A Igreja Batista do Pinheiro foi excluída da CBB por liberar o batismo de homossexuais

A Convenção Batista Brasileira (CBB) decidiu no último sábado (9) pela exclusão da Igreja Batista do Pinheiro (IBP) de Maceió do rol de templos afiliados por não concordarem com a decisão da igreja maceioense de aceitar o batismo de pessoas homossexuais. A decisão da Pinheiro foi feita em assembleia comunitária no dia no dia 28 de fevereiro e então publicada nas redes sociais do templo.

A inclusão não é uma discussão nova na Batista do Pinheiro. Desde 2005 o assunto começou a ser discutido com muita calma com a comunidade, que também define a decisão de diversas frentes da Igreja, conhecida pelo extenso trabalho social como a Pastoral da Negritude e a também uma corrente feminina organizada. “A Igreja Batista decide tudo através de assembleias. É a comunidade que decide, nunca é o pastor ou a diretoria da igreja, é sempre a comunidade por votação, ” explica a jovem R. Matias, de 23 anos, que frequenta a Igreja desde os 5 anos.

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Matias é lésbica, participa de muitas atividades da congregação e também ajuda na organização do templo. “Eu ajudo no louvor, toco percussão na igreja, eu faço um monte de coisa. Sou da juventude, já fui da adolescência. Eu sou muito ativa. ” Ela foi batizada na Batista do Pinheiro antes da discussão começar a circular pelas assembleias e, de acordo com ela, muito antes de ter a consciência da sua orientação sexual.

A inclusão de pessoas homoafetivas foi aceita quase por unanimidade pelos presentes. Foram 129 votos a favor, 15 abstenções e três contrários. “Foi algo feito com muita tranquilidade pela igreja”, relata Matias. Desde o momento da decisão, nenhuma pessoa foi ainda batizada, uma vez que as épocas de batismo costumam ser no começo e no meio do ano. “Inclusive, estamos próximos já dessa época de batismo”, lembra a jovem.

A ata da assembleia do dia 28 de fevereiro foi divulgada normalmente nas redes sociais do templo do Pinheiro, que rapidamente sofreu ataques virtuais pela posição “polêmica”. Segundo Matias, muitas pessoas se manifestaram favoráveis ao templo, mas também muitos internautas escreveram mensagens de ódio. Ela mesma não quis ser identificada por temer represálias. “Tem muito evangélico e muita gente que não é de igreja que não gosta de gente, ” disse.

“Nosso cunho social é bem forte e bem histórico. A gente já teve nossa atenção chamada algumas vezes justamente por causa disso, especialmente porque a gente começou a falar com outras vertentes, ” conta Matias.

Em resposta à decisão da CBB, o templo do Pinheiro lamentou o caso e publicou uma carta aberta nas redes sociais. “(…) ficamos perplexos com chistes inconvenientes, acusações infundadas, desrespeitosas, ameaças descontroladas vindas de irmãos e irmãs de fora, inclusive de pastores e líderes eclesiásticos, que atingem a igreja como um todo, mas de modo mais contundente a família pastoral. Mas mais perplexos ainda ficamos com a notícia de que a Convenção Batista Brasileira se preparava para instaurar um processo disciplinar, cujo objetivo era excluir sumariamente a Igreja Batista do Pinheiro de seu rol de igrejas filiadas.”

A IBP recebe, em média, 700 pessoas e é comandada pelo Pastor Wellington dos Santos, que já relatou ter recebido ataques pela internet junto com sua mulher, também pastora, Odja Barros, por concordarem com a inclusão de LGBTs na igreja.

Procurado, o pastor preferiu não se manifestar nesse momento sobre o caso e que prefere reservar o momento para a reflexão e evitar que o extenso trabalho da igreja não seja projeto apenas por essa questão. A CBB também foi procurada pela VICE e não respondeu até a publicação desta reportagem. Em abril, a Convenção publicou um comunicado repreendendo a Pinheiro, alegando que “não somos a favor de qualquer tipo de discriminação, mas nos reservamos o direito constitucional de discordar da prática homossexual”.