Na última quarta (14), saiu o novo volume da Hy Brazil. A série de coletâneas organizadas pelo produtor carioca Chico Dub chega à 9ª edição e é tipo um álbum da copa da música nova diferente brasileira. Só que ao invés de torrar sua grana em busca do zagueiro reserva do Azerbaijão, as figurinhas vêm todas coladas e você leva na faixa uma seleção com o que tem rolado de mais interessante nesse Brasilzão.
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Só pra contextualizar, a Hy Brazil surgiu em 2013 e tem mantido uma média de três edições por ano. As coletas se alternam entre explorar as novidades de cena experimental e esquisitona com uma galera cujo trampo de música eletrônica (em comparação) é um pouco mais pop — o caso nesta edição. Da ensolarada VÎOLA VÎOLA, do ÀTTØØXXÁ, até a claustrofobia cyberpunk de Caffeine, do BLQRS, o recorte mostra que, apesar das influências e estilos variados, o denominador comum dessa turma é uma produção de qualidade.
Talvez quem melhor sintetize essa história seja a produtora e DJ Amanda Mussi: “A Hy Brazil é superabrangente e faz um papel importante de registrar uma época”, diz ela. “Vai ser muito interessante de ouvir daqui uns 15 anos, por exemplo”.
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Pensando em registro de uma época, o Chico Dub avisou que o Vol. 10 será o último da série. Então rasga esse embrulho e vem com a gente ver o que tem dentro.
Pininga – “Duka, O Cyborg”
Se o Robocop do Padilha fosse bom, essa seria a trilha sonora. O Eduardo Pininga é prata da casa aqui do THUMP, mas o lance dele é mesmo tocar. O convite do Chico Dub para participar do Hy Brazil foi o incentivo que faltava pra concretizar sua primeira produção autoral. A faixa tem um clima industrialzão, com uma batida de funk reta escondida por trás. O nome entrega: Duka, apelido de Pininga, homenageou o paredão de funk carioca “Duda’s o Cyborg”.
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ÀTTØØXXÁ – VÎOLA VÎOLA
“VÎOLA VÎOLA” dá um gostinho do próximo disco do ÀTTØØXXÁ , o Rafa Dias. A música é levada pelo riffzinho clássico do pagodão, que você talvez conheça como swingueira ou axé. “Eu toquei pagode por um tempinho na adolescência e quis fazer uma ode a essa cultura”, conta Rafa.
TDRO – Euforia
Leonardo Teodoro continua a exploração do universo musical que criou no seu autointitulado primeiro EP. “Euforia” é um som minimalista, no qual os elementos individuais se sobressaem pouco frente à ambiência geral. Aqui, batidas que beiram footwork se juntam a uma massa sonora densa para criar um clima soturno.
Neguim Beats feat. Swinga – Exactly
O Swinga é repetente do Hy Brazil – participou do Vol. 7 junto com o Dorly. Em “Exactly”, ele colou com o prodígio goiano Neguim Beats em uma música que usa uma base meio future beats para dar um gostinho diferente à levada do funk paulista.
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Pigmalião – Exodus
Pigmalião é Daniel Lucas, o cara por trás da gravadora Frente Bolivarista, especializada em sons influenciados pela cultura latino americana. No entanto, “Exodus” parece atravessar meio mundo e ir buscar no oriente o tom dessa faixa arrastada, recheada de detalhes sutis.
MYMK – Wanderlust (But I Can Sail Through It)
Essa faixa foi pinçada pelo Chico Dub direto do primeiro álbum do MYMK, Jeopardy, que só será lançado no fim do mês. Segundo o Bruno Sres, que comanda o projeto, a música “esquisitinha é um momento de transição no meio do disco”. Para descrever o som, ele cita de brinks um termo que conheceu recentemente: “power ambiente”.
The Innernettes – Trailer
The Innernettes são Vinicius Cabral e Christian Bravo, de BH. Como você pode ver, eles gostam da internet e essa cultura de atenção limitada (oi tumblr) é a base do som deles. Com dois discos na praça, os meninos contaram que “Trailer” foi a primeira música composta quase que totalmente do zero, uma série de samples de VHS antigos sobrepostos a tecladinhos vaporwave. Funciona que é uma delícia, agora repita comigo: “O mar é uma velha mulher temperamental, linda e perigosa, que pode engolir a paixão dos mais românticos, ou naufragá-los numa noite de horror”.
Amanda Mussi – Eialo Hm feat. Marina Brito
Assim como o Pininga, a Amanda aproveitou o convite do Chico para botar na rua uma das suas primeiras faixas autorais. A música segue a linha musical explorada por Amanda em suas discotecagens house e techno, com uma pegada minimalista que resulta numa viagem hipnótica.
BLQRS – Caffeine
“Caffeine” é resultado de uma live session gravada no clube Lions, em agosto. A dupla BLQRS, Snoop e Bruno Belluomini (presente na Hy Brazil Vol. 4), apararam as arestas em 15 minutos e o resultado foi um som pesadão. “É imperfeito, incompleto, imprevisto. O tipo de som que acontece quando a gente toma muito espresso!”, conta Bruno.
Érica Alves – Teco no Rapé
“Teco no Rapé” foi inspirada por uma matéria que Érica assistiu no Instituto de Estudos Brasileiros da USP sobre canção popular e indústria cultural no Brasil entre 1930 e 1985. Acostumada a compor em inglês, a cantora e produtora explorou jogos de palavras em português sobre uma bossa nova eletrônica lo-fi.
Mimosas 31 – AMT Flash Mimastocina
O nome do projeto é o endereço onde os mineiros de Pouso Alegre Renan Modenese e Zé Rolê, o Psilosamples (Hy Brazil Vol. 1), moram em São Paulo. O Renan conta que as músicas dos dois são fragmentos e rascunhos e estão mais no campo da diversão entre amigos, sem muito compromisso com nada. Ainda assim, é impressionante como a faixa é bem acabada, com batidas sutis que lembram a eletrônica experimental dos anos 90.
Radiola Serra Alta – Mangaeiro
“Mangaeiro” é o cara que vende frutas na feira por conta própria, então a analogia com universo independente fica bem clara na música do Radiola Serra Alta, de Triunfo, no interior pernambucano. A dupla encarna as figuras de Careta e Veinha, brincantes que ocultam a identidade durante os dias de momo no carnaval, e segue o caminho aberto por Chico Correia (produtor do primeiro disco deles) na mistura de elementos culturais regionais com um acento eletrônico
Furmiga Dub – Madureira feat. Atômico MC
Fabiano Furmiga, figura central do Furmiga Dub, define seu som como cocostep: “Mistura de coco de roda com elementos ragga e dubstep”. Assim como o Radiola Serra Alta, o ponto de partida é o trabalho feito por Chico Correia e DJ Dolores, mas onde eles chegam são locais bem diferente.
Arthur Joly – Tempo Tuff
O cara é o mago dos sintetizadores, como a gente já te contou. Para a participação nesta edição do Hy Brazil, Arthur Joly produziu “Tempo Tuff” na bica da última hora. O resultado é um beatzão forte de drum and bass que conduz a viagem sintetizada.
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