Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.
As imagens saturadas e cinematográficas da fotógrafa Sarah Bahbah parecem optimizadas para a Internet. Nelas, vemos jovens bonitos em camas e piscinas, a comer pizza e a beber champanhe directamente da garrafa. O lado mais sombrio surge nas legendas ao estilo filme estrangeiro, evocando corações partidos, dor e o mal-estar geral da adolescência. É uma combinação que se tem revelado um sucesso e já rendeu a Bahbah uma legião de seguidores no Instagram.
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A fotógrafa, no fundo, é uma narradora e os textos expressivos que acompanham as suas imagens são meticulosamente criados como um guião. Com exposições recentes em Miami e Los Angeles e a primeira exposição a solo em Nova Iorque actualmente patente na Castle Firtzjohns Gallery, Bahbah está a desafiar o establishment da arte a aceitar um trabalho igualitário e pensado para ser partilhado de graça nas redes sociais. A sua bio no Instagram diz “Provavelmente viste a minha arte no feed de alguém”.
A VICE falou recentemente com a artista palestiniana – que foi criada na Austrália e hoje vive em Los Angeles, Estados Unidos –, sobre navegar pelas políticas da Internet, a natureza da intimidade e a importância de homens emocionalmente vulneráveis.
VICE: O que inspirou o título da tua exposição, Fuck Me, Fuck You?
Sarah Bahbah: É o coração e a natureza do amor moderno. Olhando para todo o meu corpo de trabalho, vês que todos os protagonistas têm uma ambivalência com o amor e a decepção. Como uma foto onde um personagem diz “Preciso de amor” e noutra diz “Vai-te foder, odeio-te”. Esse título capta, efectivamente, essa influência.
Recentemente tens feito muitas exposições. O que é que deu início a este impulso?
Ver os meus amigos saírem-se bem nas suas áreas inspira-me e há muitas mulheres empreendedoras a arrasarem neste momento. É importante ser uma boss bitch sempre que possível. Comecei a fazer o que queria fazer. Tenho grandes objectivos pra mim e comecei a representar-me, a criar a minha equipa e a financiar todas as minhas exposições. Queria fazer exposições a solo em todos os lugares possíveis. Comecei em Miami e, mesmo tendo investido muito dinheiro, acreditava em mim e senti-me motivada para continuar. Depois fiz uma exposição em Los Angeles e agora em Nova Iorque. Tenho planos para fazer uma digressão pela Europa no Verão. Não quero depender de ninguém para conseguir o que quero.
Qual tem sido o feedback?
Pelas mensagens que tenho recebido em Nova Iorque vejo que as pessoas estão a gostar bastante. O feedback que tenho recebido é muito forte. Dizem-me que estou a dar uma voz aos seus corações e mentes. Essa é a minha resposta favorita. É muito significativo saber que estás a fazer diferença na maneira como as pessoas se expressam.
Qual é a diferença entre veres o teu trabalho ao vivo ou num ecrã?
Alguns fãs dizem-me que é muito diferente ver o meu trabalho pessoalmente. Há uma diferença entre mexer num telemóvel ou ficar cara a cara com uma foto e realmente pensar no que está a ser dito: uma bonita mensagem numa escala maior que a tua cabeça.
As exposições deram-te mais crédito pelo teu trabalho?
Certamente. No ano passado, por exemplo, diria que 70 por cento das pessoas que partilhavam uma foto minha [numa rede social] sem colocar os créditos, safavam-se. Este ano, só se safam uns cinco por cento. Já há muito tempo que me deixei de importar, mas os meus seguidores são tipo uns espiões. Amo-os.
O ator Dylan Sprouse foi um dos primeiros homens que fotografaste para a tua série. Como é que isso aconteceu?
Para mim, o feminismo é uma questão de fortalecer as mulheres e permitir que os homens se sintam vulneráveis. Temos que permitir que os homens chorem e digam o que sentem. Não têm de ser uma figura forte.
Como é que captas essa honestidade?
Tudo o que vês, das imagens aos diálogos, vem dos meus pensamentos e sentimentos. Interiorizo conversas, ou coisas que quero dizer, e depois crio e escrevo. Há alguns anos que tenho vindo a tentr praticar uma espécie de transparência com os meus pensamentos e emoções. As mulheres foram silenciadas por demasiado tempo para dizer o que sentem e quando querem e isso é, hoje, mais importante que nunca.
O que é que vai acontecer daqui para a frente? O que esperas vir a partilhar?
Há muitas mensagens que não são comunicadas na nossa sociedade, muitos tabus que não estão a ser abordados. Quero usar a minha plataforma para consciencializar as pessoas para conversas que ainda não foram abertas. Na nossa época, precisamos de nos sentir confortáveis para comunicar coisas que reprimimos subconscientemente.
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