No mês passado, o Tribunal Superior de Justiça do MMA suspendeu por nove meses o peso-pesado do UFC Roy Nelson depois que o lutador deu um chutinho na bunda do juiz “Big” John McCarthy.
A delicada quicada nas nádegas do juiz foi, segundo Nelson, uma retaliação pelo fato do árbitro deixar ele bater além da conta em seu amigo e adversário daquela noite, Antonio Silva. Para o lutador americano, o combate deveria ter sido parado antes dele ser obrigado a dar vários socos na cara de seu brother.
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Em vez de discutir, Nelson deixou que seus pés dialogassem com o juiz. Como esse tipo de idioma não é muito bem aceito entre os chefões do UFC, porém, rolou a suspensão. A sentença pode ser reduzida com um pedido de desculpas , mas, conhecendo a figura, não contamos com isso. Ele preferirá a suspensão e a multa de R$ 24 mil do que se retratar em público, claro.
O surto de Nelson com McCarthy só reforça o trabalho ingrato que é ser o terceiro homem ou mulher dentro de um ringue de MMA. Há, convenhamos, inúmeros possíveis fatores de estresse: são microssegundos para tomar decisões duradouras que podem afetar o cartel, sustento e saúde de um lutador.
Tentar impor ordem também pode ser perigoso. Há um bizarro histórico de lutadores voando pra cima de juízes e, por vezes, o método e a exagerada disciplina dos dos árbitros causam acidentes, como no caso em que o juiz Sam Stout é nocauteado e então encaixado numa guilhotina de Philippe Chartier. É comum também vermos surtos quase compreensíveis com base em algo que o lutador considera injusto, como quando Jason High empurrou o juiz que parou a luta cedo demais. Fora, claro, os lapsos inexplicáveis de puro caos.
Eis uma lista de alguns momentos memoráveis – por vezes embaraçosos, por vezes hilários – em que atletas desceram cacete nos juízes que estavam por perto. Que nada disso aqui seja encarado como motivação, afinal, colocar as mãos em juiz pode te levar ao chão, sem contar as multas e demais penalidades.
#1: Keith Peterson versus Bob Ascolillo
Sempre que vejo Keith Peterson arbitrando alguma luta no UFC, acabo mandando mensagem pra alguém dizendo: “o vocalista do GFY está na tv agora”. O GFY (acrônimo para “vá se foder” em inglês) era integrante de um subgrupo especialmente antissocial da cena de hardcore de Nova York que contava com outras bandas como Billyclub Sandwich e Punchyourface. Assisti a shows de algumas destas no começo dos anos 2000: quanto mais vazio estava o VFW Hall, mais cadeiras voavam e mais porrada rolava em meio ao público enquanto a banda fazia a trilha. Considerando o passado de Peterson é até meio louco parar pra pensar que hoje ele é um dos mais respeitados dentre os árbitros de MMA ( com exceção desse caso aqui ).
Mas vamos ao que interessa: ao arbitrar uma luta amadora entre Bem Syers e Bob Ascolillo em 2010, Peterson foi vítima de um engano. Em questão de segundos, Syers derrubou Ascolillo com um soco, Peterson foi separar os dois e… Ascolillo continuou lutando. Todos já vimos lutadores meio baqueados tentarem agarrar calcanhares e pernas, mas aqui o buraco negro da consciência é mais fundo: Ascolillo levou Peterson ao chão e montou nele. É ridículo, mas ainda assim incrível – a estratégia de Ascolillo havia sido tão bem ensaiada que ele conseguiu reproduzi-la mesmo com seu cérebro ricocheteando dentro de seu crânio. Já Peterson merece crédito por ter esperado seus colegas separarem a confusão em vez de descer o cacete em Ascolillo com o soco inglês de fã do GFY.
#2: Um finlandês versus Gilbert Yvel
Anos antes dos críticos caírem matando Jon Jones e Chuck Liddell por meterem o dedo no olho de seus oponentes, Gilbert Yvel garantiu sua reputação de lutador sujo da forma mais tradiça: metendo os polegares nos olhos de Don Frye, dando uma cotovelada na coluna de Dan Henderson, mordendo seus oponentes e desferindo uma série de golpes que só seriam considerados legítimos em uma briga na cadeia. O momento mais infame para o ex-campeão dos pesos-pesados do Pride rolou em 2004, quando lutou contra o finlandês Atte Backman. Depois de quase cair para fora do ringue, o juiz reposicionou os dois lutadores em um clinch e, mesmo sem o áudio do momento, dá pra perceber que Yvel é só tensão e ódio. Ainda assim, não deixamos de ficar impressionados quando Yvel mete um gancho de esquerda no juiz e o chuta no chão. O fato do peso-pesado holandês ter chegado ao UFC em 2010 mesmo com esse histórico é sinal tanto de sua capacidade de ficar na moita após ser desqualificado – a terceira vez em uma carreira que segue adiante – quanto da dificuldade de encontrar bons lutadores na categoria.
#3: Juiz Bert Lowes versus Pedro Cardenas
Se o gancho de esquerda que Pedro Cardenas meteu no juiz Bert Lowes não é o caso mais famoso de violência contra árbitros, certamente é o mais distribuído: a cena faz parte da abertura de Malcom in the Middle, aquela série com Bryan Craston pós-Tim Whatley e pré -Walter White. As imagens vem de uma luta de boxe amador de 1982 durante os North American Championships em Las Vegas, nos EUA, numa disputa entre Cardenas, cubano, e Willie deWit, peso-pesado canadense que ganhou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1984. Willie massacrou Cardenas no primeiro round, botando pressão e o levando ao chão. Quando Lowes foi separar os lutadores, Cardenas largou um soco que esmagou (sem querer) a cara de Lowe, deixando-o com o nariz sangrando. Após a substituição do juiz, Willie deu cabo de Cardenas no segundo round, mas essa parte ninguém nunca viu. Acho.
#4: Juiz Joey Lepiten (e Alvin Aguilar) versus Razi Jabbari
Antes de se tornar um estande de tiro ao alvo de um presidente matador de traficante metido a machão , as Filipinas abrigaram uma das mais bizarras tretas entre um lutador de MMA e um juiz. Em 2011, o evento local Universal Reality Combat Championship contou com uma luta entre os pesos-pena Honorio Banario e o tirano iraniano Razi Jabbari. Aos 1:35 do primeiro round, o juiz Joey Lepiten parou a luta quando Jabbari desistiu após uma série de ataques. Daí rolou um som do Korn no PA do lugar e tudo virou uma loucura: após Banario ser anunciado como vencedor, Jabbari surtou e começou a xingar e empurrar o juiz, que o empurrou para as cordas e o promotor do URCC, Alvin Aguilar – especialista em jiu-jitsu – entrou no ringue e acalmou Jabbari com um mata-leão. Banario posteriormente ganhou o cinturão do One FC, onde compete até hoje na categoria peso-leve. Jabbari nunca mais lutou. Loucura.
Tradução: Thiago “Índio” Silva