As possibilidades criadas pelos diferentes tipos de sintetizadores e a evolução histórica desses instrumentos na música eletrônica. Este será o recorte do workshop que o DJ, produtor e professor de produção musical Francisco Velazquez vai desenrolar nesta quinta (31), no Beats Lounge. Velazquez é espanhol, toca profissionalmente desde 1996 e fez seu nome na Europa antes de se fixar no Brasil, onde atua dando aulas na escola DJ Ban de DJing/produção. Depois do workshop, que rola entre 20h e 21h, ele apresenta um DJ set dividindo line-up com seu camarada William Schiavon, o DJ Ban em pessoa, dono de um estilo techno grooveado e fundador da escola.
Francisco Velazquez costuma compor sets bastante norteados pelas variações do techno e da house, zanzando entre o deep, o mínimal e a disco. Mas não faltam uns temperos rock, pop, funky, soul, jazz e trip-hop nas performances dele. Iniciou a carreira assumindo residência na festa N-340 de sua cidade, Estepona. Quatro anos mais tarde, rumou para a Inglaterra, onde passou a tocar em clubs como Ha-ha e Audio de Luxe, em Londres. De volta à Espanha, tocou nos lugares mais bombados de lá e fixou-se em Ibiza, onde alcançou popularidade preenchendo a programação de clubs como El Divino, Privilege, Space Ibiza e Eden. Foi quando começou a participar dos programas de rádio da estação local Ibiza Sonica, com a qual colabora até hoje.
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Atualmente, ele se reveza entre temporadas no Brasil e na Espanha, conciliando as aulas da DJ Ban com sessões na rádio de lá. Fora isso, é um dos artistas do selo texano Soul Shift Music, que deve soltar um novo trampo dele em breve, segundo o próprio adiantou na entrevista a seguir:
THUMP: Como vai ser o programa do workshop de síntese sonora que você preparou para apresentar no Factory? Você pretende seguir uma pauta definida?
Francisco Velazquez: Sim, está tudo pautado. Não seria possível, sem uma pauta, fazer um workshop com esse enfoque. Só não sei se teremos tempo de ver tudo o que eu gostaria de passar lá. Mas tudo bem, chegaremos até onde for possível. Será uma apresentação realizada com Keynote, e usarei Ableton Live para apresentar os aparelhos.
Baseado nas informações que vão conduzir o workshop, é certo afirmar que a evolução da música eletrônica está atrelada ao uso/experimentos com diferentes tipos de sintetizadores?
De uma forma genérica, acho que sim. O desenvolvimento de diferentes tipos de síntese e, portanto, de aparelhos mais modernos, cada vez mais traz consigo novas formas de expressão, sem dúvida.
Qual o sintetizador mais impactante para a história da eletrônica, aquele que mudou os rumos das coisas e que marcou o som de álbuns importantes?
Na minha opinião tem vários. Cada um na sua época, claro. Eu poderia afirmar que o Minimoog foi um destaque na sua época. Foi o primero synth que era de “performance”, desenhado para atuar ao vivo. Até essa época não existia nada parecido, foi a revolução no uso de synths modernos. Depois chegaram outros, com mais voices, mais controles e, sobretudo, o uso de pre-sets, bancos de som, etc. Nesse sentido, o Prophet 5, da Sequential Circuits, foi importantíssimo também. Mais para frente, podemos destacar o Yamanha Fm7, sintetizador FM (com modulação de frequência) que revolucionou muito a forma de criar timbres.
Como aconteceu de você entrar para o time de professores da DJ Ban? Sua residência atual é no Brasil ou você se reveza entre países?
Eu conheci o William quando eu ia à sua loja pra ver aparelhos, bater um papo e vender coisas de segunda mão. Um dia, conversando, vimos que poderíamos fazer coisas juntos. Eu gosto muito de estudar, pesquisar, e foi aí que falei com ele para fazer um curso de síntese, já que na época, uns dois anos atrás, não tinha nada parecido e, na minha opinião, estava faltando. Depois comecei a desenhar outras grades. Sou professor de Maschine (da Native Instruments) há uns dois anos também, e agora começaram outros cursos, MPC Renaissance e Ableton Push. Atualmente passo a maior parte do meu tempo aqui em São Paulo.
Entre os avançados sintetizadores disponíveis, quais os equipamentos mais interessantes para se produzir música?
Hoje existem muitos aparelhos bacanas para uso na produção de música eletrônica. As marcas têm redesenhado os antigos synths, só que colocando mais controle MIDI, mais expressão neles. Mais capacidade de armazenar presets, etc… Tem surgido marcas como a Access, na Alemanha, que criaram o Virus TI, um synth que funciona com tecnologia TI (total integration), usado diretamente como plug-in, para edição mais fácil dentro de um sequenciador. Tem também outras marcas que estão revolucionando o mercado, como a Elektron, da Suécia, que vende synths muito orientados ao live, já que possuem uma estrutura baseada em patterns e songs, com um sequenciador monstruoso (128 steps) para atuar ao vivo.
Você usa algum software nos seus sets hoje em dia? Você acha que o equipamento utilizado pelo DJ serve para julgarmos sua desenvoltura ou profissionalismo?
Eu acho que o DJ moderno tem sim que ter esse conhecimento tecnológico. Pesquisar, usar toda essa tecnologia para agregar alguma coisa diferente à apresentação. Hoje em dia temos múltiplas ferramentas com que trabalhar e se apresentar nos shows, não estamos só limitados ao vinil e aos CDs. Eu uso Traktor, controlado por Livid Cntrl:r, e Ableton Live, controlado por Push e a própria Livid. Dependendo do lugar onde vou me apresentar uso um formato ou outro.
Há quanto tempo você já vem se dedicando à música eletrônica e o que mudou no seu som/jeito de tocar desde quando começou?
Eu sempre estive ligado à música eletrônica, desde criança. Na minha cidade, Estepona (sul da Espanha), a cultura da música eletrônica sempre foi muito forte. Com 17 anos eu já era DJ residente de uma das mais badaladas festas da cidade, a N-340. Depois de lá, nunca mais parei de progredir no que diz respeito à música eletrônica. Passei por várias cidades, sempre tocando e aprendendo, Granada, Madrid, Londres, Ibiza, etc… De todo lugar tirei algum aprendizado e conheci artistas incríveis que me fizeram crescer, sem dúvida. O meu jeito de tocar tem mudado muito. Quando comecei, só se tocava com vinil (Technics SL 1200); depois disso, até hoje tenho passado pelos CDs e, atualmente, só uso MIDI para me apresentar. O conteúdo musical também tem mudado muito. Venho estudando música, pesquisando síntese sonora há anos, e, assim, com certeza, tenho evoluído bastante em termos de repertório e performance.
Atualmente, de quais projetos você participa? Ainda está rolando o programa de rádio? Atualiza a gente aí sobre suas residências, parcerias criativas…
Eu sempre participo, de uma ou outra forma, na Ibiza Sonica Radio. Quando estou lá, em Ibiza, toco no programa Club Ibiza Radio, que são sets transmitidos ao vivo dos estúdios da Sonica. Quando não, mando os sets pro meu amigo Igor e eles são veiculados na programação regular. Também colaboro no programa ao vivo pela TV da BAN, o Ban High School, onde levo dois convidados para tocar comigo, como os professores da escola. Uma proposta bem legal essa.
Eu colaboro com algumas marcas de software plug-ins, tipo Xils Lab, Arturia, D-16, Synthmaster e outras mais, testando os beta softwares.
Quais são os momentos ou realizações que você apontaria como mais importantes da sua carreira?
Bom, é difícil pensar em apenas alguns momentos, né? Pois estou há 19 anos trabalhando com música eletrônica. Eu destacaria minha primeira residência, na N-340, que marcou a minha forma de entender o trabalho de DJ. Também trabalhar na tenda de vinil de Ibiza como gerente da seção de música eletrônica. E eu aprendi muito aqui nesse trabalho. Aprendi como funciona o mercado e, sobretudo, aprendi a ouvir música de uma forma mais aberta, sem etiquetas. Inesquecível foi quando fiz a festa de aniversário de 15 anos da Privilege Ibiza, a maior balada do mundo. Foi um autêntico orgulho fazer esse projeto com o meu parceiro Rey Vercosa, a quem devo muito, alguém que nunca me esqueço. Outro momento importante: quando cheguei para tocar pela primeira vez no Brasil. Esse ano foi muito bom para mim, com projetos como Privilege World Tour. Aqui no Brasil tenho aprendido muito como artista em geral. Acho que há muitos talentos aqui nesse país. Quando entrei de professor na BAN, sem dúvida foi um degrau a mais na minha carreira, pois combinou estúdio e trabalho. Atualmente vivo aqui no Brasil por isso.
Pra encerrar: você está trabalhando em algum projeto que possa adiantar aos leitores?
Sim, estou trabalhando em um live com produção autoral minha. Em breve saberei quando começa a rolar. E estou produzindo algumas faixas novas para o selo Soul Shift Music.
BEATS LOUNGE
Quinta-feira, 31/7, a partir das 18h.
Workshop das 20h às 21h.
DJ sets das 21h à 0h.
Entrada gratuita. Sujeito a lotação.
SKOL BEATS FACTORY
R. Pedroso de Moraes, 1036, Pinheiros, São Paulo.
Tel.: (11) 3814-7383