dos endereços escolhidos foi o Tropia, no YouTube, que assim como Vinicius também tinha um vídeo sobre a quarta dimensão espacial. “O dono assistiu ao canal, gostou e recomendou aos seguidores dele.”
Isca mordida, resultado colhido. No domingo, os seguidores do jovem youtube subiam na razão de mil a cada 15 minutos. Chegaram a 34 mil. Um sucesso, que deixou ele exultando. Mas na segunda, o baque: durante a tarde, enquanto estava na escola, o YouTube apagou o canal.
A plataforma não respondeu a um pedido de comentários sobre o caso, mas as regras da comunidade do YouTube estabelecem que a idade mínima para os donos de canais é de 13 anos. Além disso, a empresa tem passado por um intenso escrutínio nos últimos meses por divulgação de discurso de ódio em vídeos voltados para crianças, assim como o caso de pedófilos que utilizavam hashtags para identificar imagens de meninas de biquíni.
De qualquer forma, o baguio já tinha virado. Na própria segunda, dia 11 de março, Claudia recriou o Canal das Ciências, desta vez em seu nome. Os seguidores não só reapareceram como superaram de longe a marca anterior. Hoje, são quase 57 mil.
Num dos últimos vídeos, de meados de abril, Vinicius comenta a primeira foto de um buraco negro já feita. “Quando eu descobrir isso, eu fiquei muito feliz”, diz ele. “Essa foto aí também provou que a teoria do Albert Einstein sobre buracos negros é verdadeira.”
Do começo de março para cá, no entanto, o ritmo dos vídeos caíram um pouco. Mas por um bom motivo: o garoto ganhou uma bolsa de estudos em uma conceituada escola de Guarulhos, onde mora.
A Terra é redonda
No vídeo Porque a Terra é redonda e a Via Láctea é plana?, Vinícius mostra como a relação entre forças centrífugas e centrípetas moldam nosso planeta e a Via Láctea, a galáxia do qual o Sistema Solar faz parte.
“O que é admirável e fascinante no vídeo não é a precisão científica e conceitual da explicação, mas a tentativa que ele faz de explicar racional a forma da Terra e da Via Láctea”, diz o professor Fernando Lang, do Centro de Referência para o Ensino da Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Lang explica que, na verdade, são as forças gravitacionais que dão ao planeta o formato de globo. As forças inerciais centrífugas, por sua vez, fazem com a Terra seja mais achatada no eixo polar (Norte – Sul), do que no equatorial (Leste – Oeste). Quando a Via Láctea, por sua vez, a razão do formato espiralado e plano na região periférica e global no centro ainda é motivo de debate na academia.
“Mas é admirável um menino com essa idade ter esse tipo de interesse e saber argumentar”, fala o professor, que trabalha com divulgação científica.
O mesmo não pode ser dito dos terraplanistas. “Esse pessoal ainda tá na Idade do Bronze”, diz Lang. Por isso, pessoal, busquem conhecimento. E se forem fazer isso no YouTube, o Canal das Ciências do Vinícius Schvartz é um bom ponto de partida.
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