SuaveYouKnow, o produtor de hip hop português que faz beats para o Mundo

Muitas vezes, em Portugal, quando se fala de música há uma tendência para se esquecer a Cultura Hip Hop e a sua influência actual em várias vertentes da sociedade, enquanto género musical e não só. O seu crescimento, impacto e notoriedade são abismais nas gerações mais jovens e impossíveis de ignorar. A partir do momento em que, um pouco por todo o Mundo, incluindo por cá, vemos festivais com rappers como cabeças de cartaz e até em clara maioria nos alinhamentos, podemos mesmo levantar a questão: estaremos, definitivamente, perante a nova pop?

Um assunto que haveremos de aprofundar. Mas, como o rap não é “só” feito por rappers, olhamos agora para um dos mais promissores nomes da produção nacional. João Mendes a.k.a. SuaveYouKnow, também conhecido por muitos como J-Cool. Aos 22 anos, Suave está actualmente sediado em Vialonga, depois de ter regressado de uma longa jornada em Londres, onde viveu parte da adolescência com o intuito de aprofundar as suas bases na música e concretizar um sonho.

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A VICE esteve à conversa com o produtor, durante uma sessão de trabalho nos estúdios Big Bit, em Lisboa, para perceber quem é Forever Suave, o que espera do futuro e porque é que decidiu apostar na venda online de instrumentais para outros artistas.


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VICE: J-Cool, Forever Suave ou SuaveYouKow?

Forever Suave: Muitas pessoas conheceram o meu trabalho como J-Cool, outros já como Forever Suave e esta mudança de nome [para suaveYouKnow] acaba por ser uma espécie de refresh à minha brand. Como produtor não me posso focar simplesmente no mercado português e, de certa forma, pensando na internacionalização e, em particular, no mercado americano, foi um passo natural e foi óptimo tê-lo feito. Sinto que estava a precisar disto.

Conta-nos um pouco mais sobre os teus primeiros passos na produção.

Comecei a produzir com cerca de 15 anos. Na altura interessei-me por produzir a minha própria música, tive alguma ajuda nos primeiros passos e aprendi as bases de um software que ainda hoje utilizo, o Reason. Isto, apesar de nunca ter tido formação musical. É algo em que, aliás, se pudesse investir hoje, ainda o faria. Mas a vida não tem sido fácil e só ao fim de sete anos é que as coisas, finalmente, parecem estar a endireitar-se e a estabilizar.

A passagem por terras britânicas foi importante para o teu processo de crescimento enquanto produtor?

Sempre vivi em Vialonga e a minha passagem por Inglaterra acabou por ser a concretização de um sonho. Poder trabalhar com diversos artistas e criar alguns contactos no mundo da música foi essencial. Ainda assim, admito que não vivi Londres, enquanto cidade propriamente dita, porque só trabalhava e produzia noite e dia durante as minhas folgas e tempos livres. Chegava a não pensar em mais nada.

Não foi muito saudável e cheguei mesmo a ter de fazer uma visita ao Hospital mais próximo. Sinceramente, acho que acabou por ser um excesso de stress e trabalho. Foi acumulando, até que o corpo deu sinal para acalmar. Sempre vivi habituado a dar 200 por cento em tudo o que faço e na música tenho por hábito querer superar-me dia após dia, beat após beat. Quero sempre mais e melhor. Quando, se calhar, devia ter parado e pensado: “Já fizeste coisas que nunca ninguém conseguiu alcançar”, ou ” Ainda és novo, vive a vida com calma que tudo se alcançará”.

Por isso é que também sinto que, nesta fase de rebranding, foi importante parar, pensar no futuro e agir com calma,. A mudança de nome também acabou por ter esse peso fundamental, porque o J-Cool era uma pessoa que prometia muito, mas cumpria pouco. E o Forever Suave e o SuaveYouKnow acabam por ser uma espécie de reset à máquina. Tenho mostrado trabalho, que é o que mais importa. Agora estou de regresso a Lisboa e lá está “Hard Work Pays Off”… Trabalho, dedicação e acreditares em ti. Deixar de pensar por um minuto “será que vou alcançar aquilo?”, para me focar no “quando é que vou alcançar”.

És um dos pioneiros em Portugal a abraçar sem complexos o negócio da venda online de instrumentais. Esta aposta nos leases – algo que é bastante comum nos EUA e em alguns países da Europa – surgiu porquê? É uma forma alternativa de venderes a tua arte?

Actualmente, vejo a música como algo que quero fazer para o resto da minha vida. Como referi, estive a viver e a trabalhar em Londres e quando tomei a decisão de regressar a Portugal, foi com o intuito de fazer música em exclusividade. Quando tomas uma decisão destas, tecnicamente tens que te ver como um empresário. Sabia que tinha a minha carteira de clientes mas, como não fazem álbuns todos os dias, o meu rendimento não é assim tão regular. Portanto, comecei a pensar em formas de ter mais estabilidade e algo mais regular a entrar.

Tenho a possibilidade de produzir para artistas e em Studio Sessions e, desta forma, pude começar a pegar naqueles instrumentais que ia produzindo e que acabavam numa pasta perdida num disco rígido qualquer e rentabilizá-los. Agora posso, por exemplo, criar um instrumental e colocá-lo no meu website e até pode nem ser comercializado imediatamente, mas, daqui a um ano, o instrumental continua lá disponível e, muito provavelmente, acabará por ser vendido. Quando os colocas online, não tens que te preocupar com uma sonoridade específica, porque existe sempre público.

Depois, acabei por começar a investigar melhor o mercado, a tentar perceber os mecanismos desta arte, analisar o que este tipo específico de público procura, para saber também o que produzir e em que vibes me devo focar. Também sei que os produtores que apostam nos Type Beats, acabam por ser alvo de hate por não terem, supostamente, um traço definido, um estilo próprio. Mas, sinceramente, não concordo. Os type beats são óptimos para publicitar o meu trabalho e porque consigo mostrar toda a minha polivalência e diversidade. Para quem conhece o meu trabalho sabe que eu tenho o meu estilo e quando me dizem que querem um instrumental tipo Post Malone, ou Tory Lanez, eu já sei exactamente o que eles procuram… Internet money never sleeps!!

Entretanto, também tens trabalhado com vários nomes do panorama nacional, entre eles Jimmy P, que é, nos dias que correm, um nome já com uma dimensão grande. Como foi trabalhar com ele?

Conheci o Jimmy quando ainda não existia Jimmy P. Conhecemos-nos quando ele ainda assinava como Supremo G e a partir daí começou a haver uma ligação e a criação de um laço a partir do qual consegui, felizmente, produzir quatro temas no seu primeiro projecto. No segundo álbum já contei com seis temas. É uma relação que foi crescendo e que se foi cultivando com o passar do tempo.

Sinceramente é algo que gosto de criar com os músicos, estas ligações que vão evoluindo… Mais do que trabalho acabam por se transformar em amizades. Criei laços também com a Fábia Maia e quando fui viver para Londres disse a mim mesmo que queria encontrar mais talentos e poder criar algo de raíz com um artista. Poder dar uma sonoridade ao trabalho e, desse modo, acrescentar voz ao meu instrumental é uma coisa fantástica. Portanto, sim, acabou por me abrir certas portas e dar alguma dimensão e visibilidade à minha música.

É a importância do trabalho em conjunto…

Só para veres como o networking é importantíssimo, cheguei a criar um site, onde as pessoas se registavam e me davam os seus contactos, com o intuito de se habilitarem a participar nas minhas Studio Sessions. Na segunda que fiz, cheguei a ligar às pessoas e tive reacções brutais, pessoas que nem acreditavam que era eu a falar com elas. Cheguei a receber gente que veio de Viana do Castelo, por exemplo, só para participar na Session. São estas pequenas coisas que tornam a cena do online brutal.

Enquanto produtor, tens em vista lançar algum projecto pessoal num futuro próximo?

Não um projecto só, mas vários lançamentos, porque é mais rentável para mim editar singles. Tenho intenções de lançar três singles até ao fim do ano, mas ainda estou à procura de vibes para me poder inspirar. Também quero continuar com o site, porque dei um ano para ver como seria o feedback, se seria bem aceite ou não. Ao mesmo tempo também estão para sair alguns projectos de outros artistas em que vou participar e, desse modo, também estou à espera de ter trabalho pós-lançamentos.

Por isso resumindo, continuar com o website, três singles e trabalhar com artistas. Prefiro dar baby steps e ter poucos, mas bons, trabalhos, do que ter muitos e não conseguir focar-me a 100 por cento no que estou a fazer.

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