Guimarães Noc Noc 02: o único evento de arte que te vai fazer desejar andar no ginásio



A partir da próxima sexta  e até domingo, dia 7 , a arte vai andar à solta por Guimarães. Na agenda da Capital Europeia da Cultura, abrem-se as portas para mais um Guimarães Noc Noc, o evento que consegue pôr a lavandaria Mónica a tratar por tu a Plataforma das Artes, ou tornar o restaurante O Nicolino tão erudito quanto o CAAA. A lógica é simples. Casar artistas que têm ideias (mas que não têm padrinhos) com espaços que queiram transformar o louçeiro numa prateleira para escultura, a parede da entrada numa tela para vídeo, ou a mesa da sala num suporte para uma instalação. Casas particulares, lojas, jardins ou praças são alguns dos espaços abertos a espionagem pública neste evento que, além de dar a possibilidade ao Zeca Paulo de ser tratado como um artista, pelo menos uma vez por ano, é uma boa desculpa para espreitar e criticar a casa da vizinha.

Este ano, na segunda edição, o projecto levado a cabo pela Associação Ó da Casa! Que, no ano passado, levou centenas de pessoas ao centro histórico para uma autêntica caça ao tesouro, chega com algumas novidades e cheio de vontade de te dar cabo do cortiço. Para os que ainda mantêm viva a sede exploratória da Expo 98 e pretendam carimbar o passaporte em todos os pontos de exposição, aqui fica o aviso: façam-se acompanhar por uma garrafa de litro e meio de água e uma toalha. Isto porque o pequeno mapa deu lugar a uma autêntica carta de navegação, onde poderão ser trianguladas 70 localizações que, muito certamente, estarão apinhadas com as 320 propostas dos cerca de 500 artistas que se alistaram. Um crescimento que muitos explicarão com o sucesso do ano transacto, a crise e o desemprego, mas que, para mim, nada mais é do que este pessoal a piscar o olho à organização da Capital Europeia do Desporto, a ter lugar em 2013 na mesma cidade. Mas já chega de sermos nós a falar, vamos lá a saber alguns pormenores sobre o Guimarães noc noc. Micro aberto, que é para não andarem por aí a dizer que nós somos maus.



VICE: O que podem esperar as pessoas que se dirigirem ao G noc noc este ano. Alguma novidade?
Délia Carvalho: Cortinados novos em algumas casas [risos]. Este ano houve imensas inscrições. Temos o dobro dos projectos, artistas e espaços. A participação de artistas estrangeiros também foi muito maior (são à volta de 50). Por tudo isto, o horário teve de ser alargado, embora seja flexível, para os donos das casas. Na abertura, dia 5, às 17 horas, haverá também uma surpresa, no Largo da Oliveira, que é de arrepiar. Literalmente. Há espaços que nunca antes tinham sido abertos ao público, que este ano vão abrir portas. Cá no norte, há a tradição das “limpezas de Páscoa”. Em Guimarães, temos as “limpezas do G noc noc”.

Este ano, o G noc noc conta com muitas participações estrangeiras. Descontando os emigrantes de 2.ª geração, como explicam este interesse?
Também ficámos surpreendidos. Creio que o facto de a cidade ser Capital da Cultura ajuda bastante. No ano passado, o evento correu muito bem, tivemos muita cobertura e partilha pelas redes sociais. Acho que isso ajudou a “exportar” o G noc noc para além fronteiras e despertou o interesse de muita gente.

Li algures por ai que vão contar com uma grande delegação japonesa. Queres explicar-me como isto aconteceu?
Puseram-nos em contacto com uma fundação cultural japonesa chamada Eu-Japan, que tem um trabalho muito interessante e consistente. Eles tentam encurtar a distância entre o Japão e a Europa, através da cultura. Apresentámos o nosso projecto e eles mostraram-se interessados. Convidaram-nos para ir ao Japão conhecer dezenas de artistas e sugerir alguns para virem ao G noc noc. Acabámos por convidar alguns desses artistas e, como resultado desta viagem, estarão em Guimarães 20 projectos de 24 artistas japoneses.



Vão convidar o Fernando Alvim só pra lhe dizerem “Eu sei onde foste buscar a ideia”?
Não nos tínhamos lembrado disso, mas é uma boa ideia. Aliás, devíamos tê-lo aliciado… Sabes que muita gente nos veio dar os parabéns pelo “Mi casa es tu casa”. Julgavam que tínhamos sido nós a organizar. Às tantas, se o Alvim andar por aí no fim-de-semana do G noc vão-lhe fazer o mesmo. [risos] A verdade é que, à primeira vista, parece o mesmo, mas não é. O G noc é artisticamente transversal e aberto a toda a gente que queira participar. Implica um investimento pessoal e económico de quem participa. O “Mi Casa” é só de música, os artistas são convidados  e  deduzo eu — pagos pelo trabalho que fazem. Coisa que não acontece no G noc noc, onde ninguém (nem a organização) ganha um centavo com isto.  Seja como for, o formato do G noc não é algo totalmente inventado por nós. É um formato que existe em Madrid, nas Caldas da Rainha e, suponho, em muitas cidades do mundo. O que nós fizémos foi adaptar a ideia à realidade vimaranense e acabou por resultar muito bem.