Adolescentes franceses num barco no Rio Sena. Paris, França, 1988 © David Alan Harvey / Magnum Photos
Esta matéria foi originalmente publicada na VICE US.
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A Magnum Photos é a agência de fotografia de maior prestígio do mundo. Agora com quase 70 anos, eles decidiram comemorar o aniversário nos dando várias fotos que seus fotógrafos fizeram do “momento perfeito“.
Para a venda de impressões de “Conditions of the Heart: On Empathy and Connection in Photograph” — projeto no qual são oferecidos prints autografadas e carimbadas de fotógrafos da Magnum — os artistas escolheram uma foto de seu corpo de trabalho que exemplificasse empatia e conexão.
De imagens dos fogos de artifício em Coney Island de Bruce Davidson a adolescentes franceses fumando e se beijando de David Alan Harvey, cada imagem conta a história de um momento de empatia que eles capturaram. Veja abaixo algumas das fotos dessa série.
JONAS BENDIKSEN
“Tirei essa foto em Qikiqtarjuaq, Nunavut, um pequeno vilarejo no norte do Canadá. Na época, em 2004, eu estava trabalhando para uma revista alemã. Apesar do cenário magnífico, um pedaço surreal de urbanidade largado no meio de uma terra selvagem branca, a história que estava cobrindo para a revista era bastante sombria. Junto com um jornalista, fui mandado para lá para tentar entender as muitas questões sociais locais. Gerações diferentes lutavam para se entender, com o surgimento da internet, TV, abuso de drogas e uma sensação geral de isolamento desafiando práticas tradicionais como caça e pesca.
Durante as duas semanas em que fiquei lá, precisei lidar com meu papel de estranho completo, já que tinha sido mandado para observar o que me pareciam questões muito pessoais. Ao mesmo tempo, fiquei enamorado pelos rituais do cotidiano se desenrolando em meio à beleza rígida e incrível ao nosso redor.”
— Jonas Bendiksen
BRUCE DAVIDSON
“Às vezes elas não contam histórias, simplesmente falam como imagens. Elas expressam sentimento, aumentam o conhecimento. Fotografias podem gerar paixão, beleza e compreensão. E é aí que você tem o amor.”
— Bruce Davidson
PAUL FUSCO
“Tirei essa foto do trem que trouxe o corpo de Robert F. Kennedy de Nova York para Washington, DC. Os trilhos foram cercados por mais de dois milhões de pessoas que vieram testemunhar sua passagem. A multidão representava todos os tipos de norte-americanos: a luta de Bobby Kennedy por reconciliação social o tornou, para muitos ‘o branco mais confiável dos EUA negro’. As pessoas nesta foto tinham uma ligação significativa com Kennedy, uma razão para fazer um cartaz e ficar esperando no calor para dizer adeus para um homem que tinha trazido esperança a elas.”
— Paul Fusco
HARRY GRUYAERT
“Estávamos passando o Natal em Veneza, hospedados num antigo palazzo. Naquela manhã em particular, minha filha, Marieke, que tinha dez anos na época, teve problemas para sair da cama: Ela estava de mau humor. Venho fotografando minhas duas filhas desde que elas nasceram, sempre em preto e branco porque sentia que era mais direto e permitia focar mais nelas do que nos arredores. Mas naquele dia, naquela atmosfera geral, o clima do momento e a luz me fizeram escolher a cor.”
— Harry Gruyaert
PETER VAN AGTMAEL
“Conheci Raymond Hubbarb no outono de 2007 em Washington, DC. Na época, ele estava se recuperando no Walter Reed Army Medical Centre, depois de perder a perna esquerda no Iraque no verão anterior. Eu tinha coberto os conflitos no Iraque e o Afeganistão intensamente por quase dois anos e precisava de uma pausa. Fiquei atraído pela inteligência e o carisma de Raymond, e começamos a andar juntos. Fiquei um pouco tímido em fotografá-lo no começo. Depois de um tempo, ele revirou os olhos com a minha hesitação transparente e me convidou para fotografar o que eu quisesse, como quisesse.
Começamos a passar muito tempo juntos. Alguns meses depois que nos conhecemos, ele teve alta do hospital e voltou para sua pequena cidade natal, Darien, Wisconsin. Fui visitá-lo algumas semanas depois. Bebemos juntos, fumamos cigarros demais e conversamos intimamente. Um dia ele me pediu um retrato de família. Ele adorava Star Wars e queria posar com seus filhos e seus sabres de luz. Fomos até uma plantação de milho próxima no pôr do sol e tiramos algumas fotos. Queria ter tirado mais. Às vezes eu marco o tempo através dessa fotografia.”
— Peter van Agtmael
DAVID ALAN HARVEY
Adolescentes franceses num barco no Rio Sena. Paris, França, 1988 © David Alan Harvey / Magnum Photos
“Eu estava trabalhando para a National Geographic, para uma matéria de sua edição especial sobre a França. Decidi que não queria apresentar a França histórica, mas a França moderna e jovem. Os adolescentes franceses. Então fiz o que sempre faço: reduzi o escopo. Escolhi um grupo de adolescentes parisienses que formavam meio que uma gangue. Uma gangue legal. Amigos. Me tornei parte do grupo deles por várias semanas. Fui para a escola com eles, os acompanhei em todos os lugares, os vi vencer e perder.
Judith, que aparece aqui com o cigarro, era a líder. Tem sempre um líder. Fiquei especialmente feliz com essa foto. Ela foi tirada no dia de formatura deles no rio Sena, em frente à casa de Henri Cartier-Bresson. Eu sempre fazia referência a Cartier Bresson, mesmo quando fotografava em cores durante essa era. Claramente criei um laço com esses jovens franceses. Éramos como uma família quando nos abraçamos para nos despedir, o que para eles era dizer adeus à infância.”
— David Alan Harvey
SUSAN MEISELAS
“Lembro o dia em que conheci as Prince Street Girls, o nome que dei ao grupo de meninas italianas que frequentavam uma esquina próxima todo dia. Essas são Dee e Lisa posando para mim — ou talvez para elas mesmas. Elas eram melhores amigas, nascidas no mesmo mês. Crescendo em Little Italy, elas estavam sempre juntas, na escola e nas ruas. Uma amizade que já dura 50 anos.
Naquela época eu era uma estranha, mas essas garotas me viam chegando e gritavam ‘Tire uma foto! Tire uma foto!’ Por anos fui a amiga secreta delas, e meu loft meio que se tornou o esconderijo quando elas ousavam sair daquela esquina, o que os pais tinham proibido. Era importante continuar fotografando as meninas enquanto elas cresciam, especialmente quando voltei do exterior, onde fotografei guerras. Ver essas fotografias agora me lembra como foi difícil integrar minhas duas vidas — família e amigos em casa, e minha vida como fotógrafa na estrada. Muitas vezes era uma separação dolorosa, mesmo não me arrependendo das escolhas que fiz.”
— Susan Meiselas
JÉRÔME SESSINI
“De muitas maneiras, tenho uma ligação íntima com o México, o que me atraiu para lá várias vezes nos últimos dez anos. Como escrevi no meu livro The Wrong Side: Living on the Mexican Border (Contrasto, 2012), que inclui essa imagem: ‘Paisagens perturbadoras, mundo cinza de trabalhadores das maquilas. Blocos de concreto. Beira mar sem mar… Crianças silenciosas, estranguladas pelos capuzes de seus casacos, cabeças baixas. Elas se arrastam como velhos no caminho para casa.”
— Jérôme Sessini
DENNIS STOCK
“De certa maneira, essa imagem de James Dean é uma história sobre não pertencer. Esse retrato de Dean mostra o futuro ícone num momento de transição: o perfil glamoroso na foto parece incongruente contra o fundo de sua infância numa fazenda em Indiana. Há esse momento no qual não temos muita certeza de onde é o nosso lugar no mundo, apesar de todos termos que fazer a busca para encontrá-lo. Dennis capturou esse momento. Talvez por isso essa fotografia fosse uma das imagens favoritas dele de James Dean; na verdade, ele sempre dizia que essa era sua melhor composição.”
— Susan Richards, esposa de Dennis Stock
CONSTANTINE MANOS
“Essa foto foi tirada numa sorveteria em Miami Beach em 2003. Entrei para comprar uma casquina e achei esse senhor tirando um cochilo num canto silencioso da loja. Me pareceu uma situação bela e tranquila.”
— Constantine Manos
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Tradução: Marina Schnoor