Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Garage.
Sem querer simplificar demasiado as coisas – apesar de que… e porque não? É sexta-feira! -, pode dizer-se que as duas grandes obsessões da indústria da moda são a aparência física e a roupa. Por isso, o que é que acontece quando uma fotógrafa de moda retira ambas da equação?
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Foi esse o ponto de partida para o novo livro de Amelia Allen, Naked Britain, que acaba de ser lançado – apesar de “nudes de bom gosto”, com corpos cobertos por um único fiozinho de diamantes, estarem longe de ser o objectivo final aqui. “Queria sair do convencional e das pressões que rodeiam uma sessão fotográfica típica e também das redes sociais, do retoque e de outros grandes esforços de bastidores para tornar a fotografia ‘perfeita’,” explica Allen. Nesse processo, descobriu o naturismo, o lifestyle cultural em que uma comunidade vive, trabalha, socializa, faz festas, discute, ri e faz as pazes – nus.
O projecto, que Allen fotografou ao longo de um período de dois anos, também permitiu à fotógrafa desafiar as atitudes púdicas inglesas face à nudez. “Senti, como fotógrafa inglesa… que aqui a atitude quanto à nudez era como se fosse algo de mau gosto, ou desagradável, a não ser que fosse por razões sexuais, de prazer ou editoriais”, diz Allen.
E acrescenta: “Há um padrão duplo: é aceite ver uma mulher com peitos perfeitamente redondos e subidos numa campanha publicitária no meio da rua, ou no Instagram, mas uma mãe a dar de mamar num café é ofensivo. Decidi, por isso, fotografar nos cenários mais britânicos, como um pub, um campo de ténis, um parque aquático, em passeios de bicicleta, discotecas, festivais, museus, e pessoas a fazerem tarefas do dia-a-dia, sem roupa”.
Os modelos parecem especialmente alegres, em paz, numa forma física raramente vista na órbita em que habitualmente giram os fotógrafos de moda. Depois de alguns minutos a olhar para as fotografias de Allen, olhar para fotografias de moda, de passadeira vermelha, ou fotografias mais “sinceras” de streetstyle de um mundo aveludado, é revelar o quanto as roupas conseguem encorajar um estranho sentimento de alienação. O que é que escondemos por baixo de todas aquelas camadas? Claro que não há nada de errado em estar vestido – às vezes até é obrigatório por lei! -, mas o resguardo que a roupa nos dá torna-se aparente, quando se vê a libertação que se consegue ao fazer da nudez o status quo.
Então, como é que Allen conseguiu pôr os modelos tão à vontade à frente da câmara? O mais importante de tudo, conta, é que ela própria ficou nua. “Achei que, ao me despir, estaria ao mesmo nível que a pessoa que estou a fotografar, por isso não estou a olhar para a pessoa que estou a fotografar como uma outsider com uma máquina, mas como parte do seu Mundo”, sublinha.
Quando fotografas moda, normalmente é pelas roupas… O foco é fazer as roupas sobressaírem, e vender o produto da marca. Os modelos, ao vestirem-nas, dão-lhes vida”, explica Allen. Em contraste, estas fotografias são sobre o modelo, “sobre a personagem e espero que ao olhar para as imagens se veja para lá da aparência, se vejam as suas expressões faciais e aquilo que comunicam”.
As roupas são uma forma de auto-expressão, claro. Mas, o que é que consegues dizer quando tiras todas essas ideias de cima de ti?
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