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Já Paramos com Esse Negócio de Odiar as Kardashians?

Cartas na mesa: originalmente esse artigo inteiro se focava no comentário “escroto” que Sinead O’Connor fez há algum tempo, sobre Kim Kardashian West aparecer na capa da edição anterior da Rolling Stone – peitos estourando para fora de sua roupinha fake de marinheira. Contudo, há algo muito maior acontecendo, que ofusca completamente a mais recente tentativa de Sinead O’Rebellion de se manter relevante: as pessoas talvez realmente gostem da Kim Kardashian.

O caminho foi acidentado para nossa estrela favorita de sex tape transformada em supermulher, e para sua família. Como a líder, Kim sempre foi aquela mina do colégio que fazia um “tsc” baixinho enquanto ela rebolava pelo corredor, mas quando te dizia um “oi”, você ficava todo sorridente, pensando: “Porra, odeio ela ser tão bonita e legal assim.” Vocês todos já conhecem a história. Kim era a morena misteriosa melhor amiga de Paris Hilton, e filha do falecido advogado de defesa de O.J. Simpson, Robert Kardashian. Sua mãe, Kris Jenner, casou-se com o campeão olímpico Bruce Jenner, e suas famílias combinadas fizeram o Brady Bunch parecer um orfanato destruído. Em 2007, uma sex tape de quatro anos com Ray “Irmão do Brandy” J apareceu, fazendo com que Kim optasse pelo que qualquer empreendedor iniciante optaria: arranjar para si um reality show no E!, chamado Keeping Up with the Kardashians. Desde então, a Kardashianmania não parou mais.

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No decorrer dos últimos oito anos pudemos ver um trio de críticas em camadas, feitas especialmente contra Kim, e bem, por que não? Foi ela quem jogou essa família em cima da gente. No caso de Kim, as críticas podem ser encaixadas em uma das seguintes categorias: A) a sex tape, B) suas numerosas cirurgias plásticas, ainda que esteticamente bem-sucedidas, ou C) sua superexposição. Já li um monte de notícias e numerosos comentários feitos a respeito de Kim nas mídias sociais, e tudo de negativo cai em algum desses três baldes. Você é um troll de caixas de comentário que gosta de chamá-la de piranha? Então você, meu amigo, cai na categoria A. Você só acha que ela “é muito fake”? Categoria B, é claro. Simplesmente não aguenta mais essa mulher e sua família (que inclui Kanye West)? Categoria C. Essas são as gotas incessantes na tempestade de merda que gira em volta de Kim K desde que ela saiu da sombra de Ray J e se transformou em uma potência independente e invencível.

Mas eis o porém: quanto mais você dá existência a essas coisas, falando ou escrevendo, mais comprova sua discreta adoração por ela.

Kim Kardashian West atualmente vale mais de US$85 milhões. Ela virou a figura central de seu próprio programa de televisão e de todos os seus três mil spinoffs, tem lojas DASH por todo o país, linhas de roupas, pequenas participações em filmes com os quais ninguém se importa, mas também foda-se, ela não trabalhou de graça, linhas de cosméticos, roupas infantis, e lançou um livro inteiramente composto de fotos – tiradas por ela mesma – de seu próprio rosto, e as pessoas compraram. E ela trouxe consigo todas as irmãs (e Kris e Caitlyn). Ela sobreviveu ao fracasso do casamento de 72 dias com Kris Humphries – que ocasionou a maior quantidade de críticas, depois da sex tape – e então se casou com a figura mais polêmica da música, e é mãe de um dos seus filhos, e, sim, todos sabemos que atualmente está preparando o próximo. A audiência de KUWTK teve seus altos e baixos, com uma queda significativa no início deste ano, antes de ganhar novo gás graças a Caitlyn Jenner, mas ligue no E! neste instante, e provavelmente verá um episódio sendo reprisado, e a sra. Kardashian West recebe por cada uma dessas reprises.

E voltemos nossas lentes para Khloe, a irmã de cujos poros vaza toda uma atitude de “estou pouco me fodendo”. Koks foi quem sempre desafiou todas elas na televisão. Ela manda polêmicas gírias de marinheiro grosseirão, vai para a cama com rappers e não pede desculpas, e aponta o dedo para as cirurgias plásticas alheias como se fosse a médica de Lisa Rinna. Complex selou seu destino como a mina mais sangue nozóio, com ela sendo brutalmente sincera a respeito de tudo de que a mídia procura se aproveitar. Ela fez como Eminem em 8 Mile, naquela última cena de batalha, onde ele derrama todas as suas inseguranças de modo que nada sobra para ser denunciado pelos haters. Ao dizer o que bem entende (inclusive de certa forma defender um romance da menor de idade Kylie com Tyga), ela representa a menina comum que quer falar como um caminhoneiro. Ela é nossa nova Samantha Jones. Lide com isso.

As coisas certamente estão mudando para as Kardashians. Na medida em que a vida pessoal de Kim vai se estabilizando, os outros membros da família herdam um pouco da atenção. Kendall e Kylie são as novas garotas do momento, cujas vidas a internet adora colocar sob um microscópio, enquanto Khloe ainda é criticada pelas decisões que tomou na vida, e a fracassada parceria doméstica de Kourtney com Scott “Lord” Disick fez os cachorrinhos da mídia entrarem em frenesi. Kim hoje é quase secundária – embora o apoio que prestou publicamente a Caitlyn Jenner tenha lhe rendido uma quantidade imensa de elogios.

A matriarca do império Kardashian ainda recebe sua porção de ódio dos trolls. Um exemplo acabou de pipocar, em que Kim aparece fazendo North West frequentar aulas de alongamento e aeróbica infantil, mas as manchetes projetaram uma história diferente. “Kim Contrata Personal Trainer para North West” foi como torceram a verdade. E sim, ela posou nua para a Paper e a Love, mas parte de sua marca registrada parece ser posar seminua para fotografias, e em se tratando de uma mulher que luta ativamente contra a psoríase, deve ter alguém por aí que se sente inspirado por essa nudez. É uma montanha-russa do bem contra o mal, para a qual todo mundo compra ingresso.

Se você é um dos aparentemente muitos que ainda odeiam Kim e as Kardashians, uma pergunta que deve se fazer é: por que elas incomodam tanto você? Uma sex tape que agora já tem 12 anos e supostos implantes na bunda não são motivos razoáveis, quando praticamente uma em cada duas pessoas nos EUA hoje tem uma coisa ou fez a outra, ou os dois. Agora é um pouco tarde para fingir que despreza uma mulher que já mostrou que tem o poder de continuar com sua família e com os seus trabalhos com bastante firmeza, considerando a cama de dinheiro sobre a qual ela dorme. Kim começou com uma câmera de mão e agora está com um jatinho particular. #Objetivodevida é isso aí.

Então, talvez seja hora de cessar o fogo contra esse ícone da cultura pop e seu esquadrão. Sua celebridade já ultrapassou a de Paris Hilton, a primeirona das “conhecidas por serem famosas” – a qual, aliás, também tentou usar de uma sex tape e fracassou miseravelmente. Nesse estágio da carreira de Kim K, ou você a ama, ou você ama odiá-la. O lance é o seguinte: de um jeito ou de outro, é tudo amor.

Kathy Iandoli ficou de boa com o single de Kim Kardashian, “Jam (Turn It Up). Ela está no Twitter – @kath3000.

Tradução: Marcio Stockler