Viagem

Fotos transcendentais dos últimos dias de um lago moribundo no Irão

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Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Amuse.

O fotógrafo iraniano Ebrahim Noroozi fez carreira a captar o que poucos vêem na sua terra natal. O vencedor de três World Press Awards não tem medo de se focar nos temas mais obscuros, pesados e problemáticos, como o espetáculo das execuções públicas ou o impacto residual da violência doméstica extrema. Enquanto essas séries se focaram no imediato e visível, desta vez dedicamo-nos a observar uma das colecções mais bonitas de Noroozi – apesar de não menos trágica: The Lake on its Last Legs.

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Outrora o maior lago de água salgada no Médio Oriente, nas últimas duas décadas o Lago Urmia recuou a uma velocidade estonteante, encolhendo até 10 por cento do que era a sua capacidade em 1995, tudo devido ao aumento global das temperaturas – um dos maiores desastres ecológicos no Continente até à data.

Nas fotografias de Noroozi, contudo, a tragédia não é enfatizada: em vez disso, o foco é a alegria, a beleza, o brilho e o horizonte ilimitado que fazem do Urmia algo que parece saído de outro mundo. A história do recuo do Lago Urmia é conhecida e foi já bastante registada e comentada – Leonardo DiCaprio até fez dela uma cause célèbre ambiental -, mas Noroozi capta a experiência humana e como, apesar das forças que não podemos controlar, devemos estimar o que é nosso enquanto ainda existe.

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As suas imagens mostram visitantes a apreciar e a brincar no Lago, enquanto este sucumbe à devastação das alterações climáticas – o que acaba por dar ênfase ao valor da paisagem, antes que se perca.

Abaixo, Noroozi explica a origem desta série, o que o inspirou a fazê-la e o que é que queria deixar claro ao documentar o desaparecimento do Lago.


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O meu objectivo principal nesta série não era mostrar a beleza – mas ela sobressaiu na mesma. O Lago é muito bonito, é impossível ignorar a beleza, especialmente quando as águas ficam avermelhadas durante as estações quentes. Esta é uma história humana, sobre humanos e humanidade e sobre os estragos que, como humanos, deixamos no mundo natural. O Lago está a mudar, provavelmente para sempre, a ser destruído à frente dos nossos olhos. É uma tragédia que não podia deixar de captar.

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O Lago Urmia costumava ser um destino para turistas e navios: agora, é possível cruzar o Lago inteiro a pé. Os barcos definham no leito seco. As ilhas de sal emergem e crescem de ano para ano. Não se fala tanto como se devia do desastre natural que enfrentamos no Irão, ainda que muito dele seja culpa nossa. Cultivámos em excesso, bloqueámos as correntes e as águas que costumavam suster o lago e todos nós tivemos culpa na mudança de temperatura que, agora, está a levar a que o Lago seque. Ainda assim, as pessoas não parecem importar-se.

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Acima de tudo o resto, a humanidade é sempre o foco do meu trabalho, independentemente do que estiver a fotografar. Tal como o Lago, acredito que a humanidade em si está a ser danificada e destruída por acções negligentes – esta crença é a razão pela qual tiro fotografias, sinto que é o meu dever mostrar as coisas terríveis que acontecem nas mãos dos humanos. Nesta série, as pessoas captadas não mostram indiferença ou sofrimento – em vez disso, estão a tentar aproveitar cada momento no Lago Urmia, num esforço para manter as memórias do sítio vivas, apesar da sua morte iminente. Mas elas são, em parte, responsáveis pelo seu desaparecimento – tal como eu – e isso não devemos nunca esquecer.


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