Imagem via usuário do Flickr Sexy Eggs
O problema de infertilidade afeta cerca de 15% dos casais no mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde. “Cerca de 30% são causa de fatores masculinos, 30% de fatores femininos e 40% dos casos de associação entre os dois fatores”, de acordo com a ginecologista Silvana Chedid, especialista em reprodução humana e diretora da clínica de fertilidade IVI, em São Paulo. Não existem estatísticas certas, mas há uma incidência de problemas de depressão e ansiedade durante o tratamento contra infertilidade.
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As causas de infertilidade são as mais diversas: entre os fatores masculinos, o problema pode estar na qualidade e agilidade dos nadadores liberados ou em um problema chamado varicocele, que é basicamente uma alteração nas veias dos testículos dos rapazes e pode ser resolvido com uma cirurgia.
Já para o lado das minas, o buraco é mais embaixo. Os problemas mais comuns, de acordo com o Doutor Fernando Prado Ferreira, também especialista em reprodução humana, são os ovulatórios, como os ovários policísticos, que fazem com que a mulher não ovule corretamente, a endometriose ou problemas de obstrução nas trompas, além dos problemas hormonais, como de tireoide, por exemplo. Além de tudo isso, diferente dos homens que conseguem dar sua contribuição à continuidade da espécie até mais ou menos os 70 anos, as mulheres têm prazo de validade, digamos assim, para serem mães, uma vez que os óvulos de uma mulher de quase 40 não são os mesmos de uma mulher de 20 – eles são considerados envelhecidos e dificilmente conseguirão ser fecundados.
Alguns problemas de infertilidade podem ser resolvidos através de tratamentos hormonais: a mulher recebe uma bomba de hormônios para estimular a ovulação. Na teoria, o tratamento é bem simples. Já na prática, a história é outra.
A causa desse tipo de problema psicológico ainda é debatível. De acordo com o doutor Fernando, tanto questões culturais, como a pressão exercida pela sociedade para que a mulher assuma um papel maternal, quanto a ingestão de hormônios pode ser responsáveis por esse quadro de saúde psicológica. “O estresse que o tratamento gera pode prejudicar a produção dos óvulos e afetar o efeito dos hormônios. E também o contrário: os hormônios podem deixar a mulher mais estressada, mais ansiosa e as duas coisas acabam tendo uma interferência entre si”, ele explica. “Apesar de toda a mudança da sociedade, a mulher ainda é educada para ter família, criar os filhos, ser mãe, e quando ela descobre que ela tem uma dificuldade, ela tem esse conflito de não poder ser mãe nunca e isso ela acaba questionando o próprio papel dela como mulher.”
O diagnóstico da depressão e da ansiedade é feito na base da observação. “A gente tem que ficar sempre perguntando, você percebe a ansiedade quando conversa, às vezes elas começam a fazer questionamentos que antes eram coisas simples de compreender. Isso mostra que ela está ficando estressada e ansiosa”, afirma o médico. Ao perceber os sintomas, a terapia é indicada, além de tratamento alternativos, como yoga, meditação e acupuntura.
Mayana e Lorena estão tentando engravidar há três anos. Lorena está na faixa dos 40 anos e fez algumas tentativas, mas agora passou o bastão para Mayana, que sentiu mudanças no seu temperamento: chorava muito fácil e também sentiu alterações no seu corpo, no rosto cheio de espinhas. Elas não optaram pela terapia, mas Mayana diz que busca muita ajuda espiritual para manter o equilíbrio. “É muito complicado dizer, acho que é muito hormonal [o desequilíbrio], a gente toma muito remédio e depois tem a ansiedade em torno do resultado, tem que esperar para ver se vai dar positivo”, diz.
As chances de ganhar as duas faixinhas de positivo no exame de gravidez depois da fertilização in vitro são de 40% a 50% em cada tentativa. Amiga de Mayana, Secy e seu marido Marcos estão tentando engravidar desde 2012. “Não tem nem palavras, porque mesmo sabendo que existe a possibilidade de não dar certo, você acredita que vai dar”, ela diz.
Luciana tem 31 anos e sabe desde os 17 que tem endometriose, uma das doenças que pode ser causa de infertilidade. Antes dos 20, ela passou por três cirurgias para salvar seu aparelho reprodutor. Aos 29, ela e o marido buscaram ajuda e ela começou a fazer o tratamento hormonal e tentou por oito ciclos seguidos. “Uma mulher que entra num consultório para fazer um tratamento contra infertilidade já está frustrada e quebrada emocionalmente. Você já começa o processo se sentindo menos mulher, menos capaz”, ela diz. Assim, também começou a terapia. “A gente começa a tentar engravidar sem saber porque quer engravidar e quem é infértil começa a se questionar antes de engravidar mesmo”, diz.
Outro motivo que faz os casais recorrerem à terapia é o abalo na relação. Para Secy, a terapia foi fundamental para manter sua relação estável. “A cada mês é aquela expectativa, nós começamos a fazer acompanhamento psicológico para conseguir aceitar que pode levar tempo e isso abala muito o casal, é muito angustiante, porque você se estressa, se chateia e a terapia é fundamental”, ela diz.
A psicóloga Mariana Guarize acredita que o tratamento pode trazer à tona questões e problemas da mulher e do casal que são anteriores. “Existe muita cobrança, muita expectativa de fora, que somado às consequências do tratamento, à interferência do tratamento hormonal, potencializa algo que, pensando aí nas questões emocionais, psíquicas, é anterior”, diz.
Ela acredita que é importante que uma mulher que busca o tratamento para engravidar tenha também um espaço de escuta psicológica, ela conta que é bastante comum que surjam questionamentos sobre ser mulher e também um arrependimento e culpa por não ter tentado mais cedo. “O atendimento, visa muito fortalecer emocionalmente essas mulheres, é um espaço para conseguir se reorganizar, pensar no que está acontecendo, pensar no desejo de ter um filho, de ser mãe, de ser pai, construir uma identidade parental. Acho que não seria só em casos que se identifica um problema de angústia ou ansiedade, acho que para todos seria importante, porque eles iriam passar por esse processo de uma forma mais equilibrada”, ela afirma.