Todas as ilustrações desta matéria são do Herbert Loureiro.
Pedro, durante uma aula no ensino fundamental, foi levar sua tarefa de casa para a professora. Na fila, enquanto esperava sua vez, o garoto de 12 anos colocou a mão na cintura. Na frente da professora, antes mesmo que ela olhasse sua atividade, Pedro recebeu um tapa no braço e a advertência de que aquela não era “a postura de um menino”. A história que marcou pra sempre Pedro aconteceu há cerca de uma década e ainda hoje se repete dessa e de tantas outras formas.
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Não é à toa que a homofobia é apontada como uma das principais violências dentro da escola de acordo com o amplo estudo publicado em 2015 Juventudes na escola, sentidos e buscas: Por que frequentam?. O trabalho realizado com o apoio da Flacso-Brasil (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), OEI (Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura) e do MEC (Ministério da Educação) ouviu mais de oito mil estudantes na faixa de 15 a 29 anos e realizou um bom panorama sobre como os próprios alunos vêem suas escolas.
Um dos dados obtidos pela pesquisa, inclusive, aponta que estudantes responderam de maneira muito similar, no espaço de dez anos, à pergunta: “quem você não gostaria de ter como colega”. Segundo texto: “homossexuais, transexuais, transgêneros e travestis são indicados como pessoas que não se queria ter como colega de classe por 19,3% dos alunos, sendo os jovens do ensino médio os que mais se rejeitam essas pessoas”.
Para a professora Miriam Abramovay, Coordenadora da Área de Juventude e Políticas Públicas da FLACSO, que coordenou o Juventudes na Escola, “falta muito na formação do professor para saber lidar com a realidade, com a diversidade que é grande”. Para ela, a escola funciona como um retrato da sociedade e por isso “a dificuldade maior é lidar com aquilo que não faz parte do ser igual — sendo o igual quem é branco, o católico, os heterossexuais. Os que diferem da norma têm sofrido muito na escola.”
Autora da tese de mestrado “A intolerância ao diferente: o problema do bullyng escolar”, Fernanda Carolina Ifanger, doutora em Direito pela USP, explica o bullying como comportamento também tem uma correspondência com a legislação penal, “como crime de lesão corporal; crime de ameaça; crime contra a honra”, lista ela. Quem pratica o bullying, segundo Ifanger, pode ser responsabilizado penalmente por sua conduta, mesmo que menor de idade, situação disciplinada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
Na sequência, Pedro, que relatou a história do começo desta matéria, e outras nove pessoas que se identificam como gays, lésbicas e de gênero fluído, falam sobre casos de homofobia que viveram na escola.
“Quando eu tinha sei lá, 13 anos, na hora do intervalo, na minha escola, comprei um refrigerante no copo e uma coxinha pra comer. Me sentei sozinho na grade da quadra de esportes e fiquei comendo assistindo um jogo que tava rolando. Tinha um menino que sempre me perseguia, sempre tirava onda de mim quando eu passava, o ‘rei da piada’ era ele quando o assunto era eu. Nesse dia, ele me viu sentando comendo, chutou a bola em minha direção, acertando meu rosto enquanto estava bebendo um pouco do refrigerante. A coxinha também caiu no chão. Eu engoli o choro e fui pro banheiro limpar minha farda e voltei pra sala com fome. Eu nunca esqueci esse dia. Anos depois, eu estava na fila do cinema em um shopping de Maceió e lá estava o bendito menino, só que dessa vez ele estava me paquerando. Fiquei mega confuso e me perguntando por que ele tinha feito tudo aquilo comigo e agora me paquerava. Foi uma sensação horrível. Fui embora sem falar um ‘a’ novamente e refletindo que o mundo é mesmo uma loucura.” — Matheus Sandes, 25, fotógrafo.
“Primeiro episódio [de homofobia aconteceu quando] eu devia ter uns 12, 13 anos e estudava numa escola de periferia na Zona Sul de São Paulo. Nessa época, andava com uma turma de garotas que eram vistas como esquisitas da escola, então acabamos nos unindo. Não éramos muito bem-vindas, ainda que na época eu não entendesse que isso tinha a ver com a sexualidade. E por isso, me lembro que eu e minhas amigas, que estávamos fora dos padrões da escola, passávamos o intervalo todo dentro do banheiro do colégio porque era o lugar mais seguro que tinha. Assim, as meninas não iam encher nossos saco e tal. Nesse tempo também, tínhamos aula de educação física com um pessoal mais velho do colegial. Então, depois de uma aula de educação física, eu saí com uma garota com quem já estava ficando, e os garotos começaram a falar que éramos sapatão, que eu ficava olhando pra namorada de um deles — a própria garota pode ter ido falar pro cara que eu olhava pra ela. Foi assim que um desses caras veio me cobrar, falou várias coisas e até atirou papel em mim. Me lembro que um desses caras falava que eu estava de olho na namorada dele, que aquilo tinha que acabar, que aquilo era putaria, que garotas assim não conseguiriam casar, coisas do tipo. Na saída da escola, por exemplo, gritavam coisas como ‘sapatão!’ pra mim, e isso durou da quinta até a oitava série, foi um período de descoberta.” — Pétala Lopes, 26, fotógrafa.
“Na terceira série um menino apontou o dedo pra mim e me chamou de viadinho. Foi o meu primeiro sentimento de ira. Eu bati tanto nele e chorei porque fiz isso. Cheguei em casa tremendo e sujo de sangue. Quase sem conseguir falar de tanto soluçar, pedi pra minha mãe ligar pra mãe dele e pedir desculpas pelo que fiz. No outro dia, na escola, ninguém falava comigo. A vítima tinha sido ele. Depois viramos amigos e nunca mais, na escola, ninguém me chamou de viadinho. É duro dizer que é maior que eu, é triste ver isso acontecer. Hoje, ainda choro quando sei de algo e leio sobre. E penso nas histórias de amigos gays, negros, nordestinos, gordos, de origem pobre e mulheres, com os olhos cheios de lágrimas, mas com muita esperança.” — Thiago Luna, 30 anos, redator freelancer.
“Quando entrei para o 1º ano do ensino médio, tinha 15 anos e acabado de mudar de escola. Sempre usei roupas mais largas porque nessa época eu gostava muito de andar de skate e então elas eram mais confortáveis, e por gostar de bandas de rock também usava muito preto. Um dia conversando com minha mãe, falei que tinha vontade de cortar o cabelo (que era na cintura) e ela, como sempre, me incentivou e logo no outro dia estávamos no salão onde raspei um moicano.
Nessa mesma época, fui descobrindo minha sexualidade e percebendo que gostava de garotas, e aí pronto, virei o alvo perfeito na escola: a lésbica ‘masculinizada’ que tinha acabado de cortar o cabelo. Quando você é adolescente, qualquer mudança drástica no seu visual é motivo de piada, você sente todo mundo te olhando, dando risadas, sentando longe, excluindo você das conversas e grupos, fazendo piada com tudo que existe em você, mas até aí o bullying é psicológico, o físico veio depois… Um dia estava andando no intervalo entre as aulas, e alguns alunos mais velhos se aproximando, eu olhei pra baixo (como sempre) e eles jogaram os restos de seus lanches em mim e continuaram andando tranquilamente dando risada. Uma outra vez, estava conversando com uma amiga quando, de repente, um rapaz cuspiu em mim e saiu correndo. O pior dessas situações é que as pessoas ao redor ou estão rindo de você ou estão com pena, e as duas hipóteses são horríveis.” — Theodora Charbel, 22, videomaker.
Outro dia, no meu Facebook, apareceu uma notificação que eu havia sido marcado em uma foto. Cliquei e me vi com 13 anos naquelas tradicionais fotografias escolares em que toda a classe está junta. Ao lado da imagem, uma mensagem da pessoa que postou sugerindo um reencontro, um churrasco. Em seguida os comentários de alguns dizendo que adoraram a ideia, sentiam saudades, outros lembrando momentos engraçados, professores ou outros profissionais que trabalhavam ali. Eu, no entanto, só sentia indignação, ódio e desprezo. Quer dizer, essa foto e as palavras dessas pessoas despertaram em mim, 21 anos depois, as mesmas emoções que eu tive quando estudei ali. Ainda que dessa vez eu não seja mais o menino que chegava calado e saia mudo na escola.
E nunca reagi e foi por duas razões: obediência a meus pais e medo. Eu gostava de ser um bom filho, gostava da disciplina, me trazia segurança. Tudo que meus pais diziam virava lei pra mim e um dos pedidos era para eu não criar confusão na escola. Controlava minha boca com um silêncio incomum para um menino de 13 anos. Controlava minha violência colocando toda minha energia em um esporte solitário, a natação. Controlava minha cabeça estudando mais e, admito que a cada nota boa me sentia de algum modo superior — e, é claro que isso provocava mais ‘zoação’ da parte deles. Eu achava tudo muito injusto porque não era alguém do meu tamanho me agredindo, a maioria deles era fisicamente maior [do que eu]. Eu sentia medo e seguia calado. Abaixando a cabeça a cada insulto direto ou a cada insulto cochichado. Eu sentia raiva. Eu queria gritar e chutar e socar. Mas permanecia calado.
Claro que o corpo respondia provocando enjoos matinais antes de ir a escola. Tonturas, vômitos, dores de estômago e intestino solto. Hoje entendo que, de alguma forma, eu também era responsável por todo esse sofrimento. Vejam bem, não estou dizendo que eu provocava as ‘zoações’ ou os isentando de responsabilidade, mas era eu quem agregava parte do peso à elas, era eu quem creditava importância a tudo que me diziam. E é natural que eu fizesse isso porque a escola era meu mundo fora de casa, um mundo em que eu socializei muito pouco.
A questão é que me conheço mais agora e entendo que minha relação com essas memórias e pessoas é de mágoa e rancor. Não tenho vergonha nenhuma em admitir a existência deles. Assim como reconheço em mim o amor e carinho que nutro por outras pessoas. São todos sentimentos que formam parte de quem sou. Só que dessa vez não seguiria calado. Resolvi então deixar uma mensagem na foto do Facebook e disse que se eu fosse a esse encontro seria apenas para dar um belo soco na cada de cada um dos que me zoavam. Só por escrever isso me senti tão bem. Foi a primeira vez que deixei claro para eles o que senti e ainda sentia. Muitos deles me responderam. Mas já não importava. Alguns pediram desculpas. Mas já não importava. Outros disseram que éramos apenas crianças, que deveria relevar. Eu pensei: eu também era criança e nem por isso eu falava sobre como ele era gordo e beiçudo ou como o outro tinha uns gambitos ao invés de pernas ou como o outro que se achava um gatinho era feio pra dedéu. Eu era criança e não comentava sobre o jeito que alguém se movia, ou falava, ou sobre a voz ou se gostava de futebol, ou não. Eu era apenas uma criança que queria brincar e estudar. Mas já não importa. Não disse mais nada. A mágoa e o rancor tornaram-se apenas pena e indiferença. — Leandro Lopes, 35, escritor.
“Eu tinha uns 15 anos e estava no 2º ano do ensino médio. Nunca fui popular no colégio, mas sempre gostei de conhecer pessoas de outras turmas e ter muitos amigos. Certa vez, no final de uma aula de redação, uma amiga me chamou pra conversar e pedir pra que eu tomasse cuidado, pois tinham chegado nela pra dizer que eu era ‘sapa’. Nossa, meu mundo caiu nessa hora, eu fiquei arrasada. Acho que, até aquele momento, eu nunca tinha recebido uma notícia com tanto peso, nunca tinha ficado tão triste. Foi foda porque eu já tinha conversado com algumas pessoas próximas, mas não tinha chegado nem a me envolver com alguma menina. Era um assunto super delicado e meio difícil pra mim ainda. Antes disso, eu tinha percebido que algumas ~amigas~ tinham se afastado de mim, mas não entendia o motivo. Ficava me questionando se poderia ter errado com elas de alguma forma. Sei lá. Depois comecei a notar que além do afastamento, sempre que passava por elas nos corredores da escola, rolava um cochichado danado e muitas risadinhas. Foi uma época péssima pra uma adolescente insegura que mal tinha começado a se descobrir. Mas, AINDA BEM, que essa fase passa e as coisas melhoram com o tempo.” — Fernanda Furtado, 27, publicitária.
Estudei num colégio particular na Zona Norte de São Paulo bastante conservador. Tivemos uma viagem de formatura na oitava série e nessa viagem existia o ‘dia do trocado’, quando os alunos gays — eu não era o único — ganhavam mais visibilidade. Nesse dia, os meninos se vestiam de menina e as meninas se vestiam de menino. Sempre fui um garoto muito popular e muito expansivo, sempre soube me comunicar muito bem, só que a partir daí o bullying que eu sofria começou a ser mais agressivo, muito por conta da idade — aquela parecia ser uma idade em que as pessoas pareciam se incomodar mais com a minha sexualidade. A partir daí, vieram diversas formas de agressão e a viagem que durou 15 dias foi horrível pra mim. Os alunos homens começaram a me zuar, sempre fazendo provocação. Em conversas sobre sexo, por exemplo, sempre era dito coisas como: ‘Qual será o gosto de porra?’, e respondiam: ‘Pergunta pro Felipe que ele sabe como é”. Inclusive os monitores da viagem me zuavam. A partir daí, minha vida na escola passou a ser um inferno. Em todas as festas, eu era motivo de chacota — eles me chamavam de cowboy viado, tudo de diferente que fazia eles pegavam no meu pé, o que foi me deixando cada vez mais engessado. Uma coisa forte que faziam comigo era que qualquer vídeo de temática gay que ficava famoso no YouTube se transformava no meu estereótipo. Então, durante todo o resto do meu período escolar, eu torcia diariamente pra não ser zuado na escola. Uma coisa importante de dizer, é que o bullying não partia só dos alunos, como também dos monitores e dos professores. — Felipe Fachim, 25 anos, professor.
“Eu era 1º ano do colegial e no intervalo da aula costumava sair para lanchar perto do colégio. E nessa época, tinha uma garota, que fazia cursinho pré-vestibular, por quem eu tinha uma paixãozinha platônica. E na hora do intervalo eu e uma amiga costumávamos ficar perto da galera dessa menina — que eu chamava de ruiva — só porque eu gostava de ficar observando ela. Na mesma época eu também fazia ginástica olímpica depois do colégio e o centro de treinamento era perto da escola. Então, eu muitas vezes almoçava em algum restaurante por perto e ia para o CT. Num desses dias, encontrei no restaurante o pessoal da ruiva, enquanto eu almoçava sozinha e de lá fui andando para o CT. Foi quando percebi que o pessoal da ruiva estava atrás de mim. Um dos meninos correu e me segurou, me perguntando se eu estava afim da namorada dele, se eu era sapatão, por que eu ficava olhando pra ela. Eu não respondi nada, estava assustada. E ele me segurando pelos ombros, me sacudia e gritava — no grupo estavam ele, a ruiva, uma outra garota e mais três caras, enquanto eu estava sozinha. Aconteceu que o rapaz que estava me segurando me jogou no chão e me deu um chute no estômago. Lembro dele falando que ‘só não ia me ensinar a ser mulher porque eu era muito feia’. Então, os outros rapazes também me deram vários chutes, até que um deles pegou um saco de lixo que tinha na rua e rasgou em cima de mim com restos de comida. Ninguém na rua veio me ajudar, os passantes estavam parados, olhando. Eu só me encolhi e chorei. Depois de um tempo, um dos porteiros de um dos prédios da rua veio até mim e me ajudou a levantar, pegou minha mochila que estava no chão e me levou até o hall do prédio. Tomei um banho de mangueira pra limpar o lixo e fiquei por lá até a farda secar. Quando a roupa secou eu fui pra casa.
Nem sei o nome desse porteiro, mas agradeço muito a ele. Voltei pra casa sem contar o acontecido pra ninguém. Usei moletom comprido por mais de um mês pra que ninguém visse as manchas roxas no peito, no estômago. Também não fui pro campeonato da ginástica olímpica. Inclusive, saí da ginástica logo depois disso, dizendo que precisava me concentrar nos estudos. Só fui contar sobre essa agressão pra alguém em 2015, quando tive coragem de falar pra minha mãe.” — Shade Andréa, 29, relações públicas.
“Boa parte da minha infância no colégio foi marcada por homofobia, e dois episódios ficaram muito marcados em mim. Sempre fui uma criança muito afeminada, sempre andei com as meninas, não tinha nenhum amigo homem, não me encaixava no ‘padrão de menino’, gostava de brincar com coisas consideradas de menina. Eu me lembro que estava no colégio, na sala de aula da segunda série, tinha uns oito anos, e a professora pediu pra gente entregar a lição de casa. Eu estava na fila, esperando pra entregar minha tarefa, quando chegou a minha vez de entregar — porque ela corrigia a lição na hora —, e eu coloquei a mão na cintura e ela simplesmente deu um tapa no meu braço e desfez a minha posição dizendo na frente de todo mundo que eu não devia ficar com a mão na cintura por que aquilo era coisa de menina, que eu era um menino e não podia fazer aquilo. Isso me marcou muito e eu fiquei muito chocado porque foi a primeira vez que um adulto falou isso pra mim. Isso porque as crianças falavam coisas, mas nunca nenhum adulto tinha falado que aquilo estava errado.
A outra história que me marcou é que, dos 9 aos 14 anos, era a época que eu mais sofri bullying, era um pesadelo pra mim. O transporte escolar tinha criança e adolescente e acontecia muitos comentários maldosos. Me lembro de uma volta pra casa que uma vez, dentro do ônibus, todos falavam de mim, sobre eu ser ou não gay, decidindo por mim se eu era ou não gay. Na época, eu nem entendia o que era ‘ser gay’, foi bem horrível. Eu ouvia comentários como ‘claro que Pedro é viado, olha o jeitinho dele, ele está sempre com as meninas.’ Eu me senti muito triste aquele dia, só uma garota se prontificou a me defender, era uma garota mais velha que dizia: ‘Se ele for ou não for gay, ninguém tem nada a ver com isso.’” — Pedro Nekoi, 24, designer.
“Eu sempre tive mais interesse pelo chamado ‘mundo masculino’, o que incluia jogar bola, andar de skate, usar roupas tidas como masculinas, usar calças mais largas, coisa de skatista — e eu era muito do esporte. Não me enquadrava muito no grupo de meninas nem no grupo dos garotos, por ser mulher. Eu tinha 11, 12 anos, estudava em um colégio público em Brasília, e jogava futebol com os meninos. E o bullying que eles praticavam comigo rolava quando me chamavam de mulher macho, que eu só queria usar roupa de homem, não podia me vestir daquele jeito, não podia participar do time… Enquanto as meninas, por outro lado, cobravam que eu me arrumasse mais, usasse brinco, pulseira… Por atitudes como essas, cheguei a trocar de escola, fui para um colégio particular, e nesse novo universo de pessoas tentei me enquadrar, mas realmente eu não ficava à vontade. Ainda assim, foi aí também que eu comecei a ter um senso crítico em relação às pessoas, e decidi me sentir livre pra usar o que quisesse — afinal, não vou deixar de ser mulher porque estou usando uma roupa assim ou assado. Esse senso crítico me ajudou, eu comecei a me aceitar mais, percebi que eu não precisava deixar de ser eu mesma, e assim as pessoas começaram a me aceitar mais, me achar mais autêntica.” — Tássia Vitória, 26, cozinheira.