O agudo e transgressor barulho do Glassjaw foi uma pedra fundamental do movimento post-hardcore desde que a banda se formou na cidade de Nova York, mais de 20 anos atrás. O disco do Glassjaw de 2001, Worship and Tribute, é considerado uma obra-prima do gênero, fundindo elementos do jazz e ambient em meio a trabalhos de guitarra destruidores de tímpanos e o vocal agonizante do frontman Daryl Palumbo. Os diminutos, porém ferozes cantos e violentos gritos de Palumbo sobre as paredes de guitarra de Justin Beck continuam tão chocantemente salientes agora quanto foram uma década atrás.
Em 2004, Palumbo mergulhou em uma das maiores trocas musicais da memória recente, lançando seu projeto Head Automatica – uma suave banda pop levada pela guitarra, que defendeu o pop alternativo dos anos 80, como Squeeze, como principal influência. Embora eles tenham sido um sucesso instantâneo graças ao imediatamente palatável “Beating Heart Baby”, para muitos que conheciam Daryl como a face revoltosa do art rock, era algo estranho, uma falácia.
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A escorregadia identidade musical de Palumbo só foi aprofundada quando ele passou a virada da década entre projetos como um retorno do Glassjaw, gravando com Cold Cave, lançando seu projeto Color Film, e o mais interessante, silenciosamente lançando remixes de house music e discotecando pela terra natal, Nova York.
“Com o passar dos anos, tem moleques que ficaram simplesmente perplexos”, ri Palumbo sobre sua trajetória, de seu estúdio em Nova York. “Mas eu vou fazer 36 anos em alguns dias, e nesse ponto, música é apenas música. A cada cinco horas eu me sinto um cara diferente. Eu não exteriorizo isso, mas na minha cabeça eu estou, sabe, andando por aí, doidão de café, assobiando uma porra de melodia eletrônica de balada. Então, depois do jantar eu estou curtindo um disco do Black Flag ou um disco do Capitalist Casualties.”
É raro encontrar qualquer um que exiba o alcance de Palumbo, mesmo dentro dos limites da música dance. Não existem produtores de house/gabber/dubstep, por exemplo. Mas exercer essa variedade a partir da costumeiramente avassaladora cultura do hardcore straight edge é ainda mais impressionante. “Hardcore e metal são bem únicos porque se você curte aquilo, você está dentro daquilo,” diz Palumbo. “Música pesada é tão passional. Ela toca você muito profundamente. Moleques do hardcore veem a musica e a arte desse ponto de vista bem estreito. Eu não sei dizer porque eles são assim. Eu vejo arte e música com limites também, mas eu acho que eu deixo outros elementos entrarem.”
A jornada única de Palumbo faz um pouco mais de sentido se você entender seu background. “Glassjaw e o hardcore novaiorquino, sabe, indie-art-rock pretensioso gritado – isso tomava muito do espaço da minha cabeça nos anos 90,” ele começa. “Mas eu estava obcecado com rap e eu amava new wave, punk rock e metal. Até De La Soul e, Public Enemy, sendo de Long Island, mudaram a minha vida. Eu lembro da minha mente explodindo apenas em querer fazer beats.”
“Eu curtia bastante o lado eletrônico nos anos 90, mas não era algo tão presente para mim,” Palumbo continua. “Eu acho que, sendo jovem e não usando nenhum tipo de droga, você realmente não consegue entender esse tipo de repetição. Mas por volta de 98, 99, eu comecei a ouvir Cassius, Dmitri de Paris, aquele house exagerado, meio glam de passarela. Me pegou porque era muito baseado no sample, assim como o hip hop. Eu estava começando a me envolver com produção e comecei a conectar os pontos entre os sons. Foi o primeiro tipo de música de clube descolada que realmente me pegou: filter house, MPC, loop house, todo esse som. Eu podia entendê-lo. Eu simplesmente saquei.”
Apesar de todas as voltas, não existe nenhuma filosofia pretensiosa por trás da progressão musical de Palumbo. Sua explicação é simples. “Eu simplesmente gosto de fazer faixas. Eu só preciso fazê-las”, ele diz. “E eu gosto de imitar coisas que eu ouço. Se eu ouço uma canção e ela me pega de jeito, eu simplesmente adoro descontruí-la e emulá-la. Produção, eu apenas amo isso.”
A ainda evidente sede por conhecimento musical de Palumbo se formou tanto nas culturalmente ativas ruas de Long Island quanto em um lugar mais curioso: a InfoTract [NT: é uma database de bibliotecas norte-americanas, anterior à internet]. “Quando eu tinha tipo, dez anos, eu costumava ir para a biblioteca e digitar Anthrax ou Pink Floyd em uma dessas velhas máquinas para ver o que aparecia,” ele diz. “Eu anotava o número da revista, entregava para o bibliotecário, e esperava para ver se eles tinham a porra da Rolling Stone de janeiro de 1978. Aquele pouco que eu tinha para aprender era definitivo. Se eu tivesse Wikipedia ou YouTube, eu nunca sairia de casa!”
Pra ele, fãs e músicos dessa geração terem igualmente acesso tão fácil à informação é uma faca de dois gumes. “As pessoas definitivamente têm a mente mais aberta do que 15 anos atrás,” diz Palumbo. “Eu acho que isso é um produto da internet, e é para melhor ou para pior. Os moleques não precisam trabalhar tanto para conseguir informação. Isso meio que corrompe o conceito de caçar o nicho que fala com você.” Ou, se estivermos falando sobre Daryl Palumbo, o nicho ou dois ou três que falam com você.
Dê uma olhada nesse playlist de 29 faixas que Daryl fez, listando suas influências musicais do começo ao fim:
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